Internacional
'Cinturão golpista': com Níger, África subsaariana sofre seis golpes de Estado em três anos
Região do Sahel, localizada entre o deserto e a savana, é alvo da violência jihadista desde 2011, que reflete também em instabilidade política

Já era tarde de quarta-feira quando militares da Guarda Presidencial do Níger foram à TV nacional comunicar à população que o governo do presidente Mohamed Bazou, democraticamente eleito em 2021, havia caído e que, a partir de então, as decisões seriam tomadas por uma junta. No discurso lido ao vivo, alegaram “deterioração contínua da situação da segurança e má governança econômica e social” do país, uma democracia frágil recém-constituída que viveu diversos golpes ou tentativas de golpe desde 1960, quando finalmente conquistou sua independência da França.
Com o Níger, já são seis governos derrubados por militares na África subsaariana desde 2020: nos últimos três anos foram registradas iniciativas desse tipo no Mali, na Guiné e em Burkina Faso, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau. Conhecida como Sahel, a região empobrecida é localizada entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul, e sofre desde 2011 com a violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e organizações ligadas à al-Qaeda.
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Saiba como, quando e onde ocorreram esses golpes:
Níger: o presidente sequestrado
Após um dia de tensão na quarta-feira em Niamei, a capital do Níger, os líderes do golpe militar anunciaram na televisão nacional à tarde que haviam derrubado o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum, que estava no poder desde 2021.
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Eles justificaram a iniciativa com "a contínua deterioração da situação de segurança" no Níger. No entanto, o presidente — sequestrado em sua residência oficial — e seu governo afirmaram na quinta-feira que ainda representam as autoridades legítimas do país.
A junta militar, que reúne todos os ramos do Exército e das polícias civil e militar, suspendeu as instituições, fechou as fronteiras e instituiu um toque de recolher das 22h às 5h (horário local).
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Mali: dois golpes de Estado em nove meses
Em 18 de agosto de 2020, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, foi derrubado após vários meses de crise política. Menos de dois meses depois, em 5 de outubro, foi formado um governo de transição, que deveria devolver o poder aos civis em 18 meses.
Mas em 24 de maio de 2021, os militares prenderam o presidente e o primeiro-ministro após a nomeação de um novo governo de transição que eles desaprovavam.
O coronel Assimi Goïta foi empossado como presidente de transição em junho de 2022 e, logo depois, a França retirou as tropas enviadas para combater o jihadismo. E em junho de 2023, os malineses aprovaram uma nova Constituição, descrita pela oposição como uma ferramenta para manter a junta no poder após a eleição presidencial marcada para fevereiro de 2024.
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Burkina Faso: golpe no golpe
Em 24 de janeiro de 2022, militares anunciaram na televisão que haviam tomado o poder e deposto o presidente Roch Marc Christian Kaboré. O tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba foi empossado como presidente pouco tempo depois, em 16 de fevereiro.
Na noite de 30 de setembro, porém, Damiba foi destituído e o capitão Ibrahim Traoré assumiu como presidente de transição até uma eleição presidencial programada para julho de 2024, que deve permitir que os civis retornem ao poder.
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Guiné: governo provisório desde 2021
Em 5 de setembro de 2021, um grupo de militares liderados pelo coronel Mamady Doumbouya, responsável pelas Forças Especiais da Guiné, derrubou o governo do presidente Alpha Condé, dissolveu as instituições do país, suspendeu a Constituição e fechou fronteiras, tanto aéreas quanto terrestres. Dois anos depois, um governo provisório continua à frente do Estado.
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