Internacional

Milhares de famílias em Gaza fogem de forma caótica após ultimato de Israel; Hamas rejeita ordem

Movimento em massa de civis é feito por uma única estrada; moradores se deslocam a pé, de carro, em motos e caminhões, levando vacas e camelos

Agência O Globo - 13/10/2023
Milhares de famílias em Gaza fogem de forma caótica após ultimato de Israel; Hamas rejeita ordem

A pé, de carro, em motos e caminhões, levando vacas e camelos, centenas de famílias deixaram o norte de Gaza nesta sexta-feira, depois que o Exército de Israel ordenou a retirada de 1,1 milhão de pessoas em 24 horas para o sul do enclave antes de uma possível incursão terrestre. O movimento em massa de civis é caótico e extremamente perigoso, já que é feito por apenas uma estrada em uma das regiões mais densamente povoadas da Cidade de Gaza.

O movimento islâmico fundamentalista Hamas, que lançou ataques terroristas contra Israel no último sábado, rejeitou o ultimato e pediu para que os palestinos "se mantenham firmes".

De acordo com o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa), Philippe Lazzarini, mais de 423 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas em Gaza nos últimos sete dias, desde que Israel impôs um cerco ao território e iniciou bombardeios de retaliação ao pior ataque em seu território em mais de 50 anos. Segundo ele, o enclave palestino "está se tornando rapidamente um inferno".

A ordem de retirada inclui toda a Cidade de Gaza e dois grandes campos de refugiados, Jabalya e Beach. Também inclui as cidades de Beit Hanoun e Beit Lahia, ambas adjacentes ao principal ponto de passagem de Erez, no extremo norte da Faixa de Gaza.

Apena na capital, Cidade de Gaza, vivem cerca cerca de 700 mil pessoas — quase metade da população tem menos de 18 anos. Jabalya, o maior campo de refugiados da Faixa de Gaza, tem 116 mil habitantes, e outras 90 mil pessoas vivem no Beach. No total, há pelo menos seis hospitais na região.

Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que tamanho deslocamento no prazo de 24 horas seria "impossível sem consequências humanitárias devastadoras". Lazzarini, da Unrwa, classificou a ordem de Israel como "horrenda".

— Isso só causará níveis de miséria sem precedentes e empurrará ainda mais a população de Gaza rumo ao abismo — disse o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. — O tamanho e a velocidade da crise humanitária em curso são assustadores.

Nesta sexta, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, afirmou que os militares estão cientes de que a retirada levará algum tempo. O combustível é escasso e as ruas da Cidade de Gaza estão cheias de escombros após os ataques aéreos israelenses dos últimos dias — e ainda não há sinais de que eles tenham sido interrompidos.

— Esta é uma zona de guerra, estamos tentando lhes dar tempo e entendemos que não levará 24 horas — disse à BBC.

O Hamas ordenou categoricamente a ordem de retirada: “Nosso povo palestino rejeita a ameaça dos líderes da ocupação (israelense) e seus apelos para que deixem suas casas e fujam para o sul ou para o Egito”, afirmou o grupo terrorista em comunicado.

O porta-voz do braço militar do Hamas, a Brigada al-Qassam, instou os moradores de Gaza a “se manterem firmes”. Em uma declaração que foi transmitida pela rede al-Jazeera, Abu Obaida dirigiu-se aos palestinos que vivem em Gaza e disse que os alertas de Israel eram uma “guerra psicológica” destinada “a criar uma falsa imagem de vitória”.

Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, comparou o deslocamento em massa de civis ao exílio de 1948. “Esta seria uma segunda Nakba (catástrofe em árabe) para o nosso povo”, disse Abbas em um comunicado publicado pela Wafa, a agência oficial de notícias palestina.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse à CNN que os EUA estão "trabalhando muito duro, hora a hora", para garantir que haja uma maneira de os palestinos deixarem Gaza com segurança.

— Independentemente de haver ou não uma incursão terrestre, e vou deixar os israelenses falarem sobre suas operações, queremos ter certeza de que há uma maneira para as pessoas que vivem em Gaza, e que querem sair, poder fazê-lo com segurança e rapidez, então estamos trabalhando nisso muito — disse Kirby.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse, em nota, que os grupos de ajuda humanitária não poderão prestar assistência aos deslocados:

“Com um cerco militar em vigor, as organizações humanitárias, incluindo o CICV, não serão capazes de ajudar em um deslocamento tão massivo de pessoas em Gaza”, afirmou, em comunicado. “As necessidades são surpreendentes e as organizações humanitárias devem ser capazes de aumentar as operações de ajuda.”