Internacional

Israel ordena deslocamento de 1,1 milhão de habitantes de Gaza para o sul; ONU alerta para consequências devastadoras

Organização das Nações Unidas pede que ordem seja anulada; Hamas convoca a população da Cidade de Gaza a resistir e ficar em suas casas

Agência O Globo - 13/10/2023
Israel ordena deslocamento de 1,1 milhão de habitantes de Gaza para o sul; ONU alerta para consequências devastadoras

A Organização das Nações Unidas divulgou ter sido informada pelo Exército israelense sobre uma ordem para “realocar” cerca de 1,1 milhão de habitantes do norte da Faixa de Gaza para o sul dentro de 24 horas. As informações foram passadas por Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. Segundo avaliação da ONU, tamanho deslocamento nesse prazo seria "impossível sem consequências humanitárias devastadoras".

"Hoje (12 de Outubro), pouco antes da meia-noite (hora local), os funcionários da ONU em Gaza foram informados pelos seus oficiais de ligação com o Exército israelense que toda a população a norte de Wadi Gaza (rio que divide Gaza em norte e sul) seria transferida para o sul, dentro de 24 horas, isto é, cerca de 1,1 milhão de pessoas", indicou Dujarric. “As Nações Unidas solicitam veementemente que, se confirmada, qualquer ordem desse tipo seja rescindida”, acrescentou.

Enquanto aguardam o resgate para o Brasil, 13 brasileiros alojados em uma escola católica situada na Faixa de Gaza estão a sete quilômetros do limite da área que Israel deu o prazo de 24 horas para ser esvaziada.

O Exército israelense diz estar se preparando para uma possível operação terrestre em Gaza, mas que a liderança política ainda não decidiu sobre o assunto. O porta-voz do exército de Israel, tenente-coronel Richard Hecht, disse a repórteres, na quinta-feira, que as forças militares "se preparam para uma manobra terrestre, se assim for decidido". No entanto, a ordem de retirada parece indicar que uma ofensiva terrestre pode ser iminente.

Em Tel Aviv, pouco depois do anúncio feito pela ONU, um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) divulgou um vídeo no qual leu um comunicado das FDI dirigido aos moradores da Cidade de Gaza, pedindo a retirada de todos os civis da Cidade de Gaza, de suas casas, para o sul, para sua própria segurança e proteção."

"A organização terrorista Hamas travou uma guerra contra o Estado de Israel, e a Cidade de Gaza é uma área onde ocorrem operações militares. Essa retirada é para sua própria segurança. Você só poderá retornar à Cidade de Gaza quando outro anúncio permitir que isso seja feito. Não se aproxime da área da cerca de segurança de Israel. Os terroristas do Hamas estão escondidos na Cidade de Gaza, dentro de túneis, debaixo de casas e dentro de edifícios povoados por civis inocentes que são usados como escudo humano. Nos próximos dias, as FDI continuarão a operar com força significativa na cidade de Gaza e farão amplos esforços para evitar prejudicar civis."

Apesar de a ONU falar em retirada em 24 horas, o comunicado das FDI não menciona prazo. Também há discordância quanto ao número de habitantes a serem deslocados: ONU fala em 1,1 milhão ao dizer que o ultimato israelense inclui todos habitantes a norte de Wadi Gaza; já o comunicado de Israel cita a Cidade de Gaza, que, sozinha, tem 700 mil habitantes.

Ordem contrária

A autoridade do Hamas para assuntos dos refugiados apelou, nesta sexta-feira, aos residentes do norte de Gaza para que "permaneçam firmes nas suas casas e se mantenham firmes perante essa guerra psicológica repugnante travada pela ocupação". A ONU diz que 400 mil palestinos já foram deslocados.

Segundo o jornal The Guardian, o porta-voz Dujarric informou também que a ordem dos militares israelenses também se aplicaria a todos os funcionários da ONU e àqueles abrigados em instalações da ONU, incluindo escolas, centros de saúde e clínicas.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse à CNN que os EUA estão "trabalhando muito duro, hora a hora", para garantir que haja uma maneira de os palestinos deixarem Gaza com segurança.

"Independentemente de haver ou não uma incursão terrestre — e vou deixar os israelenses falarem sobre suas operações — queremos ter certeza de que há uma maneira para as pessoas que vivem em Gaza, e que querem sair, poder fazê-lo com segurança e rapidez, então estamos trabalhando nisso muito", declarou Kirby.