Internacional
Bangladesh abre mesquita para comunidade Hijra transgênero
Comunidade vem ganhando espaço no país, mas ainda sofre preconceito em mesquitas comuns
Expulsas de outros cultos de oração, as integrantes transgênero da comunidade Hijra de Bangladesh agora poderão ser recebidas em uma nova mesquita na nação de maioria muçulmana, com a promessa de adoração sem discriminação.
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A estrutura humilde – um galpão de um único cômodo com paredes e um telhado revestido de estanho – é um novo centro comunitário voltado para pessoas trans. A comunidade que têm recebido maior reconhecimento jurídico e político no país nos últimos anos, mas ainda sofre com preconceitos arraigados.
– De agora em diante, ninguém pode negar uma Hijra de orar em nossa mesquita – disse a líder da comunidade, Joyita Tonu, em um discurso à congregação lotada. – Ninguém pode zombar de nós – acrescentou a jovem de 28 anos, visivelmente emocionada, com um lenço branco cobrindo o cabelo.
A mesquita, que fica perto de Mymensingh, ao norte da capital Daca, nas margens do rio Brahmaputra, foi construída em terras doadas pelo governo depois que a comunidade Hijra da cidade foi expulsa de uma congregação estabelecida.
– Eu nunca sonhei que poderia orar em uma mesquita novamente em minha vida – disse Sonia, de 42 anos, que quando criança adorava recitar o Alcorão e estudou em um seminário islâmico.
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Mas quando se assumiu como Hijra, como mulheres trans no sul da Ásia são comumente conhecidas, ela foi impedida de orar em uma mesquita.
– As pessoas nos diriam: 'Por que vocês Hijras estão aqui nas mesquitas? Vocês devem orar em casa. Não venham às mesquitas'. Foi vergonhoso para nós, então paramos de ir – disse Sonia, que usa apenas um nome, à AFP. – Agora, esta é a nossa mesquita. Agora, ninguém pode dizer não para nós.
'Como qualquer outra pessoa'
A comunidade Hijra tem se beneficiado com o crescente reconhecimento legal em Bangladesh, que desde 2013 permitiu que os membros se identificassem oficialmente com esse gênero. Várias delas entraram na política do país: em 2021, uma mulher transgênero foi eleita prefeita de uma cidade rural.
Mas as Hijra ainda lutam por reconhecimento e aceitação, reivindicando direitos básicos, como propriedade e casamento. Elas também são frequentemente discriminadas em seus empregos e são muito mais propensas a serem vítimas de crimes violentos e de pobreza do que outros cidadãos.
Grupos islâmicos linha-dura também atacaram o reconhecimento de transgêneros bengalis em livros escolares, liderando comícios para exigir que o governo não os inclua no currículo.
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Mufti Abdur Rahman Azad, fundador de uma instituição de caridade Hijra, disse à AFP que a nova mesquita foi a primeira de seu tipo no país. Um esforço semelhante planejado em outra cidade foi interrompido no mês passado após um protesto dos moradores, acrescentou. Dezenas de mulheres Hijra locais doaram tempo e dinheiro para construir o Dakshin Char Kalibari Masjid para o Terceiro Gênero, que abriu este mês.
Também foi criado um cemitério voltado para a comunidade, após um cemitério muçulmano local ter se recusado a enterrar uma jovem Hijra dentro de seus terrenos, no ano passado.
O sacerdote da nova mesquita, Abdul Motaleb, de 65 anos, diz que a perseguição da comunidade Hijra é contra os ensinamentos de sua fé.
– Elas são como qualquer outra pessoa criada por Allah – disse o clérigo à AFP.
'Ninguém pode ser negado'
– Todos somos seres humanos. Talvez alguns sejam homens, alguns são mulheres, mas todos são humanos. Allah revelou o Corão Sagrado para todos, então todos têm o direito de orar, ninguém pode ser negado – continuou ele.
Motaleb disse também que outros bengaleses poderiam aprender com a fé e a força da Hijra.
– Desde que estou aqui nesta mesquita, fiquei impressionado com seu caráter e ações – disse ele.
A nova mesquita já está desconstruindo preconceitos. O morador Tofazzal Hossain, de 53 anos, foi ao local fazer suas orações na sexta-feira, pela segunda semana consecutiva. Ele disse que viver e orar com a comunidade Hijra mudou seus "equívocos" sobre elas.
– Quando começaram a viver conosco, muitas pessoas disseram muitas coisas. Mas percebemos que o que as pessoas dizem não é certo. Elas vivem corretamente como outros muçulmanos – disse à AFP.
A líder Tonu espera expandir a mesquita simples para que possa ser grande o suficiente para atender mais pessoas.
– Se Deus quiser, faremos isso muito em breve. Centenas de pessoas vão poder orar juntas – disse ela à AFP.
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