Variedades
Nando Cunha, o pai de Buchecha no filme 'Nosso sonho', diz que este é o melhor papel de sua vida: 'Fizemos muitas cenas cruéis'
Com uma vida permeada na agressividade, alcoolismo e perdão, Claudino de Souza conseguiu a reconciliação com o filho, após morte de Claudinho

Mais que o sonho de dois meninos, o sucesso de Claudinho e Buchecha também era o grande desejo de um pai. Músico e compositor, Claudino de Souza, apesar de duro com o filho Buchecha, após muitos anos de relação conturbada, se reconciliou com a família. Nando Cunha, que o interpreta em “Nosso sonho”, nos cinemas desde quinta-feira, revela os desafios do papel, que o fez confrontar suas próprias vulnerabilidades e se encantar pela trajetória do homem que esteve por trás dos maiores hits da dupla.
Durante a infância e juventude de Buchecha, sua relação com o pai alcoólatra foi permeada por agressividade. Mesmo com a convivência complicada, Claudino influenciou as composições do filho, sendo “Nosso sonho” uma delas. Para entender mais sobre o vínculo entre os dois, Nando conversou com parentes de Seu Souza.
— Para mim era muito invasivo perguntar para ele (Buchecha), mas falei com o neto sobre as lembranças do avô. Ele disse só coisas boas, que era uma pessoa muito carinhosa, brincalhona, alto-astral... — conta o ator, que detalha: — Duas semanas antes da última cena, a esposa do Buchecha me disse que Seu Souza dançava muito com os meninos. Levei isso pro filme, e foi um dos únicos momentos de amor. O roteiro fala sobre perdão, e o Buchecha decidiu perdoar.
O pivô da reconciliação foi Claudinho, que insistiu que o amigo desse novas chances ao pai. Seu Souza foi morto em 2010, após uma confusão num bar no bairro Mutuá, em São Gonçalo, município onde a dupla de MCs cresceu. Ele teria pedido um cigarro a um homem, que negou. Após uma discussão, o criminoso matou Seu Souza com quatro tiros.
— O falecimento dele é lembrado no início e no fim do longa, mas não mostramos a morte. Fizemos cenas cruéis, mas cortamos as que podiam expor demais. Decidimos não mostrar uma pessoa tão importante para o Buchecha nesse lugar de vulnerabilidade — diz Nando, sobre a representação da morte e do alcoolismo.
Claudinho e Buchecha: como foi a tragédia que parou trajetória de sucesso da dupla
A figura paterna, na maioria das vezes distante, trouxe para o ator uma reflexão sobre o afeto e a privação dele. No fim da vida, com o perdão, Claudino chegou a compor uma canção com Buchecha, assinando a letra como Buchechão.
— Esse afeto sempre nos foi negado, entendo Seu Souza nesse sentido. Quantos sonhos ele tinha? Ele é a personificação do que é viver numa sociedade racista. Não temos perspectiva de oportunidade, de vida — argumenta Nando, que prossegue: — Ele não tinha ódio do filho, era uma raiva contida pelo que viveu, e o álcool mascarava tudo isso. Buchecha pegava a rebarba dessas dores.
Para Nando, o papel significa um novo capítulo em sua longa carreira.
— Em 30 anos de profissão, este é o melhor personagem que já tive, e espero virar uma página. Não sou um ator de uma nota só. O filme fala, na verdade, sobre o nosso sonho, de todos nós, pretos. Conta um pouco da minha própria história. A dupla nos encorajou a fazer arte, foi referência, dignificou as comunidades, mostrou que podíamos sonhar.
Nos bastidores, as cenas desafiadoras se contrapunham ao clima descontraído. Nando recorda as brincadeiras ao lado de Juan Paiva e Gustavo Coelho,o Buchecha na vida adulta e na infância, respectivamente.
— Eu tentava visualizar meu filho e isso tornava tudo muito mais dolorido. Tinha que destilar ódio por Juan, que, no olhar, sempre me entregava doçura. Com ele e Gustavo, eu aprontava muito, a gente dava susto em todo mundo — lembra Nando, que se emociona: — Mas tinha que virar a chave, entrar em cena. “Isso não é pra mim” era a frase que me trazia para o personagem. Amor, dinheiro, oportunidade, nada era para ele. Isso me tocou em um lugar real.
Além da identificação com as lutas de Souza, Nando levou para as filmagens um carinho pela dupla e memórias permeadas por hits como “Só love”, “Rap do Salgueiro” e “Fico assim sem você”.
— Quando Buchecha foi à gravação, tive a sensação de ver um ídolo — confessa o ator: — Quando meu filho estava na barriga da mãe, eu cantava para ele “tô louco pra te ver chegar, tô louco pra te ter nas mãos”. Hoje, escuto Claudinho e Buchecha com ele. Sou do subúrbio, da Penha, e eu curtia muito o funk, dominava todas as dancinhas. Foi muito legal reviver tudo isso.
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