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Polícia investiga cerca de 100 mortes ligadas a 'veneno' vendido por homem no Canadá; entenda

Kenneth Law, de 57 anos, é acusado de vender sal tóxico para pessoas que tinham como intuito tirar a própria vida; defesa diz que acusação não se enquadra em 'proibição criminal'

Agência O Globo - 30/09/2023
Polícia investiga cerca de 100 mortes ligadas a 'veneno' vendido por homem no Canadá; entenda
Câmera na farda de policial em SP - Foto: Reprodução

Autoridades do Canadá e do Reino Unido estão investigando ao menos 100 mortes por envenenamento. Classificados como suicídios, os casos estariam relacionados aos negócios do canadense Kenneth Law, de 57 anos, acusado de vender um sal tóxico. Ele seria o responsável por operar um grupo de empresas que enviaram cerca de 1,2 mil pacotes com a substância para pessoas em 40 países, atendendo a pedidos online.

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Agora, a polícia do Canadá o acusou de ajudar 14 pessoas a cometer suicídio, um número que pode aumentar à medida que as investigações sobre os negócios de Law continuam na região e no Reino Unido. Em seu país de origem, onde investigadores disseram que ele enviou ao menos 160 pacotes, Law foi acusado de aconselhamento ou ajuda ao suicídio. As vítimas tinham entre 16 e 35 anos.

O Reino Unido investiga as mortes de 88 das 272 pessoas que compraram nitrato de sódio, um sal usado como conservante de alimentos, no site de Law. A informação foi confirmada por um porta-voz da Agência Nacional de Crimes do Reino Unido. O canadense, que ainda não foi acusado formalmente, compareceu ao tribunal na última quarta-feira, e teve a próxima audiência marcada para 31 de outubro.

'Aplicação inovadora da lei'

Law está detido em uma prisão em Ontário. Segundo seu advogado, Matthew Gourlay, ele irá se declarar inocente. A defesa classificou o caso como “uma aplicação inovadora da lei”. Em e-mail, escreveu: “Não estamos cientes de nenhuma acusação semelhante no Canadá. Nossa posição é que nenhuma das condutas alegadas — que, para ser claro, não é admitida — se enquadra legitimamente na proibição criminal”.

As acusações ocorrem enquanto o país debate uma flexibilização recente de sua lei de suicídio assistido, o que tornou a política do país uma das mais liberais no mundo. Desde 2021, o Canadá permite a morte assistida para pessoas com condições crônicas dolorosas, mesmo que elas não sejam terminais. Ainda assim, a lei exige que as pessoas sejam avaliadas por um médico ou enfermeiro e sigam outras regras.

Esses profissionais estão isentos de acusações criminais de aconselhamento ou ajuda ao suicídio, que têm uma pena máxima de 14 anos de prisão. Simon James, inspetor da Polícia Regional de York, afirmou em coletiva de imprensa realizada em abril que as autoridades não irão tolerar “ações criminosas por parte daqueles que se aproveitam de pessoas vulneráveis nas comunidades”. Disse, ainda, que essas pessoas irão responder pela prática.

A polícia em Thunder Bay, cidade ao noroeste de Ontário, acredita que Ashtyn Prosser esteja entre aqueles que compraram produtos de Law. Ele morreu em março, um mês antes de completar 20 anos, disse a mãe Kim Prosser. Segundo ela, o jovem havia lutado contra problemas de saúde mental durante a pandemia. De acordo com as autoridades, Law vendia os produtos online desde o final de 2020.

Apelo público de investigadores

Em Montreal, a polícia anunciou que alguns pacotes foram enviados para endereços na cidade, levando a um apelo público de investigadores para que os destinatários e outras pessoas com informações se apresentassem. Em Calgary, investigadores aguardam os relatórios finais de toxicologia envolvendo duas mortes que podem estar ligadas ao canadense. Ao menos seis investigações estão em andamento na Colúmbia Britânica.

A força policial nacional da Irlanda também está investigando o caso após “um pequeno número de mortes repentinas” ser identificado durante verificações de bem-estar em endereços fornecidos pelas autoridades canadenses. Law foi preso em maio e acusado de dois casos. Outras 12 acusações foram apresentadas em agosto. Ele trabalhou como cozinheiro no Fairmont Royal York, um hotel de luxo em Toronto.

Kevin Abels, um organizador sindical, afirmou que Law foi demitido. Os suicídios pelos quais Law foi acusado ocorreram após o final de 2020, quando a polícia acredita que ele tenha começado a operar os negócios online. Mas além das acusações contra ele, especialistas em saúde em Ontário disseram que já haviam observado um aumento nos suicídios com o uso do sal tóxico.