Geral

Arnaldo Brandão, que faz show com Caetano, lembra o dia em que tocou no mesmo palco que Jimi Hendrix

Conhecido por integrar bandas como Brylho e Hanoi Hanoi, músico se apresenta nesta quinta-feira no Manouche: 'Vamos cantar Odara', avisa

Agência O Globo - 17/08/2023
Arnaldo Brandão, que faz show com Caetano, lembra o dia em que tocou no mesmo palco que Jimi Hendrix
Arnaldo Brandão - Foto: Instagram - @arnaldopbrandao

Arnaldo Brandão foi mais um dos que não aguentaram esperar pelo show de Caetano Veloso no festival Doce Maravilha, no último domingo, quando o baiano reviveu seu disco "Transa", de 1972.

Entenda: Vídeo de alienígena passeando de metrô em Nova Iorque viraliza

Mais 'Transa'? Paula Lavigne repassa pedido do público para Caetano, que se mostra decidido; entenda

– As pessoas estavam muito felizes na Marina da Glória, todo mundo se beijando na boca – conta o músico de 71 anos. – O único infeliz era eu, não conhecia ninguém, não tinha quase ninguém da minha faixa etária... Esperei, esperei, e não aguentei mais. Fui embora à 0h15, no meio da escuridão e do mar de lama. Acabei vendo no YouTube.

Uma pena, mas Arnaldo tem outras lembranças de festivais com Caetano.

– Toquei com ele no festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, em 1970 – lembra o músico conhecido por bandas como Brylho e Hanoi Hanoi, que hoje recebe Caetano no Manouche, às 21h, na série de shows em que comemora 50 anos de carreira. – A gente se conheceu em Lisboa, quando a minha banda, A Bolha, foi tocar com Gal Costa em shows para a TV portuguesa. A gente tinha dinheiro, dos bailes que fazíamos aqui no Rio, e fomos para o festival. Caetano nem queria ir, dizia que tinha ido no ano anterior e que não tinha espírito de escoteiro para ficar lá acampado.

Um amigo gravou Arnaldo e seus companheiros da Bolha levando um som com Caetano e Gilberto Gil e emplacou a turma no festival.

– Nós abrimos o último dia, o mesmo de Jimi Hendrix (em um de seus últimos shows, já que o guitarrista morreria menos de um mês depois) – conta Arnaldo. – Eu, Pedrinho (Lima, guitarrista) e Gustavo (Schroeter, baterista) tocamos percussão enquanto Caetano e Gil cantavam e tocavam seus violões. Foi filmado, dá pra achar por aí.

Casual, né? Apenas o mesmo palco (até porque o festival só tinha um) que Hendrix, The Doors, Sly and the Family Stone, Joni Mitchell e outros. Os encontros com lendas da música não parariam por aí.

– Em 1972 fui morar em Londres, e lá conheci Rufus Collins, ator do Living Theater e amigo da Bianca Jagger (então mulher de Mick) – relata. – Através dela conhecemos o Mick Taylor (guitarrista dos Rolling Stones). Ficamos muito amigos, ele até nos chamou, eu e Cláudia, minha mulher, para morar com ele. Nas madrugadas, no meio daqueles excessos todos, ele dizia que queria sair da banda, que eles tocavam muito alto, não davam a ele o crédito nas músicas. Eu dizia: "Não, pelo amor de Deus, não sai!" (risos). Não deu certo, ele acabou saindo em 1974. E eu, que não cheirava, só gostava de maconha e ácido...

'Besouro Azul': O GLOBO já viu; saiba o que esperar do filme com Bruna Marquezine

Emanuelle Araújo: atriz lança drama sobre violência sexual contra crianças

Depois de três anos na capital inglesa, o casal, hoje separado, voltou ao Rio, com o filho Rodrigo (guitarrista da banda Leela), nascido lá.

– Viemos para fugir dos excessos e fomos tocar logo com Raul Seixas – lembra ele, às gargalhadas, uma história que também conta no show.

De baiano em baiano, depois de acompanhar músicos como Jorge Mautner, Luiz Melodia e Os Doces Bárbaros, Arnaldo finalmente se tornou baixista da Outra Banda da Terra, grupo de Caetano no fim dos anos 1970 e começo dos 1980.

– Eu ia muito à casa dele, levar som, com o Vinícius Cantuária (compositor e multi-instrumentista, autor de “Só você”, depois regravada por Fábio Jr) – conta ele. – Fizemos o arranjo de “Odara”, ele adorou e nos mandou gravar no dia seguinte. Quando a música estourou, achei que tinha arrumado o emprego, mas Caetano foi cantar no Teatro João Caetano e chamou a Banda Black Rio, maravilhosa, mas achei que não carburou. A temporada, que seria de um mês, acabou em apenas duas semanas.

Finalmente o convite veio, e por cinco anos Arnaldo acompanhou o amigo que hoje recebe no Manouche.

“Tenho a felicidade de ter tido Arnaldo como companheiro de estúdios e palcos”, escreveu Caetano no Instagram, ao desculpar-se por ter confundido a data do show anterior no Manouche, em julho, e postar um vídeo dos dois. "Ele já é bonito hoje, imagina aos 18 anos: era bonito pra caramba", lembra o baiano.

Segundo Arnaldo, Caetano levou um susto quando ele disse que sairia de sua banda para se concentrar no Brylho, grupo soul que tinha no jovem Claudio Zoli sua figura central.

– Depois que “Noite de prazer” estourou, eu achei que não seria honesto ficar nas duas bandas – avalia ele. – Mas depois me arrependi.

‘Tenho uma dublê’: Shakira compartilha vídeo de 'gêmea' que imita nova coreografia

Mesmo o sucesso do Hanoi Hanoi, com “Totalmente demais” (de 1986, regravada depois pelo próprio Caetano), não garantiu uma vida financeira tranquila a Arnaldo, coautor também de “Rádio blá”, sucesso de Lobão, e “O tempo não para”, de Cazuza.

– Foi o Hanoi que me permitiu pegar a oficina mecânica do meu pai e construir os estúdios – conta ele. – E olha que a música nem tocou tanto no Rio, porque um diretor de uma rádio não gostou do verso “Namora sempre com gay”. Em Minas Gerais, até hoje as pessoas cantam todas do Hanoi nos meus shows.

Depois de “administrar uma oficina como se fosse uma banda e uma banda como se fosse uma oficina”, ele acumulou dívidas, pagas ao longo dos anos.

– Prefiro nem fazer as contas, porque o interesse pelo estúdio de gravação caiu muito, hoje todo mundo grava em casa – diz. – O que salva são as bandas de rock e metal, que ensaiam e fazem festas aqui.

Os shows dos 50 anos – além do lançamento do disco “Brandão psicopop” – devem continuar, uma vez por mês, sempre com convidados.

– Vamos cantar “Odara”, “Eclipse oculto” e mais uma surpresa – adianta Arnaldo, que, se já tocava profissionalmente no fim dos anos 1960 (quando largou o Colégio Santo Inácio pela banda de Gal Costa), como está só agora comemorando 50 anos de carreira? – Na verdade, a festa era pelos meus 70 anos, que completei no fim da pandemia e ficaram para agora. Esse negócio dos 50 de carreira é só para aparecer no jornal.