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Quem é Darryl George, estudante negro impedido de frequentar a escola com dreads nos EUA

Desde agosto, o jovem é proibido de comparecer às aulas por uma determinação do colégio que proíbe alunos do sexo masculino de adotarem cortes de cabelo que ultrapassem as sobrancelhas ou as orelhas

Agência O Globo - 23/02/2024
Quem é Darryl George, estudante negro impedido de frequentar a escola com dreads nos EUA

Há seis meses, o estudante Darryl George, de 18 anos, é impedido de frequentar as salas de aula da escola pública de Barbers Hill, em Mont Belvieu, no estado americano do Texas. O motivo é o uso de dreadlocks no cabelo. Segundo as regras da instituição de ensino, a única no distrito onde vive, alunos do sexo masculino não podem adotar cortes que ultrapassem as sobrancelhas ou lóbulos das orelhas. George entrou com um processo na Justiça por discriminação após o caso, mas, na quinta-feira, o juiz à frente da ação deu um parecer desfavorável ao rapaz.

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— Espero poder voltar a ser um garoto, começar a viver minha vida, voltar a jogar futebol e curtir o meu ano letivo, estou nos meus últimos anos no ensino médio — disse George à Associated Press em outubro do ano passado.

A história começou em agosto de 2023. Na época, o garoto se recusou a cortar o seu cabelo e foi imediatamente suspenso da escola. Dois meses depois, após tentativas de acordo entre sua mãe e a instituição de ensino, George foi liberado para voltar às aulas, mas, como não havia cortado o cabelo, acabou suspenso novamente e segue afastado até hoje.

— Eu amo o meu cabelo, ele é sagrado para mim, é a minha força — disse em entrevista coletiva.

Segundo o jovem, os dreads foram uma forma que ele encontrou de buscar conexão com a sua ancestralidade. Por isso, além de considerar precioso, ele afirma não estar disposto em cortá-lo.

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Além de ter sido suspenso da sala de aula, o jovem foi obrigado a frequentar um programa disciplinar. O estudante de ensino médio decidiu, então, processar o Distrito Escolar Independente de Barbers Hill com base na lei CROWN, que considera ilegal a discriminação em empregos e escolas pela forma como se usa o cabelo associada à raça, seja pela textura natural ou pelo uso de penteados que protejam o cabelo.

De acordo com um juiz local, que deu um parecer favorável à escola, a lei não aborda a questão das extensões de cabelo. Segundo informações da imprensa local, o magistrado afirmou que não cabe a ele reescrever a legislação.

— Não vou lhes dizer que essa foi uma decisão fácil de tomar — disse o juiz Chap B. Cain III, incentivando a família a "voltar ao Legislativo ou voltar ao conselho escolar, porque a solução que vocês buscam pode ser obtida em qualquer um desses órgãos".

Na saída do tribunal, a porta-voz da família, Candice Matthews, falou com a imprensa. Segundo ela, George deixou a corte em prantos. Ele não falou com a imprensa após a audiência.

— Tudo por causa do meu cabelo? Não consigo estudar por causa do cabelo? Não posso estar perto dos meus colegas e aproveitar o ano escolar por causa do meu cabelo? — disse o rapaz após a decisão.

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Os funcionários da Barbers Hill negam a discriminação e disseram que, por razões religiosas, concederam exceções para que os estudantes afro-americanos possam usar cabelos compridos. Allie Booker, advogada de George, disse à imprensa que eles apelarão para um tribunal federal.

Greg Poole, superintendente do Distrito Escolar Independente de Barbers Hill, disse em uma declaração enviada por e-mail ao New York Times que a decisão "validou nossa posição" de que o código de vestimenta não viola a lei estadual, que "não dá aos alunos uma autoexpressão ilimitada".

O julgamento foi o mais recente desenvolvimento em um caso que provocou um exame minucioso das políticas de educação e raça nos Estados Unidos. Pelo menos 24 estados adotaram leis que tornam ilegal a discriminação contra alunos ou funcionários por causa de seu estilo de cabelo.

De acordo com a advogada de George, o menino recebeu mensagens e cartas de apoio de pessoas o apoiando na decisão de não cortar o cabelo.

— Eu só quero que eles saibam que eu ouço e aprecio tudo o que dizem e vou continuar lutando — disse George à Booker, em mensagens compartilhadas ao grupo NBC. — Essa luta tem sido difícil para mim, mas com as palavras dessas pessoas vou continuar batalhando.

Ainda há outro julgamento sobre o caso em curso. Em setembro, a família do jovem entrou com uma ação federal de direitos civis no Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul do Texas contra o governador do estado, Greg Abbott, que assinou a lei, e o procurador-geral Ken Paxton, alegando que ambos permitiram que a escola violasse a lei.

A ação judicial busca uma ordem temporária para acabar com a suspensão de Darryl e permitir que ele frequente a escola enquanto o caso tramita no sistema judiciário federal. Os advogados do jovem acusam o governador e o procurador-geral do estado de causar "propositalmente ou de forma imprudente" sofrimento emocional à George e a sua mãe por não intervirem.