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Fronteira entre EUA e México teve 686 migrantes mortos ou desaparecidos em 2022: 'rota terrestre mais perigosa do mundo'

Principal causa de mortes na perigosa travessia entre os dois países foi o afogamento, diz a Organização Internacional para as Migrações (OIM)

Agência O Globo - 15/09/2023
Fronteira entre EUA e México teve 686 migrantes mortos ou desaparecidos em 2022: 'rota terrestre mais perigosa do mundo'

A fronteira entre Estados Unidos e México foi a "rota migratória terrestre mais perigosa do mundo" em 2022, com 686 mortos ou desaparecidos em 12 meses, afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) em um relatório divulgado na terça-feira. O número representa quase metade do total de 1.457 mortes e desaparecimentos de migrantes documentados em todo o continente americano no ano passado, que foi o mais letal desde que a organização iniciou o Projeto Migrantes Desaparecidos (MMP) em 2014.

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De acordo com o resumo regional anual da OIM, a fronteira entre os dois países registrou 668 mortes de migrantes, entre eles 100 mulheres, 454 homens, 31 menores de idade e 83 que não tiveram sexo e idade determinados. A estatística revela uma queda de 8% no número de mortes na comparação com 2021, mas a organização alerta que os números deste ano podem ser maiores, em razão da falta de dados oficiais, incluindo os do condado fronteiriço no Texas e os da agência mexicana de busca e resgate.

Mais mortes no Caribe

A principal causa de mortes na grande fronteira entre Estados Unidos e o México foi o afogamento, seguido por condições ambientais extremas e falta de abrigo, alimentos e água adequados e acidentes com veículos ou óbitos vinculados a transportes perigosos. Quase metade das mortes ocorreu nos desertos de Sonora e Chihuahuan. Para comparação, no deserto do Saara foram contabilizadas 212 mortes em 2022, embora a OIM considere que os dados provavelmente estão incompletos.

— Estes números alarmantes são uma recordação cruel da necessidade de que os Estados devem atuar com firmeza — disse Michele Klein Solomon, diretora regional da OIM para América do Norte, América Central e Caribe.

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O relatório destaca que "uma das tendências mais preocupantes foi o aumento das mortes ao longo das rotas migratórias no Caribe, com 350 mortes documentadas em 2022, contra 245 registradas em 2021". As rotas marítimas mais perigosas da região são aquelas com destino aos Estados Unidos, entre o Caribe e a América Central e o trajeto da República Dominicana para Porto Rico.

A inóspita selva de Darién, outro corredor migratório para os Estados Unidos, na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, registrou 141 mortes de migrantes em 2022. No ano anterior foram documentados 51 óbitos e em 2020 outros 26 casos.

"Os dados representam uma estimativa mínima dos números reais, relatos informais continuam informando que um grande número de migrantes morre no Parque Nacional de Darién — inclusive há alguns testemunhos de pessoas que enterraram outros migrantes falecidos na selva — e os corpos nunca são recuperados", afirma a OIM.

A rota do Darién é a única terrestre da América do Sul para os Estados Unidos e registrou movimento recorde esse ano. Mais de 248 mil pessoas já cruzaram a selva na fronteira da Colômbia com o Panamá desde o início de 2023. O trecho é alvo de um controle cada vez maior por parte do governo panamenho que anunciou na sexta-feira o plano de intensificar a deportação dos migrantes que entram no país por esta fronteira natural de 266 km de extensão.