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O que nos faz humanos

Arnaldo Niskier 02/01/2024
O que nos faz humanos
Arnaldo Niskier

De forma brilhante, como é sua característica, o cirurgião Paulo Niemeyer falou à Academia Brasileira de Letras sobre o que nos faz humanos. Agora, com a introdução dos estudos sobre a inteligência artificial. “Num mundo dominado por robôs, androides humanos, tudo isso misturado entre nós, o que nos deve tornar aptos a responder a questões como você é humano ou um robô?”

Copérnico trouxe a nossa primeira grande frustração ao mostrar, com a sua teoria helicêntrica, que não éramos o centro do Universo. Depois tivemos Darwin, com a sua teoria evolucionista. Já Freud identificou o inconsciente e agora iniciamos o século XXI sob ameaça da inteligência artificial, milhões de vezes mais rápida em seus cálculos e pesquisas. Com certeza ela caminha para ser criativa.

A evolução filogenética mostra que o desenvolvimento dos lobos frontais do cérebro, acompanhado de uma nova e extensa camada de neurônios, chamada neocórtex, foi determinante no aparecimento do “homo sapiens.” A afirmação do acadêmico Paulo Niemeyer é impressionante: “Possuímos 100 bilhões de neurônios, cada um com 1.000 conexões em média, perfazendo cerca de 100 trilhões de sinapses. Estamos diante de uma autêntica revolução cognitiva.”

Para chegar ao Inconsciente de Freud, com todos os seus sonhos, a contribuição de Lacan: “O homem não pensa com a sua alma, ele pensa com uma estrutura, a da linguagem.” Mas o certo é que os robôs também podem simular todas essas emoções. E assim se poderá atender à demanda de novas habilidades, como aprendizagem de uma profissão, uma língua ou um esporte.

Niemeyer cita Shakespeare e chega à inteligência artificial, para concluir que hoje se pode perceber toda espécie de transformação. Chegamos ao momento da “singularidade tecnológica”, quando é possível que o homem seja superado pela máquina. Será criada uma superinteligência e estaremos vivendo o prodigioso período do pós-humanismo. Mas Niemeyer afirma que não devemos temer pelo futuro. No filme “Gattaca”, do diretor neozelandês Andrew Nicco, desenha-se uma sociedade do futuro, obcecada pela perfeição genética. O indivíduo clonado pode ser tão humano quanto sua matriz, sabendo-se que a genética é o carro-chefe da medicina moderna. Partimos da realidade de que somos todos membros de uma só família, de origem africana. Daí a necessidade de valorizar a Ética da Convicção e a Ética da Responsabilidade. Para uma vida mais feliz, ao lado de realidades como o Antropoceno e o Transumanismo. Chips biológicos poderão ser responsáveis por essa nova e atraente realidade.