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Jornais israelenses amanheceram com capas pretas em luto por democracia, um dia após avanço da reforma do Judiciário

Ação foi financiada por grupos de manifestantes da alta tecnologia em repúdio à votação da medida no dia anterior

Agência O Globo - 25/07/2023
Jornais israelenses amanheceram com capas pretas em luto por democracia, um dia após avanço da reforma do Judiciário
Jornais israelenses amanheceram com capas pretas em luto por democracia, um dia após avanço da reforma do Judiciário - Foto: Reprodução

Jornais israelenses amanheceram com as capas pretas nesta terça-feira, em protesto à aprovação de uma cláusula-chave da controversa reforma do Judiciário promovida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e sua coalizão de extrema direita. A ação foi financiada por grupos de manifestantes da alta tecnologia em repúdio à votação da medida no dia anterior, que já provocou recursos judiciais e intensos protestos nas ruas de todo o país, suscitando também críticas de aliados no exterior.

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"Um dia sombrio para a democracia de Israel", lia-se, em uma fonte pequena, nas capas dos jornais. No topo, em letras ainda menores, aparecia a palavra "publicidade". Porém, apesar de todas as publicações — o Yediot Aharonot, Calcalist, Israel Hayom e Haaretz, segundo o site Jerusalem Post — divulgarem que se tratava de um anúncio pago, muitos leitores reclamaram que a informação não estava explícita o suficiente.

"Eles nos pegaram! Nós nos esforçamos tanto para esconder nosso logotipo, [está na] página 2 do jornal", respondeu no Twitter o grupo financiador — que engloba representantes, funcionários, acionistas e CEOs de companhias do setor em Israel — ao reivindicar publicamente os anúncios.

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Por sua vez, o ministro ultranacionalista da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, reagiu dizendo que "não é assim que se parece um protesto popular", criticando a ação de "entidades estrangeiras que financiam as manifestações" ao gastarem milhões de shekels pelas publicações. O radical ministro também afirmou que esses grupos estão tentando "fazer uma campanha para destruir o país".

Um anúncio de primeira página em um jornal israelense custa aproximadamente de 295 mil shekels, algo em torno de R$ 379 mil, disse a agência Zenger News citando postagens de usuários do Twitter que comentaram o assunto. Dessa forma, o custo total da iniciativa promovida pelo grupo seria de ao menos R$ 1,5 milhão.

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'Etapa democrática necessária'

Na véspera, a votação na Knesset, o Parlamento de Israel, concentrou-se na chamada cláusula de "razoabilidade", que limitará a capacidade da Suprema Corte de anular decisões do governo. Críticos temem que a reforma seja uma ruína para a democracia em Israel ao remover os freios e contrapesos do Executivo. Por sua vez, em discurso transmitido pela televisão, Netanyahu defendeu a aprovação da cláusula como "uma etapa democrática necessária".

Em suma, o texto proíbe completamente os tribunais de usar o critério para invalidar ou discutir decisões tomadas pelo governo e outras autoridades eleitas, conforme estabelecido em lei. Na prática, impedirá que a Corte bloqueie decisões do governo que não considerem razoáveis, algo que Netanyahu, em julgamento por corrupção, e seus aliados afirmam ser necessário para conter a "politização" do Judiciário.

Desde o anúncio deste polêmico projeto em janeiro, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram todas as semanas em Israel, no que é considerado um dos maiores movimentos de protesto da História do país, despertando também um raro repúdio público dos aliados na Casa Branca.

Os protestos atraíram o apoio de todos os estratos políticos e sociais, tanto da esquerda quanto da direita, grupos seculares e religiosos, ativistas pela paz e reservistas militares, além dos profissionais do setor de tecnologia, fundamental para a economia do país. (Com AFP.)