Brasil
Facas em presídio e plantação de maconha: quem é Dada, chefe do tráfico baiano solto após decisão de desembargador
Natural de Irecê, no interior da Bahia, Ednaldo Freire Ferreira é um dos fundadores da maior facção do estado, possui suas próprias plantações de maconha e já havia fugido da cadeia antes
Em 2020, a cúpula da maior facção baiana estava preocupada com a segurança de seus integrantes que cumpriam pena no Conjunto Penal Masculino de Salvador. "As facas não chegaram, irmão", informou, por um aplicativo, Ednaldo Freire Ferreira, o Dada, a um comparsa em abril daquele ano. Dada é um dos chefes do grupo e estava preso; seu interlocutor era responsável por fornecer armas brancas aos comparsas presos. A preocupação tinha um motivo: naquele mesmo dia, uma leva de 17 novos presos havia chegado à unidade — a maioria, de quadrilhas rivais.
Após o comparsa explicar que os contatos que levariam as facas ao presídio estavam "de baratino", Dada afirmou que já havia encontrado uma solução: "Um parceiro tirou umas chapas lá dentro, vamos fazer quatro faconas". Em seguida, o traficante enviou ao interlocutor uma fotografia de uma chapa de ferro retirada de dentro de uma cela que estava sendo transformada numa faca. As mensagens, obtidas pelo GLOBO, foram interceptadas pela Polícia Federal e acabaram motivando uma nova ordem de prisão contra Dada, em 2022.
Desde o último dia 3, no entanto, após ser beneficiado por uma decisão judicial que é alvo de uma investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Dada está foragido. Na ocasião, o desembargador Luiz Fernando Lima, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), concedeu ao traficante, no final de um plantão de domingo, o direito da prisão domiciliar. A ordem chegou a ser revogada três dias depois por outro desembargador, mas o traficante já havia fugido. Na última terça-feira, por suspeitas de irregularidades na decisão, Lima foi afastado de seu cargo pelo CNJ.
O traficante beneficiado pela decisão é considerado um preso de alta periculosidade pela polícia baiana: além de manejar facas artesanais dentro de um dos maiores presídios da Bahia, Dada é um dos fundadores da maior facção do estado, possui suas próprias plantações de maconha e já havia fugido da cadeia antes. A investigação mais recente contra Dada, que culminou na decretação de sua prisão e em sua posterior captura em setembro deste ano, revela como ele seguiu administrando seus negócios mesmo de dentro da cadeia. Numa mensagem interceptada pela PF, ele tenta negociar a quitação de uma dívida por meio de um carregamento da maconha que produz.
"Eu vou pra luta, eu vou vender, vou fazer chegar a moeda toda em sua mão, mas se quiser o chá também, o chá vai tá chegando aí, um chá de primeira qualidade, e aí se você aceitar eu também vou tá enviando para você, firmeza meu parceiro? Independente deu tá te devendo ou não, nós vai dividir o chá entre nós mesmo aí, pra fortalecer nós mesmo a família, viu?", afirmou Dada num áudio enviado a um comparsa, após encaminhar uma série de imagens de sua plantação de maconha.
Dada, natural de Irecê, no interior da Bahia, é condenado a penas que somam mais de 15 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa e já foi preso pelo menos cinco vezes nos últimos dez anos em três estados diferentes: além da Bahia, Dada chegou a ser capturado em Tocantins e em Pernambuco. Sua primeira fuga remonta a abril de 2016, quando cumpria uma pena de sete anos de prisão por tráfico de drogas após ser preso em flagrante transportando dois quilos de maconha em sua cidade natal. Na ocasião, Dada recebeu o benefício da saída temporária e não voltou mais para o presídio. Ele só seria recapturado cinco meses depois, em Palmas, no Tocantins.
Após a prisão, Dada seguiu preso em regime fechado até julho de 2021, quando foi beneficiado com a progressão para o regime semiaberto. Um mês depois, conseguiu autorização da Vara de Execuções Penais (VEP) para cumprir sua pena em regime domiciliar, sob o argumento de que ele tem um filho "portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 3 (CID F84.0) e dependente da figura paterna". Dada, no entanto, não cumpriu descumpriu as regras do regime domiciliar: em setembro passado, quando foi novamente preso, o traficante circulava num carro de luxo com um documento falso pela cidade de Sertânia, em Pernambuco — a quase 900 km do endereço de seu domicílio, em Irecê, onde deveria estar cumprindo sua pena.
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