Internacional

'Toureiros anões' se apresentam na França após Espanha proibir espetáculos de 'escárnio e zombaria'

Evento aconteceu em Téthieu, no sul da França, perto da fronteira com a Espanha; aprovada pela direita e esquerda, lei espanhola divide opiniões

Agência O Globo - 04/08/2023
'Toureiros anões' se apresentam na França após Espanha proibir espetáculos de 'escárnio e zombaria'

Uma companhia espanhola de "toureiros anões" apresentou seu espetáculo na França mesmo após o evento ter sido proibido em seu país de origem, a Espanha, em abril deste ano. O motivo era evitar que pessoas com deficiência (PCDs) fossem usadas como atrações "para provocar no público ridicularização, escárnio ou zombaria".

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Em meio a risos e aplausos, os membros da "Diversiones en el ruedo" (Diversões na arena) apresentaram esquetes, cenas cômicas — com e sem animais — e trocaram de figurino várias vezes. O show recebeu 650 espectadores em Téthieu, no sul da França, perto da fronteira espanhola.

— É um espetáculo cômico, não tem sangue nem execução, só paródia — afirma o coordenador da companhia de 11 artistas, Daniel Calderón.

Há apresentações semelhantes em outros países, como Colômbia, República Dominicana, Peru, Brasil, México e até Estados Unidos, mas a tradição tende a desaparecer.

"Gostamos de fazer isto"

A lei foi aprovada pelo Parlamento espanhol, com apoio da esquerda e da direita, em 27 de abril. O texto proíbe os espetáculos de "toureiros anões" e todos aqueles considerados humilhantes para pessoas com deficiência. Contudo, ainda assim divide opiniões.

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Para Calderón, por exemplo, a proibição "é uma falsa defesa, usada por pessoas que simplesmente não querem touradas". A lei aprovada pelo Congresso foi contestada e continua sujeita a interpretações.

Em seus trajes de lantejoulas, Paul Muñoz, de 31 anos, passados dez deles no mundo das touradas, denuncia "uma injustiça porque ninguém pediu nossa opinião".

— Nós gostamos de fazer isto, é o nosso trabalho —argumenta.

"Contraproducente"

Para Violette Viannay, presidente da associação francesa de pessoas com nanismo — que trabalha "para promover uma maior inclusão" —, esse tipo de espetáculo é "contraproducente". A presidente destaca que a condição está longe de ser "apenas uma questão de tamanho" e lembra que, "além das dificuldades de acessibilidade, pode causar graves problemas de saúde".

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Já a autoridade francesa responsável pelas pessoas com deficiência, Fadila Khattabi, considera que, "embora todos sejam livres para participar ou não dessas apresentações, a zombaria e a discriminação contra as pessoas de estatura baixa são parte de uma história centenária que devemos encerrar".

— Considerar o nanismo como fonte de entretenimento é um problema e é urgente repensar coletivamente essa representação — afirma.