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Um caso de amor (de uma paulistana) com o Rio de Janeiro; veja história

A história de encantamento de uma turista que desfruta das belezas e charmes da Cidade Maravilhosa

Agência O Globo - 11/04/2024
Um caso de amor (de uma paulistana) com o Rio de Janeiro; veja história
A história de encantamento de uma turista que desfruta das belezas e charmes da Cidade Maravilhosa - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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As histórias selecionadas pela nossa equipe serão publicadas a cada 15 dias na versão digital (às quintas-feiras) e impressa (aos sábados) do jornal. Não é preciso ser escritor, apenas ter um conteúdo verdadeiro, vivido por você e com emoção genuína. Qualquer tipo de amor vale a pena!

Confira a história desta semana, enviada por Evelyn Gasparetto:

"Não conheço alguém tão ‘apaulistanada’ como eu, pelo jeito e pelo estilo. O sotaque e meu comportamento ligam-me diretamente à cidade natal. É preso às vísceras, arraigado às entranhas, característico em cada gesto, nas situações que se apresentam. Mas isso jamais impediu de amar o Rio de Janeiro.

A primeira vez que vi a cidade, era uma menina, fui com o meu pai, só uma tarde, em breve voltaríamos para casa. O primeiro lugar que pedi para ir foi ao Aterro do Flamengo. Para mim, a Baía de Guanabara tinha um significado especial. E Aterro do Flamengo é um nome que já remete aos cariocas.

E os cariocas, com suas peles bronzeadas, o andar gingado e a liberdade com que dispõem da natureza que está ao seu dispor, é de causar orgulho a todos. O desfile nos mais de quatro quilômetros de calçadão deixa qualquer paulistano com água na boca. Do Leme ao Forte de Copacabana, transeuntes desfrutam da praia mais famosa do mundo!

Umas das minhas maiores atrações era o sotaque. Como são gostosos os X, S e R puxados e característicos, “Não é merrmo, meu irrmão?”

Já na segunda vez, fiquei por uma semana na Rua Duvivier. Quanta galhardia! Dessa vez, fui a todos os pontos turísticos: bondinho, à Barra, assisti a artistas jogando futevôlei, visualizei o Maracanã de cima do Redentor, e jantei no São Conrado Fashion Mall. Que tamborilar mais suave entre as sílabas, refinamento da junção das palavras que formam com esmero a nomenclatura sua diferenciada. Para chegar lá, passei pelo Vidigal, todo mundo sempre ouve falar da Rocinha, que é enorme e majestosa, mas o Vidigal, sempre fez parte da minha curiosidade.

A surpresa maior, aconteceu na tarde seguinte, estava em Ipanema. Nada mais descolado que isso! Sentada com meu guarda-sol amarelo, fui surpreendida por uma galera que chegou com almofadas coloridas e esteiras decoradas, para armar bem ao meu lado uma festa surpresa.

Um deles se destacou do grupo e se aproximou me pedindo desculpas pela invasão, por ter atrapalhado o meu sossego. Imagina! Quem é que quer sossego indo tomar sol em Ipanema? Despediu-se, dizendo que eu somente contribuía para o cenário da festa. Ouvia-se violão, eram vários amigos no refinado estilo praia carioca, acessórios dos mais variados, cores berrantes que combinavam com o astral do povo que fala biscoito em vez de bolacha.

Na penúltima vez, hospedada na Lagoa, o lugar mais do que elegante do litoral fluminense. De manhã, vi o treinamento de remo do clube do Flamengo, com a Pedra da Gávea ao fundo.

Livre dos pontos turísticos, proporcionei-me o luxo de fazer exatamente o que queria na terra abençoada por São Sebastião. Fui visitar a livraria do Leblon, e o lance charmoso foi escolher livros, andar pela loja, ver pessoas e degustar um cafezinho.

No dia seguinte, não à estátua concebida por Heitor da Silva Costa, um dos símbolos mais conhecidos do mundo, fui para Copacabana. No caminho, uma filmagem de cinema, e mesmo sem perceber, tive a grata preferência de ser figurante, transitando pela orla. Passei pelo Arpoador, fiz reverência às autoridades do forte, dei olá ao Carlos Drummond e segui para Botafogo.

A sensação de estar ao sol em plena Avenida Atlântica, olhando o mar, é um néctar para quem ama o Rio como eu, e, virando a cabeça, vê-se o Copacabana Palace. Uma magnitude adornada com areia e maresia, é o concreto do que sempre se falou no mundo, edificação fosforescente, dos tradicionais bailes de carnaval, onde morou Jorginho Guinle e onde ficam hospedadas as pessoas mais famosas da Terra.

Bati a mão nas pedras do Forte e voltei, parando somente no Posto 9. Quem não se sente no centro do mundo nesse lugar?

Chegando o fim do dia, segui rumo ao Jardim Botânico, aproveitando da parte interna que a capital podia me fornecer. Já no destino, deparei-me com a alameda de palmeiras, podendo me sentir numa novela de Manoel Carlos. Curti tudo e aproveitei a exposição de Salgado. Tudo deslumbrante!

Cansada, mas muito satisfeita com as investidas inversas no turismo, resolvi que não me renderia ao físico, e parti seguindo corretamente o que indicavam os rangidos das pronúncias, diante das minhas dúvidas geográficas, me surpreendi ao ver a Rua Saturnino de Brito; e quem não conhece? Era o destino das cartas daquela que mandava um beijinho pro papai, pra mamãe e pra você.

No caminho de volta, vi a Lagoa no final da tarde, babás no parquinho do Cantagalo, o brilho do sol se extinguindo nas águas, e o trânsito já se modelando. Curti a última noite no Astor, o bar paulistano recriado em Ipanema, curtindo a hospitalidade do Rio.

No dia seguinte, ponte aérea no Tom Jobim para a Pauliceia desvairada, com vislumbres de regalo junto à memória, a volta é tão linda quanto a chegada, deixei para trás a promessa de voltar para um carnaval, e a nostalgia de uma das belezas mais encantadas da natureza, que fez questão de caprichar, dando-nos de presente a perfeição para a capital que foi acertadamente escolhida como a Cidade Maravilhosa".

por Evelyn Gasparetto