Internacional

Rússia afirma ter interceptado drone americano no Mar Negro

Avião russo voltou à sua base depois de confirmar que MQ-9A 'Reaper' não havia violado o espaço aéreo do país

Agência O Globo - 05/08/2023
Rússia afirma ter interceptado drone americano no Mar Negro

A Rússia disse neste sábado que enviou um de seus caças para interceptar um drone americano Reaper que, segundo Moscou, se aproximou de sua fronteira aérea sobre o Mar Megro antes de voltar. O caso ocorre em um momento de grande tensão na região, após a Ucrânia afirmar ter atingido um petroleiro russo com drones navais no Estreito de Kerch, que divide a península da Crimeia do território russo.

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"A tripulação do caça russo identificou o alvo aéreo como um drone de reconhecimento MQ-9A 'Reaper' da Força Aérea dos EUA", disse o Ministério da Defesa da Rússia no Telegram, acrescentando que o avião russo voltou à sua base depois de descobrir que não houve uma violação de seu espaço aéreo.

O Serviço de Segurança ucraniano advertiu sobre a continuidade das operações na região. O ataque ao petroleiro, feito pela Ucrânia, ocorreu um dia depois que um navio russo foi atingido no Mar Negro, e interrompeu o tráfego por cerca de três horas em uma ponte estratégica entre a Rússia e a Península da Crimeia. As operações militares de ambos os lados na região aumentaram desde que a Rússia se retirou, em julho, de um acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos por via marítima.

— Durante a noite, o SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) atingiu o Sig, um grande petroleiro da Federação Russa que transportava combustível para as tropas russas — disse uma fonte sob anonimato à AFP, observando que "outra operação especial bem-sucedida foi realizada em conjunto com a Marinha", em referência ao ataque do dia anterior.

Vasyl Malyuk, chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia, disse que o país é responsável pelos recentes ataques a navios russos, chamando-os de uma tática "lógica" e "eficaz", mas sem mencionar explicitamente o ataque deste sábado. Malyuk sugeriu ainda que a Ucrânia continuaria atacando a ponte até que as forças russas se retirassem completamente das terras ucranianas. "Além disso, essas operações especiais são conduzidas nas águas territoriais da Ucrânia e são completamente legais", acrescentou.

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A sala de máquinas do petroleiro foi danificada, mas o navio permaneceu de pé, não houve derramamento de óleo e nenhum membro da tripulação de 11 pessoas ficou ferido, disse a Agência Federal de Transporte Marítimo e Fluvial da Rússia no serviço de mensagens Telegram. Rybar, um popular blog pró-guerra russo, disse que o petroleiro estava retornando da entrega de petróleo para a Síria.

O petroleiro estava próximo da ponte do Estreito de Kerch, uma conexão vital para a Rússia com a Península da Crimeia, que está sob ocupação russa desde 2014, e alvo de uma explosão em julho, levando a Rússia a abandonar o acordo mediado há um ano pela ONU e Turquia, que permitia a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro — numa saída que aumenta o risco de uma nova crise alimentar e inflacionária no mundo.

Um outro drone marítimo teria sido abatido pelos russos perto de Sebastopol, na Península da Crimeia, ocupada pela Rússia, o que interrompeu temporariamente a navegação na área, de acordo com a agência russa de notícias Tass.

Após os ataques dos drones navais, o Serviço Hidrológico do Estado Ucraniano emitiu um alerta costeiro aos serviços de transporte marítimo que usam vários portos russos na região como uma "área de risco de guerra" até segundo aviso.

Ataques consecutivos

A operação deste sábado é uma aparente continuação do desafio da Ucrânia ao controle de Moscou sobre o Mar Negro. No ataque do dia anterior perto de Novorossiysk, um centro marítimo e naval russo na costa nordeste do Mar Negro, um drone naval atingiu um navio-anfíbio da classe Ropucha, que mais tarde foi visto tombando na água em fotos e vídeos verificados pela imprensa internacional.

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Três autoridades ucranianas, falando sob condição de anonimato, disseram que o ataque em Novorossiysk foi realizado com sucesso pelo Serviço de Segurança da Ucrânia e pela Marinha ucraniana.

A frota russa no Mar Negro foi atacada várias vezes desde que a invasão russa da Ucrânia começou em fevereiro de 2022, e esses ataques se intensificaram nas últimas semanas com a suspensão do acordo de grãos. Desde então, Moscou alerta que qualquer navio que navegue em direção aos portos ucranianos seria considerado potencialmente hostil, uma postura também adotada por Kiev.

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"A cada nova missão de combate, os UAVs [veículos aéreos não tripulados] e drones marítimos ucranianos se tornam mais precisos, os operadores mais experientes, a coordenação de combate mais eficaz e os fabricantes têm a oportunidade de melhorar as características táticas e técnicas", escreveu no Twitter Oleksiy Danilov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia , neste sábado.

Com uma frota cada vez maior de barcos de ataque não tripulados, de onde têm partido ataques repetidos a navios de guerra russos, Kiev têm instado a comunidade internacional a acabar com o que chama de tirania russa no mar.

"A presença da frota russa no Mar Negro chegará ao fim", disse o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak nas redes sociais. "A Ucrânia garantirá liberdade e segurança no Mar Negro para o comércio mundial", acrescentou.

Cidade tomada

Paralelamente ao ataque no Estreito de Kerch, militares russos reivindicaram a captura da cidade de Kupiansk, no nordeste da Ucrânia, onde as tropas de Moscou atacam há várias semanas, em oposição à frente sul, onde estão se defendendo da contraofensiva ucraniana. Tropas ucranianas haviam retomado o controle da cidade em dezembro de 2022.

"Na área de Kupiansk, como resultado das ações competentes e profissionais das unidades militares (...), a vila de Novoselivske foi libertada", disse o Ministério da Defesa da Rússia no Telegram.

O Exército ucraniano disse na sexta-feira que enfrenta ataques russos nos setores de Kupiansk, Lyman e Svatove. "O número de ataques inimigos aumentou. Combates violentos estão ocorrendo", disse a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Ganna Maliar. Segundo ela, o objetivo da Rússia é "desviar" as forças ucranianas para essas áreas e "romper as defesas". (Com AFP, Bloomberg e NYT.)