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Paquistão suspende internet móvel como 'medida de segurança' em dia de eleição

Decisão foi tomada em meio a onda de violência no país, embora analistas avaliem que ação seria um esforço para impedir que eleitores da oposição coordenem atividades

Agência O Globo - 08/02/2024
Paquistão suspende internet móvel como 'medida de segurança' em dia de eleição
Paquistão suspende internet móvel como 'medida de segurança' em dia de eleição - Foto: Reprodução

O Paquistão suspendeu os serviços de internet móvel no país nesta quinta-feira, dia em que são realizadas as suas eleições gerais. A decisão foi tomada em meio a uma onda de violência na região: na véspera, dois atentados assumidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI) mataram 28 pessoas. Nesta quinta, ao menos cinco agentes de segurança morreram em ataque enquanto patrulhavam as votações.

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Segundo o Ministério do Interior, a decisão de cortar a telefonia móvel foi feita para “manter a lei e a ordem e lidar com possíveis ameaças”. Alguns analistas no país consideraram a ação um esforço para impedir que os eleitores da oposição obtenham informações ou coordenem atividades. Com um público descontente, o Exército local tem enfrentado novos desafios à sua autoridade, tornando este um momento especialmente tenso na história da nação.

As eleições desta quinta-feira determinarão o Parlamento responsável por indicar o próximo primeiro-ministro. A campanha, porém, foi marcada pela perseguição judicial a Imran Khan, vencedor das últimas eleições e que foi desqualificado como candidato. Também teve destaque o retorno do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, de 74 anos, antes condenado e agora apontado como o provável vencedor. Candidato da Liga Muçulmana do Paquistão, ele já esteve no cargo em três ocasiões, embora nunca tenha conseguido completar um mandato.

Nawaz Sharif renunciou pela última vez em 2017, quando estava envolvido em investigações de corrupção que resultaram em condenação e desqualificação política vitalícia. Após fugir do país e passar quatro anos exilado, o político retornou ao Paquistão em outubro, momento em que a maré estava favorável para ele. Suas condenações foram contestadas e anuladas em dezembro, e pouco depois ele apresentou sua candidatura à Assembleia Nacional para as eleições desta quinta-feira.

Os cerca de 128 milhões de eleitores convocados a votar precisaram escolher, portanto, entre opções que carregam um legado de problemas políticos, acusações e condenações por corrupção. O contexto tenso fez com que cerca de 700 mil efetivos das forças e corpos de segurança fossem mobilizados. As passagens de fronteira com o Irã e o Afeganistão foram fechadas, segundo a Reuters. Mais da metade dos locais de votação do país foram classificados como em risco de sofrer violência ou ataques.

A nação, que também tem disputas fronteiriças com a Índia, ainda está mergulhada em uma crise econômica pós-pandêmica, com uma inflação galopante. E, enquanto a presença da China aumenta, o país também passa por uma redefinição das relações com os Estados Unidos.

O candidato encarcerado

O segundo partido na disputa é o Movimento pela Justiça do Paquistão. Seu líder, o ex-primeiro-ministro Imran Khan, de 71 anos, uma antiga estrela nacional do críquete, está na prisão e continua acumulando condenações. Numerosos candidatos do partido também foram presos por crimes ou terrorismo que, segundo denunciam, têm motivações políticas. Agora, os comícios que o partido realiza são dispersados pela polícia, e sua vitória seria uma grande surpresa.

Com o líder atrás das grades e desqualificado, o partido adotou uma fórmula inovadora para disseminar sua mensagem: vídeos de campanha nos quais Khan fala da prisão, por meio de uma voz clonada por inteligência artificial. “Ao nosso partido não é permitido realizar comícios públicos”, denuncia em um trecho citado pela Reuters. “Nossa gente está sendo sequestrada, e suas famílias estão sendo assediadas”, acrescenta.

Entre as forças em disputa está também o Partido Popular do Paquistão, herdeiro de uma dinastia política. É liderado por Bilawal Bhutto, de 35 anos, filho de Benazir Bhutto, a primeira mulher a exercer o cargo de primeira-ministra no país, assassinada em 2007, e neto do também ex-primeiro-ministro Zulfiqar Ali Bhutto.

O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) manifestou preocupação com as eleições. Na terça-feira, a porta-voz do órgão, Liz Throssell, denunciou os ataques de grupos armados contra membros de partidos políticos e manifestou sua “preocupação” com “o padrão de assédio, detenções e prisões de líderes do Movimento pela Justiça do Paquistão e de seus simpatizantes”.