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Policial é suspenso no Peru após retratar invasão à casa da presidente em bolo de aniversário

Coronel Harvey Colchado liderou a busca na residência de Dina Boluarte no escândalo conhecido como 'Rolexgate'

Agência O Globo - 16/04/2024
Policial é suspenso no Peru após retratar invasão à casa da presidente em bolo de aniversário

Duas semanas após as buscas na residência da presidente peruana Dina Boluarte como parte da investigação que ficou conhecida como Rolexgate, o coronel que liderou a operação, Harvey Julio Colchado, foi temporariamente suspenso do cargo por retratar o episódio na decoração do seu bolo de aniversário. Chefe da Divisão de Crimes de Alta Complexidade (Diviac) pela Inspetoria da Polícia Nacional do Peru, ele foi alvo de um processo administrativo disciplinar por infrações consideradas "muito graves", e pode ficar até dois anos afastado do serviço.

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O episódio aconteceu na última quinta-feira (11), quando Colchado comemorava seu aniversário de 50 anos. Durante o dia, ele compartilhou no status do WhatsApp a imagem de um bolo temático em que mostra um policial forçando a abertura de uma porta, uma cena comum na sua rotina à frente da Diviac.

À noite, um programa no canal peruano Willax mostrou a imagem, relacionando com a cena da busca feita na casa da chefe de Estado na Sexta-feira Santa. "Colchado comemora aniversário e zomba da presidente", foi o título do programa.

De acordo com a divisão para onde Colchado trabalha, o programa deu projeção a questionamentos sobre a a operação.

"Sob todos os pontos de vista e bom senso, é condenável e absolutamente irresponsável, faltando com respeito e consideração ao alto cargo ocupado pela Boluarte", afirmam os documentos da organização. "A imagem em questão foi replicada através de diferentes redes sociais, gerando dezenas de opiniões negativas que denigrem a imagem da PNP."

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A defesa do coronel sustenta que o tema do bolo — oferecido por sua equipe — não faz alusão ao ataque a chefe de Estado e que, de qualquer forma, a decoração não deveria merecer uma investigação, muito menos uma sanção.

— Não se trata de uma zombaria da presidente, ela não o apresentou à mídia e a interpretação de um jornalista não significa dano à imagem institucional — diz o advogado Stefano Miranda.

O afastamento temporário como chefe da Diviac provavelmente limitará a assistência que Harvey Colchado prestou à Equipe Especial de Promotores contra a Corrupção no Poder (Eficcop). As equipes acompanham de perto as investigações do irmão do presidente, Nicanor Boluarte, bem como dos ex-presidentes Pedro Castillo e Martín Vizcarra, e da ex-procuradora nacional Patricia Benavides, entre outras figuras políticas.

Harvey Colchado tem um longo histórico dentro da força policial. Ele participou da captura de Florindo Flores Hala, um terrorista peruano e traficante de drogas, apelidado de "Camarada Artemio". Também comandou a prisão de Pedro Castillo que impediu seu asilo na embaixada mexicana após sua tentativa fracassada de autogolpe. A busca na casa de Dina Boluarte foi o último de seus procedimentos mais notórios.

A suspensão foi rejeitada por Marita Barreto, promotora coordenadora do Eficoop, que alega que se trata de uma vingança contra o coronel por investigar os tentáculos da corrupção.

— É uma vingança dos poderes constituídos. Estão o deixando de mãos atadas — disse ela.

Nesta segunda-feira, Colchado entrou com um pedido para anular a suspensão temporária da Diviac. Sua reintegração, no entanto, é incerta.