Internacional
Reajuste do imposto sobre o carbono eleva tom de críticas ao primeiro-ministro do Canadá
A cerca de um ano e meio das eleições, oposição tenta crescer com insatisfação dos eleitores; Justin Trudeau alega que medida é necessária para combater crise climática
O crescente descontentamento contra o imposto sobre o carbono, uma medida prioritária para o governo do Canadá, está tornando cada vez mais difícil para o premier Justin Trudeau impor sua política de “aqueles que contaminam mais devem pagar”.
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O aumento da inflação e a alta da oposição conservadora nas pesquisas, que promete eliminar o imposto se retornar ao poder nas eleições previstas para o ano que vem, abalaram a política ambiental em vigor desde 2019.
Nos últimos meses, o próprio Trudeau deu sinais de fraqueza, ao permitir uma exceção e isentar da cobrança o aquecimento a gás por três anos.
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O imposto sobre o carbono é a principal medida adotada por seu governo para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em algo entre 40% e 45% até 2030, como parte do compromisso do país junto ao Acordo de Paris, de 2015.
A partir de abril, o imposto cobrado sobre cada tonelada de carbono emitida passará de C$ 65 (R$ 241,30) para C$ 80 (R$ 296,99). A estimativa é de que o preço da gasolina tenha uma alta de até C$ 0,03 (R$ 0,11).
Inflação x corte de emissões
Sete províncias já pediram a suspensão ou o cancelamento da medida. Em Terranova, controlada por um aliado de Trudeau, as autoridades locais pediram que Ottawa espere “ao menos até que a inflação se estabilize” para aumentar o imposto.
O descontentamento hoje beneficia o principal rival do premier do Partido Liberal nas eleições do ano que vem, o conservador Pierre Poilievre, que tornou o fim do imposto sobre o carbono uma de suas principais bandeiras de campanha.
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Um caso específico, o de uma empresa de produção de cogumelos em Osgoode, na província de Ontario, se tornou uma espécie de símbolo do que a oposição chama de “desastres” causados pelas políticas de Trudeau.
Seu responsável, Mike Medeiros, disse que não conseguirá absorver o aumento de 23% do imposto — a empresa, que tem 160 funcionários e produz 90 toneladas de cogumelos semanalmente, é uma grande consumidora de gás natural.
— Em 2030, nossos custos apenas com calefação chegaram a meio milhão de dólares [canadenses]. Não tenho como absorver — disse Medeiros à AFP´.
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Em uma mensagem às províncias, na terça-feira, Trudeau explicou que o imposto sobre o carbono “é a forma mais eficaz para reduzir as emissões”, e que ele só corresponde a 0,1% no cálculo da inflação.
— A maioria dos canadenses recebe descontos sobre seu consumo de carbono, o que significa que recebem mais dinheiro do que pagam, [enquanto] os efeitos devastadores das inundações, dos incêndios florestais e das secas elevam os custos a cada ano [para todos] — declarou Trudeau.
Segundo o instituto Angus Reid, o custo de vida no Canadá está entre as maiores preocupações da população (56%), à frente da luta contra as mudanças climáticas (31%). Cerca de 40% defendem o fim do imposto sobre o carbono, ao mesmo tempo em que apenas 27% concordam com a fórmula do governo para o reajuste. .
Devido à sua localização geográfica, o Canadá está esquentando mais rapidamente do que outros lugares do planeta, e enfrentou fenômenos meteorológicos extremos cuja intensidade e frequência estão cada vez maiores por causa das mudanças no clima. Em 2018, uma onda histórica de incêndios devastou mais de 18 milhões de hectares de mata nativa.
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Para Lori Turnbull, professora de Política na Universidade de Dalhousie, as próximas eleições não serão vencidas com um discurso pautado pelo clima.
— Nós sentimos a pressão no supermercado, nos postos de gasolina, no aluguel ou nas hipotecas, e um aumento do imposto sobre o carbono pode dar a impressão de que o governo está fazendo ouvidos moucos sobre essa crise — observou.
Ao mesmo tempo, os defensores do meio ambiente apontam que Ottawa adotou mais de 10 planos climáticos desde 1990, mas nenhum teve sucesso, e o país segue como um dos maiores emissores per capita de gases do efeito estufa. Segundo as últimas estimativas do Instituto do Clima do Canadá, publicadas em 2022, as emissões do país, o quarto maior produtor mundial de petróleo, jamais tiveram uma queda sequer.
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