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Unidos para sempre

Rostand Lanverly 29/01/2024
Unidos para sempre
Rostand Lanverly - Foto: Arquivo/Facebook

Adoro as epístolas... talvez minha paixão pela escrita tenha surgido muito cedo, ao fazê-las, de forma despretensiosa, escrevendo para mim mesmo, em forma de diário ou quando, no período das férias, ausente do lar paterno, em folhas de caderno, enviava notícias para meus familiares descrevendo os acontecimentos e novas aventuras com as quais convivia a cada dia.

As epístolas perderam sua utilidade nos tempos modernos, mas nunca seu glamour.... Recordo quando, ainda jovem, fui estudar fora de Maceió e, um belo dia, compareci ao cemitério da cidade onde residia.... Para minha surpresa, em uma das lápides vislumbrei uma imagem retratando dois esqueletos, de mãos dadas e sentados sobre o sarcófago. Inexistiam nomes de pessoas ou datas de qualquer espécie, somente a frase: “unidos para sempre”. Aquela visão me impressionou.

Imediatamente ao retornar para casa escrevi a meus pais, relatando o fato e lembro que questionei: quem teriam sido eles? Quais seriam seus nomes? João, Maria, Pedro ou Josefa...? Se ao menos estivessem vestidos... mas ali se encontravam somente os ossos, com os dizeres: “unidos para sempre”.

Dias depois, recebi a resposta, onde meu genitor assim escreveu: “a respeito de seus questionamentos sobre os mortos, já sem carne e somente costelas, crânio, etc..., eu lhe digo terem sido eles, acima de tudo, sábios, pois, para estarem ainda sentados um ao lado do outro, demonstrando que nem a morte os separara, é porque viveram a vida sem buscar defeitos um no outro, para gerar uma situação tensa e negativa. Muito pelo contrário! Com sinceridade, devem ter mirado os pontos fortes de cada um, fazendo florescer as melhores conquistas humanas. Encontrar defeitos é fácil, qualquer um pode fazê-lo”.

Hoje, o tempo passou e meus cabelos cor de prata, me inspiram a certeza de que o segredo é seguir o ensinamento do poeta: “não correr atrás das borboletas... mas, sim, cuidar do jardim para tê-las vindo até mim”. Vejo as missivas, como jardins. Cultivando-as, escrevendo-as ou relendo-as, resta a certeza de que esta etapa, tão célere na vida de cada um, se chama presente e tem, somente, a duração do instante vivido... doce pássaro do aqui e agora, que, quando se dá conta dele, já partiu, para nunca mais... só restam as lembranças, escritas em uma epístola...

E então, sempre incentivado por tais verdades, cansado dessa dolorosa comedia que o Brasil vivencia, convenço-me ser o descrédito, sentimento que torna a atual conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, na qual o povo não confia na maioria de seus dirigentes.

Que nesse 2024 a iniciar após o carnaval, todos procurem se fazer acompanhar da honradez, pois como tudo na vida, a política do cotidiano, sem decência é estéril e adormecedora. Só assim no futuro, teríamos a petulância de, em nossas lapides escrever: “unidos para sempre”,