Internacional

Acordo Israel-Hamas é renovado até sexta, mas falta de mulheres e menores entre reféns ameaça continuidade

Com dificuldade para encontrar reféns que atendam aos requisitos da trégua, que pode acabar neste fim de semana, Hamas convoca 'resistência' e Israel se prepara para operação no sul de Gaza

Agência O Globo - 30/11/2023
Acordo Israel-Hamas é renovado até sexta, mas falta de mulheres e menores entre reféns ameaça continuidade
hamas - Foto: Arquivo

Depois de sete dias de uma trégua que deveria acabar às 7h desta quinta-feira (2h no horário de Brasília), o cessar-fogo entre Israel e Hamas foi finalmente estendido por mais 24h após um impasse sobre os "reféns perdidos". De um lado, autoridades israelenses insistiram que a lista de libertados deveria conter ao menos 10 mulheres e crianças, uma das cláusulas estabelecidas no acordo inicial. Por outro, nem todos os sequestrados no dia 7 de outubro ainda estão sob custódia da facção palestina, que teve dificuldade para chegar no número mínimo de nomes que atendessem aos requisitos. Acredita-se que parte deles estejam com outros grupos armados, como a Jihad Islâmica.

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Após um longo jogo de empurra, Tel Aviv concordou com uma lista de oito novos reféns, considerando os dois russos-israelenses libertados adicionalmente na quarta-feira como parte da soma para chegar aos 10 nomes, número mínimo estabelecido no acordo. Pelo menos 24 estrangeiros, a maioria deles tailandeses que vivem em Israel, foram libertados fora dos termos do acordo.

Antes, o Hamas havia oferecido sete mulheres e crianças e três corpos de pessoas que, segundo eles, haviam morrido em bombardeios israelenses. O grupo também apresentou os nomes de sete mulheres e menores e três idosos, mas ambas as propostas foram rejeitadas por Israel, de acordo com fontes ouvidas pelo jornal.

O Catar, que liderou as negociações de trégua apoiadas pelo Egito e pelos Estados Unidos, confirmou que a pausa foi estendida até sexta "sob as mesmas condições anteriores".

Na nova fase da trégua — que em uma semana promoveu a libertação de 70 reféns israelenses em troca de 210 prisioneiros palestinos —, a manutenção do cessar-fogo por mais tempo é visto como um desafio por negociadores após o Hamas alegar dificuldades para localizar reféns suficientes.

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, que está em Tel Aviv, pediu para que o cessar-fogo seja estendido por mais tempo após se reunir com líderes israelenses e da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

— Está claro que queremos que este processo continue avançando — declarou o chefe da diplomacia americana à imprensa. — Queremos um oitavo dia [de trégua] e além.

Em entrevista à AFP, uma fonte próxima ao Hamas, que falou sob anonimato, disse que o grupo estaria "disposto a estender a trégua".

— Os mediadores atualmente estão fazendo esforços firmes, intensos e contínuos para um dia adicional de trégua e trabalhando para estendê-lo novamente por outros dias — disse a fonte horas antes do acordo ser estendido nesta quinta.

Mas, apesar da expectativa, o atual cenário indica que o cessar-fogo está com os dias contados — e ambos os lados já movimentam as peças no tabuleiro com o retorno dos confrontos em vista. Antes mesmo da prorrogação do acordo por mais dois dias, negociadores já levantavam a possibilidade de o Hamas não conseguir oferecer mulheres e crianças suficientes para manter a trégua por muito tempo.

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Em outubro, a Human Rights Watch (HRW) já havia exposto o dilema sobre a custódia dos reféns. Segundo a organização, citando fontes dos próprios movimentos palestinos, as Brigadas al-Qassam — braço armado do Hamas — estariam em posse de aproximadamente 200 reféns. Já a Jihad Islâmica, outro grupo terrorista que atua em Gaza, teria ao menos 30. A HRW apontava ainda que "outros grupos palestinos" também teriam prisioneiros.

Em entrevista ao site Sky News, Hans-Jakob Schindler, diretor do thinktank Counter Extremism Project, analisou a situação como "terrivelmente imprecisa", apontando quem embora unidos pela luta contra Israel, o Hamas e a Jihad Islâmica, grupos que teriam a maior quantidade de prisioneiros, seriam na verdade competidores pelo poder em Gaza.

— Não é totalmente certo dizer que o Hamas pode conseguir a libertação de nenhum prisioneiro em posse da Jihad Islâmica — disse o analista. — Há uma bem-desenvolvida economia de contrabando em Gaza, há décadas, muito antes do Hamas tomar o controle, organizada por redes de famílias criminosas. É possível que reféns não estejam nem com o Hamas e nem com a Jihad Islâmica, mas com essas organizações criminosas.

Sem reféns que atendam aos requisitos do acordo, Israel poderia voltar com sua campanha militar já neste fim de semana — agora com o foco no sul da Gaza, onde milhões de civis se refugiam após se deslocarem do norte e da Cidade de Gaza.

— Nos últimos dias, tenho ouvido essa pergunta: Israel voltará a lutar depois de maximizar essa fase de devolução de nossos reféns? — disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na quarta-feira, sexto dia da pausa nos combates. — Portanto, minha resposta é inequívoca: sim.

O governo Netanyahu afirma que a pressão militar é uma das formas de conseguir a libertação de mais reféns. Blinken, no entanto, reforçou a necessidade de garantir proteção aos civis antes que qualquer operação seja levada a cabo no sul de Gaza.

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A tensão também tem aumentado do lado palestino, com a libertação de prisioneiros impulsionando o apoio ao Hamas na Cisjordânia, onde dois soldados israelenses ficaram levemente feridos nesta quinta-feira em um ataque contra um posto de controle. Segundo o Exército israelense, o agressor também foi "baleado e neutralizado".

Em Jerusalém, o Hamas reivindicou a autoria de um ataque a tiros contra civis israelenses na manhã desta quinta-feira (madrugada em Brasília). O grupo convocou apoiadores para uma "escalada de resistência" contra Israel, num movimento que pode abrir espaço para novas frentes da guerra caso o cessar-fogo acabe.