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Pense como criança: ter uma atitude brincalhona durante o treino melhora o rendimento e a saúde mental; entenda

Se você quer se movimentar mais, volte à sua infância e deixe as coisas ficarem bobas

Agência O Globo - 20/08/2023
Pense como criança: ter uma atitude brincalhona durante o treino melhora o rendimento e a saúde mental; entenda

Kyle Luigs era uma criança tímida que adorava esportes. Ele terminou o segundo ano do Ensino Médio jogando como arremessador pela Universidade de North Georgia em 2018 e precisava de um lugar para jogar durante o verão. Então, decidiu participar de um time profissional de beisebol, o Savannah Bananas.

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A equipe ficou famosa por causa de coreografias de grupo compartilhadas no TikTok. O Bananas é conhecido pelas palhaçadas como, por exemplo, um jogador fazendo um espacate completo na caixa de rebatidas e dando, em seguida, uma cambalhota até a primeira base, tacos em chamas, danças no meio do jogo no campo externo e rebatedores em pernas de pau.

Mas Luigs não dançava nem em casamentos, nem em festas e, muito menos, na frente de um estádio de futebol lotado. Demorou um pouco para ele se acostumar a usar um chapéu de caubói amarelo e brincar no montinho de arremessos, mas depois de dois verões, ele percebeu que sentir-se solto em meio às brincadeiras no campo o relaxava.

Luigs lembrou do treinador da universidade dizendo: “Por que você não pode arremessar da mesma forma que arremessa aqui?”

Quando os adultos fazem exercícios —seja correndo, fazendo flexões ou jogando futebol— tendem a ter a mesma expressão mais séria nos rostos. No entanto, muitos especialistas dizem que adotar uma atitude brincalhona em relação aos exercícios beneficia a saúde mental, diversifica o treino e incentiva as pessoas a continuarem se movendo.

Deixe de lado suas inibições em relação ao movimento

Para a maioria das pessoas, o movimento deixa de ser divertido no início da adolescência, quando muitos param de brincar e esportes competitivos entram em cena, segundo Matthew Ladwig, professor assistente de saúde humana integrativa na Purdue University Northwest, nos Estados Unidos.

Darryl Edwards, fundador de um programa de exercícios chamado Método Primal Play, diz que a chave para redescobrir a diversão das atividades físicas é acessar memórias de quando o exercício não era uma tarefa. Em 2011, ele deixou um emprego estressante em um banco de investimento para se tornar um personal trainer. No entanto, ele percebeu logo que muitos clientes pareciam entediados, olhando para o relógio ou cancelando os treinos de última hora. Ele também percebeu que frequentemente ele próprio ficava entediado.

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Então ele olhou para a sua infância em busca de inspiração:

— A parte mais importante do meu dia era: “Quando vou brincar? Com quem vou brincar?” — lembrou ele.

Edwards começou a incorporar brincadeiras em seus treinos e nos de seus clientes: subir em árvores, equilibrar-se em corrimãos e rastejar de quatro em vez de ir à academia. Eventualmente, ele desenvolveu um treino com o objetivo de construir força e resistência por meio de brincadeiras infantis. Seus clientes fazem cavalinho e brincam de pega-pega em vez de levantar pesos.

Ele afirma que os clientes não apenas obtêm um treino sólido, como isso também muda a forma como veem o movimento. Uma mãe que tinha dificuldade em encontrar tempo para se exercitar começou a fazê-lo com os filhos a caminho da escola, pulando sobre rachaduras na calçada e brincando de amarelinha, e agora chega ao trabalho revigorada.

— Brincar não é a atividade, mas a atitude que você tem — argumentou Edwards.

Encontre maneiras pequenas de ser mais lúdico

Comece observando as crianças enquanto brincam. Matthew Ladwig pontua que as crianças não se movem constantemente por longos períodos de tempo. Elas param e recomeçam: correndo atrás de uma bola e depois brincando de algum jogo. Peça a um amigo para chutar uma bola ou jogar um disco com você no parque. Ou incorpore explosões de corrida ou pulos em suas caminhadas diárias.

As crianças se distraem facilmente com a diversão, então para corredores com um espírito aventureiro, Edwards sugere usar os lugares por onde passa como um parque de diversões, equilibrando-se em corrimãos ou subindo em árvores.

Se isso parece arriscado demais, ele recomendou quicar uma bola durante o passeio com o cachorro ou transformar isso em um jogo, dando a si mesmo dois pontos se passar por alguém e subtraindo cinco se outra pessoa fizer a ultrapassagem. Ou escolher coisas para contar, como postes de luz, carros vermelhos ou algo que faça rir, até atingir um número específico.

As crianças também não se preocupam em cometer erros ou parecerem bobas enquanto se exercitam. A treinadora Erica Nix, do Texas, nos Estados Unidos, recomendou aumentar o volume da música favorita e dançar pela sala de estar. Para as aulas de aeróbica online, ela até veste roupas de academia vintage e interpreta as letras das músicas.

— Quero tornar isso divertido, engraçado, algo que não seja tão perfeccionista — destaca ela, recomendando que o exercício seja um momento prazeroso, no qual coisas novas são experimentadas, sem medo de possíveis erros.

Edwards considera que diversão não significa sorrir o tempo todo. No entanto, ao terminar o treino e pensar que mal pode esperar para fazê-lo novamente no dia seguinte é algo que provavelmente você continuará seguindo forte.