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Reza, cantoria e esperança: a viagem de israelenses em voo de São Paulo a Tel Aviv; veja vídeo

Com o desejo de ajudar na guerra, turistas, voluntários e convocados pelo Exército retornaram para casa e encontraram o povo de Israel triste, mas unido

Agência O Globo - 17/10/2023

O clima da volta para a casa em quase nada lembrava que Israel está em guerra. Na última sexta-feira (13), o voo fretado pela comunidade judaica que levou jovens de São Paulo a Tel Aviv foi tomado por canções em hebraico, bandeirinhas de Israel e orações do dia de descanso dos judeus, o Shabat. Num grito conjunto, os passageiros manifestavam um desejo comum: “o povo de Israel vive”.

A aeronave portuguesa levou 172 jovens voluntários, turistas e convocados pelo Exército para a guerra contra o Hamas. Antes do retorno, os passageiros estavam em países da América do Sul. A estudante Tal Hisherik, de 22 anos, viajava pela Colômbia quando a guerra estourou.

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— No avião, estávamos todos motivados, cantando sem parar. Encurtamos nossa viagem para poder salvar nosso país. A gente estava voltando para a pior coisa que Israel já viu e queria ajudar a defender nossas famílias e amigos — lembrou.

Durante a primeira semana da guerra, Tal não parou de assistir ao noticiário, na tentativa de reconhecer os nomes dos desaparecidos e mortos. Além da angústia pela situação em si, diz ter sofrido com o que considerou um apoio, nas redes sociais, ao grupo terrorista Hamas.

— Decidi voltar porque parecia um absurdo continuar viajando e me divertindo enquanto tudo isso acontecia em minha casa — afirmou.

Tal diz que se sentiu desamparada longe da família. A princípio, seus pais não foram favoráveis ao seu retorno. Mas, ao perceberem a gravidade dos fatos, logo entenderam que era melhor ela voltar. A estudante não foi convocada pelo Exército israelense. Pretende colaborar em outras frentes: desde ser voluntária em hospitais até ajudar crianças evacuadas.

De volta a Israel, Tal está num moshav, um assentamento rural semelhante ao kibutz, em que cada família mantém sua própria fazenda e casa. O local fica perto da cidade de Ra’anana, a cerca de 20 quilômetros de Tel Aviv.

Nas primeiras horas em Israel, encontrou um país diferente do que deixou. As ruas estão bastante vazias. Há velas acesas na frente de boa parte das casas, uma tradição judaica adotada quando alguém morre.

— Fiquei assustada com o clima. Geralmente, os israelenses são pessoas felizes. Desde o holocausto, não pensávamos que tantos judeus seriam mortos por serem judeus, e em nosso próprio país. As pessoas estão tristes, mas também muito unidas. O país inteiro está de luto e querendo ajudar — contou.

Quando a guerra acabar, Tal pretende retomar seu plano de onde parou: quer voltar ao Brasil e conhecer a região Norte.

Treinamento de guerra

O bartender Elad Rachamim, de 22 anos, mora em Tel Aviv e também estava na Colômbia quando a guerra começou. Ele havia concluído o serviço militar havia um ano e viajava pela América do Sul. Rachamim recebeu uma ligação do Exército israelense com a convocação para o alistamento emergencial. Diz ter se sentido orgulhoso ao perceber, no voo de volta ao seu país, que não é o único com o desejo de ajudar seu povo.

— O clima no avião foi incrível. Não havia outra escolha. Eu sabia que tinha que voltar para me juntar aos soldados do meu serviço militar, para proteger minha família e a nação judaica — opinou.

Sem revelar a cidade exata, Rachamim conta que está ao Sul de Israel, na fronteira com a Faixa de Gaza, num campo de treinamento. Ele é comandante da unidade de paraquedistas da reserva. Os primeiros dias em Israel foram difíceis. O bartender foi ao funeral de amigos civis que estavam na rave Universo Paralello, onde 260 pessoas foram mortas por terroristas do Hamas. Na sequência, já foi para a base militar. Ele descreve este retorno como um déjà vu - tão pouco tempo depois, ele já está de volta aos treinamentos, ao pelotão e ao armamento de guerra.

— Tenho presenciado a união do povo judeu. Não consigo descrever a quantidade de caixas de doações que recebemos todos os dias, com produtos de higiene básicos, comida, roupas, lanternas, sacos de dormir — disse. — Não sei o que vai acontecer no futuro. Só tenho uma certeza: nossas forças armadas são fortes, nossa nação é forte.