Internacional

Mobilização contra partido da extrema direita alemã reúne 1,4 milhão de pessoas em três dias de protestos, dizem organizadores

Magnitude sem precedentes ocorre após a revelação de que membros da AfD discutiram planos de deportação em massa de imigrantes em uma reunião de extremistas

Agência O Globo - 21/01/2024
Mobilização contra partido da extrema direita alemã reúne 1,4 milhão de pessoas em três dias de protestos, dizem organizadores

Pelo terceiro dia consecutivo, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas de cidades alemãs neste domingo para protestar contra o partido de ultradireita AfD (Alternativa para a Alemanha), em uma mobilização de magnitude sem precedentes, após a revelação de que membros da sigla discutiram planos de deportação em uma reunião de extremistas. Desde sexta-feira, cerca de cem manifestações reuniram mais de 1,4 milhão de pessoas em todo o país, segundo a organização Friday for Future e a aliança cidadã Campact, que estão entre os organizadores do movimento.

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Em Berlim, no meio da escuridão da noite deste domingo, os pontos luminosos dos celulares de milhares de manifestantes apontaram para o céu na esplanada do Palácio do Reichstag, o Parlamento alemão. Segundo a polícia, citada pela rádio RBB, 100 mil pessoas participaram da marcha, enquanto os organizadores afirmam que foram 350 mil.

Nos atos, que neste domingo foram registrados em cerca de 40 cidades alemãs, era possível vez cartazes com as frases "Fora, nazistas" ou "Nunca mais, este é o momento". Em Munique, cerca de 80 mil pessoas compareceram ao ato contra a AfD, em um contingente tão expressivo que forçou a interrupção da marcha com a justificativa de que a polícia não poderia garantir sua segurança.

— Aqueles que talvez ainda não sabem se vão votar na AfD ou não, depois destas manifestações já não podem fazê-lo — disse em Munique a manifestante Katrin Delrieux, que participou da mobilização por seus três filhos.

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Em Dresden, capital da Saxônia e reduto da AfD, a polícia relatou um "grande número de participantes". Em Colônia, os organizadores estimaram a multidão em 70 mil pessoas, enquanto em Bremen, a polícia local contabilizou 45 mil manifestantes na região central.

No sábado, quando o foco estava em Hanover, Frankfurt e Stuttgart, mais de 250 mil pessoas já haviam ocupado as ruas, segundo estimativas da rede ARD. No leste da Alemanha (onde o apoio à sigla é mais forte), Halle reuniu cerca de 16 mil participantes.

— A elevada participação nas manifestações, especialmente em Halle, é um forte sinal contra o extremismo de direita e a favor da coexistência democrática — disse o primeiro-ministro da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff.

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Expulsão de migrantes

Os protestos eclodiram após a organização de jornalismo investigativo Correctiv revelar, em 10 de janeiro, que, em uma reunião secreta realizada em 25 de novembro por extremistas de direita em Potsdam, perto de Berlim, discutiu-se um projeto de expulsão em massa de imigrantes, solicitantes de asilo e cidadãos alemães "não assimilados".

Diversos membros da AfD, neonazistas e empresários compareceram ao evento, comparado pela ministra do Interior alemão, Nancy Faeser, à "horrível conferência de Wannsee", em 1942, na qual o regime nazista planejou o extermínio dos judeus europeus.

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Políticos, representantes religiosos e treinadores de futebol fizeram um apelo à população para que se mobilizasse contra o partido, que entrou no Parlamento em 2017. De acordo com pesquisas, a sigla está em segundo nas intenções de voto, com cerca de 22%, em três estados do leste que realização eleições regionais em setembro.

A AfD confirmou a presença de seus membros no "encontro da vergonha", como alguns meios de comunicação o definiram, mas garantiu que não apoia o projeto apresentado pelo austríaco Martin Sellner, figura de destaque do movimento identitário radical que estava presidente no encontro, de "remigração" — saída de um grande número de pessoas de origem estrangeira de um determinado país, mesmo sob coação.

Os manifestantes "nos encorajam", declarou neste domingo o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier:

— Eles defendem a nossa república e a nossa Constituição contra os seus inimigos — acrescentou.