Internacional
Cresce raiva em cidade chinesa forçada a virar 'fosso' de inundação para livrar Pequim de fortes chuvas
Moradores de Zhuozhou, na província de Hebei, dizem que não receberam aviso das autoridades locais sobre o desvio das enchentes, que obrigaram a evacuação de milhares
Durante dias, a chuva caiu torrencialmente, atingindo Pequim e as áreas ao redor no que o governo disse ser o dilúvio mais forte que a capital da China já viu desde o início da manutenção de registros, 140 anos atrás. Quando a chuva extrema finalmente parou na terça-feira, a maior parte de Pequim foi poupada do pior, em parte porque as autoridades garantiram que as águas da enchente fossem para outro lugar.
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Funcionários da província de Hebei, que faz fronteira com Pequim, abriram comportas e vertedouros em sete zonas baixas de controle de enchentes para evitar que rios e reservatórios transbordassem em Pequim e em outra metrópole da região, Tianjin, informou a mídia estatal.
O líder do Partido Comunista de Hebei, Ni Yuefeng, disse que ordenou a "ativação de áreas de armazenamento e desvio de inundações de maneira ordenada, para reduzir a pressão sobre o controle de inundações de Pequim e construir resolutamente um 'fosso' para a capital".
Essa ação inundou ainda mais a cidade vizinha de Zhuozhou, em Hebei, que já vinha lutando para conter suas próprias enchentes depois que um dique se rompeu e um rio local transbordou. Suas ruas e bairros se transformaram em um lago marrom e lamacento, com água de até sete metros de profundidade destruindo casas e comércios.
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Quase um milhão de pessoas foram forçadas a evacuar a província e as aldeias adjacentes à periferia de Pequim. Em algumas áreas, a inundação interrompeu o fornecimento de energia, bem como as conexões de internet e celular. Moradores postaram pedidos on-line de ajuda para encontrar centenas de pessoas desaparecidas.
A China não é o único país que às vezes abre vertedouros para desviar as águas das enchentes das grandes cidades para áreas com menos moradores, uma medida emergencial de último recurso destinada a reduzir a destruição e a perda de vidas.
Porém, a crise em Zhuozhou desencadeou raiva generalizada, em parte porque a ajuda inicialmente demorou a chegar em algumas áreas, deixando muitos presos. Os sobreviventes também reclamaram que não receberam amplo aviso sobre a descarga das águas da enchente e questionaram se seriam compensados por suas perdas.
Em particular, as pessoas denunciaram o que consideram uma liderança de Hebei que está mais interessada em apaziguar os líderes nacionais em Pequim do que em proteger milhões de cidadãos chineses. O comentário do "fosso" de Ni, aparentemente insensível às perdas sofridas por seus residentes, tornou-se uma hashtag que rapidamente acumulou mais de 60 milhões de visualizações antes que os censores começassem a suprimir a discussão on-line.
— Para proteger Pequim, ninguém se importa se nós em Hebei estamos sendo inundados — reclamou um morador de um vilarejo nos arredores de Zhuozhou na manhã desta sexta-feira, falando sob condição de anonimato por medo de represálias por criticar o governo.
Outro residente estava à beira de um campo ao lado de sua aldeia parcialmente submersa nos arredores da cidade, esperando que a água baixasse até a altura das coxas. Ele disse que colocou seus pertences em cadeiras e depois em cima das camas antes de fugir de casa quando as águas subiram. Mas a água fluiu por pelo menos dois metros de profundidade em sua casa, arruinando seus pertences e destruindo sua pilha de materiais de construção nas proximidades.
— Ninguém nunca nos informou sobre a enchente ou nos disse para nos prepararmos para evacuar. Se soubéssemos dessa informação, não teríamos deixado tantas coisas para trás — disse o morador, que deu seu nome de família, Yu. — Está tudo encharcado de água. Mal consigo calcular minha perda.
Dois grupos chineses parceiros da Humane Society International, a Capital Animal Welfare Association em Pequim e Dalian Vshine, estimaram que as enchentes levaram 400 cães e 300 gatos de abrigos, embora alguns tenham sido encontrados agarrados a telhados e copas de árvores rio abaixo.
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O governo e o partido reservaram pelo menos US$ 20 milhões (R$ 98 milhões) para prevenção de inundações, socorro e esforços de reconstrução em Pequim e Hebei; outros US$ 63 milhões (R$ 309 milhões) foram alocados nesta sexta-feira para Pequim, Tianjin e Hebei para a restauração de represas, reservatórios e outras instalações de água. O governo de Zhuozhou emitiu um apelo nacional na quinta-feira para doações de dinheiro e suprimentos de emergência.
O jornal oficial China Daily publicou um comentário pedindo que os residentes que sofreram perdas por causa do desvio de inundação sejam compensados, conforme exigido pela lei chinesa, pelo menos para aqueles que vivem em áreas designadas de desvio de inundação.
Mas a inundação se estendeu além das áreas de desvio designadas, o que pode complicar a compensação. E muitos que vivem em Zhuozhou são migrantes de outras províncias que não têm residência legal em Hebei.
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— Você acha que nós, migrantes, somos elegíveis para receber uma compensação? — disse outro morador, que ganha a vida coletando lixo descartado em Pequim e vendendo-o para recicladores em Hebei. — É impossível.
A China vem lidando há vários anos com emergências climáticas extremas em todo o país. A chuva desta semana ao longo da fronteira provincial de Pequim-Hebei ocorreu logo após a onda de calor mais severa em Pequim desde que as leituras modernas de temperatura começaram em 1961.
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