Internacional

EUA 'devem controlar Israel' se quiser evitar guerra regional, diz Irã; Hezbollah diz estar preparado para intervir

Chanceler iraniano faz alerta durante visita a Beirute, no Líbano, onde atua movimento xiita libanês Hezbollah; Israel bombardeia libanês

Agência O Globo - 13/10/2023
EUA 'devem controlar Israel' se quiser evitar guerra regional, diz Irã; Hezbollah diz estar preparado para intervir

Os Estados Unidos "devem controlar Israel" se quiserem evitar uma guerra regional, disse nesta sexta-feira o ministro iraniano de Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, durante uma visita ao Líbano. Já o movimento xiita libanês Hezbollah, que é apoiado por Teerã, afirmou que está "totalmente preparado" para se unir ao Hamas no conflito contra Israel no momento propício. Também nesta sexta-feira, Israel bombardeou o sul do Líbano como resposta a uma "tentativa de invasão" do Estado Judeu pelo norte, de acordo com autoridades em Jerusalém.

— Os EUA querem permitir a Israel destruir Gaza, e é um grave erro. Se os americanos querem evitar que a guerra se estenda por toda a região, devem controlar Israel — indicou o chanceler em Beirute. — Se não detiverem os crimes israelenses, não sabemos o que pode acontecer.

Abdollahian chegou ao Líbano após uma viagem a Bagdá, capital do Iraque, em meio a uma ofensiva diplomática de Teerã na região. Em Bagdá, o chanceler iraniano se reuniu com o conselheiro de Segurança Nacional. Depois de Beirute, ele se dirigirá a Damasco, na Síria.

O giro regional do chanceler ocorre enquanto Israel se prepara para uma possível ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, alvo de bombardeios e de um cerco em retaliação aos ataques terroristas do grupo fundamentalista islâmico Hamas no último sábado. O conflito entre Israel e Hamas causou milhares de mortos dos dois lados.

Teerã, que tem tentáculos de influência em vários países da região e apoia abertamente o Hamas, celebrou o ataque terrorista do grupo palestino contra Israel, mas insistiu que não teve envolvimento na ação.

Desde 7 de outubro, o Hezbollah efetuou alguns disparos de projéteis contra posições de Israel em apoio ao Hamas, seu aliado. E, nesta sexta, o subsecretario-geral do movimento xiita, Naim Qassem, afirmou que o grupo está em prontidão.

— Estamos completamente preparados e, quando chegue o momento de atuar, o faremos — disse Qassem durante uma manifestação pró-palestina nos subúrbios do sul de Beirute.

Os contatos "diretos ou indiretos" das "grandes potências, os países árabes e os enviados da ONU, nos pedindo para não intervir na batalha não nos afetarão", acrescentou Qassem.

Cooperação contra 'regime sionista'

Além da viagem de seu chanceler, o governo iraniano anunciou na quinta-feira que o presidente Ebrahim Raisi pediu que os países árabes e islâmicos cooperem “para acabar com os crimes do regime sionista contra a nação palestina oprimida”.

“Hoje, todos os países islâmicos e árabes e todas as pessoas livres do mundo devem alcançar uma convergência e cooperação sérias para parar os crimes do regime sionista contra a nação palestina oprimida”, declarou Raisi ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, durante uma ligação na noite de quarta-feira, segundo um comunicado publicado no site da Presidência do Irã.

Além de falar ao telefone com Assad, Raisi também manteve contato com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, no primeiro diálogo entre os dois desde a aproximação mediada em março pela China após sete anos de ruptura, anunciou a imprensa estatal saudita SPA.

Horas depois do telefonema entre Raisi e Assad, Israel atacou com mísseis os dois principais aeroportos da Síria: os da capital e da cidade de Aleppo, danificando as pistas de pouso e deixando-as fora de serviço, disse na quinta a agência de notícias estatal Sana.

Alvos na Síria

Israel bombardeou centenas de vezes o território sírio desde o início da guerra civil no país, em 2011, mas este é o primeiro desde o início do conflito entre Israel e o Hamas. Os dois aeroportos já foram alvo de ataque em várias ocasiões. O de Aleppo ficou fora de serviço por bombardeios em 28 de agosto e o de Damasco em 2 de janeiro.

Na Síria, a aviação israelense ataca especialmente os grupos apoiados pelo Irã e Hezbollah, inimigos declarados de Israel, além de posições do Exército sírio. Israel, que tem fronteira com a Síria, normalmente não comenta suas operações contra o país, apenas afirmando que quer impedir que o Irã se estabeleça perto de seu território.

Críticas a pactos

Na ligação com Assad, o presidente iraniano afirmou que Teerã se coordenará com os países islâmicos “antes do possível” para frear o “genocídio dos palestinos por parte dos sionistas”.

Raisi também criticou os países árabes que recentemente normalizaram suas relações com Israel ou que estão em negociações com esse objetivo, como é o caso da Arábia Saudita. Segundo analistas, a guerra abala o possível acordo de normalização de relações entre Israel e a Arábia Saudita, onde ficam os locais mais sagrados do islã.

“Todos os que tornaram públicas suas relações com o regime sionista com o pretexto de defender os direitos dos palestinos ficaram desacreditados, e ficou comprovado para todos que o regime sionista está em seu estado mais debilitado”, disse o presidente iraniano.

Já em sua ligação com Raisi, o príncipe Salman disse que Riad “se comunica com todas as partes internacionais e regionais para deter a atual escalada”, ressaltou a SPA. Ele também destacou “a posição firme do reino de apoio à causa palestina”.

A agência estatal iraniana Irna também informou sobre o telefonema, apontando que os dois líderes discutiram “a necessidade de acabar com os crimes de guerra contra a Palestina”.

O príncipe Mohammed conversou na quarta-feira com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre seus esforços para conter a escalada do conflito.

Bloqueio contra o Irã

EUA e Catar concordaram na quinta-feira em negar ao Irã acesso a um fundo de US$ 6 bilhões, que fazia parte de um acordo de troca de prisioneiros por ajuda humanitária, selado entre o governo Joe Biden e Teerã no mês passado, disse o vice-secretário do Tesouro dos EUA, Wally Adeyemo, aos democratas da Câmara, de acordo com informações do jornal The Washington Post.