Internacional

Presidente eleito na Guatemala retoma turnê internacional para alertar sobre suposta tentativa de golpe de Estado

Ao menos 17 trechos de importantes rodovias do país estão bloqueados por manifestantes desde segunda-feira, que pedem renúncia de procuradora-geral

Agência O Globo - 03/10/2023
Presidente eleito na Guatemala retoma turnê internacional para alertar sobre suposta tentativa de golpe de Estado

O presidente eleito na Guatemala, o social-democrata Bernardo Arévalo, visitou nesta terça-feira os Estados Unidos, onde deve se reunir com o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, na Casa Branca. Eleito em 20 de agosto, após derrotar nas urnas a ex-primeira-dama Sandra Torres, Arévalo reiniciou uma turnê internacional para denunciar a tentativa de um suposto golpe de Estado para impedir que ele assuma o cargo.

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"Retomei a viagem aos EUA para me encontrar com atores importantes. Esta manhã participei numa reunião com [membros da] Americas Society, onde expliquei as linhas gerais do nosso plano de governo e os impactos que sua implementação terá no crescimento, na geração de empregos e no bem-estar da Guatemala", escreveu Arévalo no X, antigo Twitter, ao anunciar sua turnê pelo continente. "Também alertei para o problema que as ações do Ministério Público e de Consuelo Porras constituem para a democracia hoje".

Após visitar o México, onde conversou com o presidente Andrés Manuel López Obrador, Arévalo teve que suspender sua viagem após uma operação de buscas realizada pelo MP na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o no último dia 29 de setembro. Na busca, com dezenas de policiais, procuradores abriram 70 urnas que continham votos do primeiro turno das eleições, em 25 de junho. A operação foi resultado da denúncia de um cidadão, mas apenas o TSE estaria autorizado a realizar tal verificação.

Desde segunda-feira, grupos de manifestantes bloqueiam trechos de rodovias na Guatemala para exigir a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras, a quem acusam de orquestrar o golpe. Os manifestantes, em sua maioria indígenas e agricultores, mantêm bloqueados ao menos 17 trechos de importantes rodovias do país como a Interamericana, assim como as que levam à fronteira com o México, El Salvador e Honduras.

Eles também pedem a remoção dos cargos do promotor Rafael Curruchiche e do juiz Fredy Orellana, que lideram uma campanha legal contra Arévalo, o primeiro político de esquerda a vencer no país em mais de uma década. Os três funcionários estão em uma lista de "atores corruptos" e antidemocráticos dos Estados Unidos.

O partido de Arévalo, o Movimento Semente, tornou-se alvo de investigações do Ministério Público ainda durante o pleito e foi inabilitado apenas oito dias após sua vitória. Em resposta, o presidente eleito suspendeu o processo de transição de governo.

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As operações de busca na sede do tribunal eleitoral para confiscar as atas das últimas eleições, o pedido para retirar os foros dos juízes do organismo e a tentativa de suspender o partido de Arévalo,causaram preocupação na comunidade internacional. Na segunda-feira, os EUA afirmaram que "continuarão usando todas as ferramentas disponíveis contra aqueles que agirem para minar a democracia e o estado de direito na Guatemala", segundo um porta-voz do Departamento de Estado americano.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez, expressou "apoio a uma transição política pacífica" durante uma reunião virtual com Arévalo, e expressou "solidariedade com o povo guatemalteco, que enfrenta contínuos esforços para impedir uma transição democrática do poder".

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O governo brasileiro também expressou preocupação com as interrupções no processo de transição de poder na Guatemala e reafirmou, em comunicado publicado na segunda, o reconhecimento da eleição de Arévalo. A nota também insta as autoridades guatemaltecas a cumprir suas responsabilidades e a garantir a posse e o exercício dos mandatos das autoridades eleitas de acordo com a vontade popular e os compromissos assumidos na Organização dos Estados Americanos (OEA).

A OEA, Espanha, União Europeia e organizações internacionais também expressaram seu rechaço à perseguição penal por considerar que atenta contra a democracia e a governabilidade da Guatemala.