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Eu e a Braskem
Não poderia deixar de prestar algum depoimento sobre a Fábrica de Produtos Químicos, Braskem. Essa é a 3ª e última parte, muitos problemas e acontecimentos foram notórios e publicados desde que a fábrica começou a funcionar em 1975. Assim que surgiu a notícia que uma fábrica de produtos químicos, Salgema (Braskem) seria instalada entre a praia e a lagoa no bairro do Trapiche, os valores dos imóveis despencaram nos bairros vizinhos. O bairro do Trapiche seria a futura expansão urbana da classe média, uma nova Ponta Verde. Nenhuma casa nova foi construída nesses 47 anos de funcionamento da BRASKEM, por medo da possibilidade de vazamento de produtos clorados.
Para entender melhor. Foi descoberta uma grande mina de Salgema (Salmoura) no subsolo da lagoa Mundaú, nos bairros de Bebedouro, Mutange, Pinheiro, Bom Parto e uma parte do Farol. A fábrica Braskem escavou 35 minas durante esses anos, extraindo a Salmoura para ser beneficiada pela fábrica do Trapiche por meio da eletrólise separam o Cloro do Sódio, fabricando e exportando produtos básicos para plásticos.
O grande perigo seria um vazamento de cloro. A inalação do cloro causa asfixia na garganta e no peito. O gás cloro é letal foi a primeira arma química utilizada em guerras em 1915 (e proibida usá-las pelo Tratado de Genebra). Esse o grande motivo da desvalorização dos imóveis. Todos os dias, às 10 horas da manhã, o Departamento de Segurança da Braskem liga uma estridente e apavorante sirene como exercícios de fuga, ouvida em toda região. A Braskem tem excelente esquema de segurança (dizem eles), mas, já aconteceram no mundo acidentes de gravíssimas consequências, como numa fábrica de produtos químicos em Bophal na Índia em 1984, quando morreram mais de 6.000 funcionários e moradores dos arredores num vazamento de gás mortífero ainda hoje não explicado (procurem na Internet essa história).
Em 1985, os então estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Érico Abreu e Mário Lima, preocupados com a possibilidade de um acidente semelhante ocorrer na BRASKEM, produziram um material investigativo sobre as consequências da extração de salmoura na Lagoa. Concluíram dentre as possibilidades, estava a de tremores e rebaixamento no solo de áreas próximas às minas. Érico Abreu considera o alerta feito há trinta anos, uma espécie de previsão. Em 2015 aconteceram vários pequenos terremotos, rachando as casas com perigo de afundar. 60.000 moradores foram desalojados da região.
Em 2009 fui convidado e com muita honra passei oito anos como Secretário de Cultura da cidade histórica de Marechal Deodoro. O prefeito deu-me a missão de realizar uma Festa Literária nos moldes da FLIP em Paraty. Planejei durante alguns meses, para realizar a FLIMAR, o orçamento estourou. Deram-me a ideia de solicitar as 11 passagens dos grandes escritores à BRASKEM. Achei até que seria uma obrigação da fábrica pois a cidade de Marechal fica nas proximidades. Fui bem recebido pelos diretor, não teve problema em cooperar com as 11 passagens, desde que colocássemos a logomarca da BRASKEM em folhetos, site, auditórios e distribuísse propaganda da BRASKEM ao povo durante os quatro dias de evento. A 1ª FLIMAR foi um sucesso à nível nacional. No ano seguinte retornei à BRASKEM, eles ofereceram a colocar trenzinho para conhecer a cidade e convidar grandes nomes não só da literatura como também da música. Assim a FLIMAR cresceu nos outros anos. Era um negócio como outro qualquer, a BRASKEM nos dava parte as precisões em troca de espaços para propaganda. Era importante para eles a propaganda na comunidade. Nesses oito anos eu era oportuno, todos os anos me convidavam para entregar o Prêmio Braskem instituído exclusivamente à Imprensa com concurso de reportagens ambientais. A entrega dos Prêmios era festa de arromba com artistas globais.
Quando eu soube que a BRASKEM iria instalar a segunda fábrica no município de Marechal Deodoro, duplicando a produção. Falei com Prefeito, Secretário de Meio Ambiente, mas já estava tudo pronto, a Odebrecht construiu a fábrica em um ano. Em 2013 assisti a inauguração da 2ª fábrica da Braskem em Marechal, na ocasião tive a honra em apertar a mão da presidente Dilma Roussef.
Em 2015 aconteceram os primeiros terremotos e a previsão dos jornalistas: Mário Lima e Érico Abreu. O restante da histórias todos conhecem, mas, consultem à Internet ou leiam o excelente livro: “Rasgando a Cortina de Silêncios”. A mim, resta acompanhar milhões de alagoanos gritando: FORA BRASKEM!
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