Política

Governadores de oposição ignoram ato do 8/1 em Brasília convocado por Lula

No ano passado, Lula conseguiu, um dia depois das invasões das sedes dos três Poderes, reunir 23 dos 27 governadores em Brasília

Agência O Globo - 08/01/2024
Governadores de oposição ignoram ato do 8/1 em Brasília convocado por Lula
Atos golpistas - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A tentativa do governo de transformar o ato de hoje em uma demonstração de união nacional vai esbarrar, em parte, nos cálculos eleitorais. Governadores de oposição não devem comparecer, a despeito do convite direcionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a todos os chefes de Executivos estaduais. O evento Democracia Inabalada no Senado foi agendado em memória do primeiro ano dos ataques golpistas de 8 de janeiro.

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O cenário é diferente do que foi visto no ano passado, quando Lula conseguiu, um dia depois das invasões das sedes dos três Poderes, reunir 23 dos 27 governadores em Brasília. Os quatro que não estiveram presentes na ocasião enviaram o vice ou outro representante.

O Senado não divulgou a lista de quem confirmou presença no evento, que reunirá presidentes do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso; do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Estão previstos discursos dos chefes das três esferas de Poder.

O GLOBO apurou que, com exceção de Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, nenhum chefe do Executivo de estados do Sul e do Sudeste havia garantido a participação até ontem aos organizadores. Também devem ignorar o ato os parlamentares adversários do Planalto. Ontem, Lula afirmou nas redes sociais que o evento servirá como um grito em defesa da liberdade e da democracia.

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Sob pressão

Ex-ministro de Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não irá ao Distrito Federal. Ele passa férias na Europa e tem previsão de voltar ao Brasil apenas na noite de hoje.

Segundo o Palácio dos Bandeirantes, o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), também está fora do país. O governador em exercício, André do Prado (PL), que preside a Assembleia Legislativa do estado, não tem planos de se deslocar para Brasília.

Tarcísio vem sendo pressionado por apoiadores de Jair Bolsonaro a ter uma postura mais crítica em relação a Lula. Ele, porém, mantém uma relação institucional com o Executivo federal. Durante um evento em dezembro, o presidente pediu que o governador paulista discursasse. Ao pegar o microfone, Tarcísio disse estar “satisfeito” pelo fato de o BNDES disponibilizar R$ 10 bilhões para obras no estado.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também não voltará a tempo das férias e será substituído pela vice, Celina Leão (PP). Ibaneis chegou a ser afastado do cargo após os atos, por determinação do STF.

Jorginho Mello (PL), chefe do Executivo catarinense, alegou que tem uma reunião com todos os secretários de estado. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), fará “entregas e assinaturas de ordens de serviços de obras” na capital e no interior do estado durante a semana. Já o acreano Gladson Cameli (PP) disse que estará se deslocando para participar de um evento na China. Em nota, ele parabenizou Lula pela iniciativa.

Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná, informou que já tinha compromisso agendado previamente. Mauro Mendes (União Brasil), governador do Mato Grosso, estará em viagem familiar. E o goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) relatou rezões médicas: ele será internado hoje para fazer o check-up da cirurgia cardíaca que completa um ano.

Até a noite de ontem, o governador do Rio, Cláudio Castro, não havia fechado questão sobre a ida a Brasília. Ele ensaiou uma aproximação com Lula no ano passado e chegou até a ser defendido pelo presidente após ser alvo de vaias em um evento no Rio, em agosto. Recentemente, no entanto, Castro renovou seus laços com os bolsonaristas após confirmar que apoiará Alexandre Ramagem (PL) na disputa pela prefeitura do Rio em 2024.

Já o mineiro Romeu Zema (Novo) decidiu, na noite de ontem, ir ao evento, segundo um aliado próximo. A assessoria não informou a agenda, mas a leitura no entorno do governador é que qualquer caminho tomado será alvo de críticas. O governo de Minas discute com o Planalto a renegociação da dívida do estado. (Colaborou Julia Noia)