Internacional

Fazendeiros do Quirguistão criam geleiras artificiais para salvar o gado

A ideia é uma tentativa de defesa contra as secas e degelo, consequentes do aquecimento global

Agência O Globo - 05/03/2024
Fazendeiros do Quirguistão criam geleiras artificiais para salvar o gado

No majestoso maciço de Tian Shan, no nordeste do Quirguistão, os fazendeiros locais criaram geleiras artificiais, como reservas para as secas recorrentes. Segundo um dos trabalhadores locais, agora não há mais problemas com água na região.

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Em cima de um monte de gelo com cerca de 20 metros de comprimento e cinco de altura (no auge do inverno a altura pode chegar até 12 metros), Erkinbek Kaldanov, preocupado com suas ovelhas depois de anormais picos de calor no ano passado, acredita que esse ano será menos difícil.

— Quando a geleira artificial derreter, haverá água para dar de beber ao gado e irrigar as terras de Syn-Tash — comentou Kaldanov.

Para levantar esta pequena colina de gelo, toda população trabalhou durante duas semana no outono, para desviar o curso de água de um riacho que surge de 4 mil metros de altura do Tian Shan, no norte do Quirguistão.

Esse esforço não teria sido necessário se não fosse a desaparição contínua das geleiras naturais da Ásia Central, o principal recurso hídrico da região, sob o efeito das mudanças climáticas.

Segundo um estudo publicado na revista Science, no ano passado, a aceleração do degelo das geleiras, especialmente no Quirguistão e Tajiquistão, chegará ao seu pico entre 2035 e 2055. A isso, deve-se somar a falta de neve, também devida ao aumento das temperaturas, que não permitem que elas se regenerem.

Efeitos da falta d’água

A magnitude do problema é evidente nas imagens por satélite e é recordada regularmente pela ONU. Todos os países da zona são afetados, o que alimenta os conflitos latentes entre os Estados da Ásia Central, que dependem de um complexo sistema de repartimento de água, herdado do período soviético e hoje obsoleto.

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— O aquecimento global afeta também a Ásia Central. Há menos água a cada ano, as capas freáticas se esvaziam, as fontes se secam e temos problemas com as pastagens — resume para à AFP, Aidos Yzmanaliyev, porta-voz dos fazendeiros de Syn-Tash.

É urgente encontrar soluções, visto que a agricultura representa cerca de 10% da frágil economia do Quirguistão e dois terços da sua população vivem em zonas rurais. No norte do país, os problemas de água já provocaram tensões sociais.

— Nosso principal objetivo é proporcionar água ao gado, porque a maioria dos 8.400 habitantes das comunidades de Syn-Tash, são agricultores ou fazendeiros — explica o dirigente local, Maksat Dzholdoshev.

— Planejamos construir mais dois ou três geleiras artificiais, mais para irrigar as terras aráveis — acrescenta Dzholdoshev.

Conceito simples

Segundo Aidos Yzmanaliyev, a ideia de construção das geleiras artificiais é relativamente simples e seu custo é baixo, cerca de 550 mil soms (por volta de 30 mil reais).

— Além de fornecer água líquida à sua fonte, a geleira também reduz a temperatura ambiente e emite umidade, que é transmitida à vegetação dos arredores — explica o porta-voz.

Essa técnica, criada no Himalaya indiano, ainda não se espalhou para o mundo, exceto no Chile e Suíça. Foi introduzida no Quirguistão em 2020, por Abdilmalik Egemberdiyev, chefe da Associação quirguiz de usuários de pastagens.

— Atualmente temos 24 geleiras artificiais no país e outras serão criadas — afirma o chefe.