Internacional
Doenças poderão matar mais em Gaza do que os bombardeios, alerta a OMS
Porta-voz da organização alerta para aumento de 100 vezes no número de casos de diarreia, e defende um cessar-fogo mais amplo para a entrega de ajuda
A porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Harris, afirmou nesta terça-feira que surtos de doenças dentro da Faixa de Gaza poderão matar ainda mais do que os bombardeios lançados por Israel desde o mês passado, em resposta aos ataques do Hamas. Para ela, é necessário incrementar o envio de ajuda ao território, além de estender o período de trégua, em vigor desde sexta passada.
— Eventualmente veremos mais pessoas morrendo de doenças do que de bombas se não conseguirmos remontar o sistema de saúde [de Gaza] — disse Harris, durante entrevista coletiva em Gaza, na qual usou a palavra "tragédia" para descrever a situação no local. — E não são apenas os hospitais. Todo mundo, em todo lugar, tem muitas necessidades de saúde, porque estão famintos.
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Harris disse que uma avaliação feita dos abrigos da ONU em Gaza, na sexta-feira, primeiro dia da trégua, mostrou que os locais não tinham "remédios, vacinas, atividades, acesso a água limpa e higiene e alimentos". Para ela, um cenário propício para o surgimento de doenças infecciosas, especialmente as relacionadas à contaminação de água e alimentos — citando números da própria ONU, Harris afirmou que o número de casos de diarreia em crianças com menos de 5 anos hoje é 100 vezes maior do que o registrado no começo do mês.
Mesmo antes do início da guerra, a Faixa de Gaza, com seus mais de dois milhões de habitantes, enfrentava sérios problemas de falta de saneamento — um relatório do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, de 2018, alertava para o risco de epidemias de doenças ligadas a água e alimentos contaminados. Com os bombardeios e a destruição da já precária infraestrutura local, incluindo a paralisação de usinas de dessalinização, a maior parte dos habitantes depende de ajuda externa para obter água.
No caso do sistema de saúde, organizações de defesa dos direitos humanos e autoridades palestinas afirmam que hospitais e clínicas foram diretamente atingidos pelos ataques de Israel, pondo as vidas de centenas de pessoas em risco. Em alguns casos, como o do Hospital al-Shifa, os israelenses acusaram o Hamas de usar o local como base de operações, uma alegação que motivou a entrada de tropas no local, pouco antes do anúncio da trégua. O grupo palestino nega.
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Segundo a ONU, apenas cinco hospitais operam de maneira parcial no Norte de Gaza, enquanto no Sul são oito, mas apenas um deles tem capacidade e recursos para realizar operações complexas e tratar casos mais graves. Pela lei humanitária internacional, ataques hospitais são proibidos durante conflitos armados.
— Em todo lugar, médicos estão tendo que fazer decisões horríveis sobre, você sabe, quem eles vão priorizar — disse, através de videoconferência, James Elder, porta-voz do Unicef em Gaza. Segundo ele, os corredores dos hospitais estão lotados com crianças com ferimentos graves e com sintomas de doenças infecciosas, e operações ocorrem muitas vezes sem anestesia.
Apesar de reconhecer que o ritmo de entrada de ajuda em Gaza aumentou desde o início do cessar-fogo, Harris considera que ainda é pouco diante dos desafios enfrentados pela população e pelas equipes que trabalham no terreno. Por isso, ela defendeu uma extensão ainda maior da trégua, fazendo coro às palavras do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
"Nos últimos dias, o som da guerra silenciou, dando a milhões de crianças e adultos a chance de olhar para o céu sem o medo de foguetes indo em sua direção", escreveu Tedros no X (antigo Twitter), na segunda-feira. "Se as operações militares recomeçarem, também haverá mais mortes, sofrimento, falta drástica de insumos e desespero. A única resposta é um cessar-fogo prolongado. Agora."
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