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França, Espanha, Canadá: seleções passaram por turbulências na preparação para a Copa

Principal adversária do Brasil no Grupo F, França estreia amanhã depois com treinador novo em início de trabalho. Espanha e Canadá também enfrentaram crises recentes

Agência O Globo - 22/07/2023
França, Espanha, Canadá: seleções passaram por turbulências na preparação para a Copa
Fifa - Foto: Divulgação/Fifa

Quinta, sexta e sétima colocadas no ranking de seleções da Fifa, França, Espanha e Canadá chegaram para disputar a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia em meio a turbulências internas. As três equipes passam por processos de reestruturação, e há divergências entre jogadoras, comissão técnica e as federações, o que afetou a preparação para o Mundial.

Entre as seleções que brigam pelos primeiros lugares, a França é quem passou por uma mudança mais significativa e recente. A principal adversária do Brasil na fase de grupos estreia amanhã, às 7h, contra a Jamaica, em jogo que será apenas o quinto comandado por Hervé Renard.

O treinador deixou a seleção masculina da Arábia Saudita para assumir o novo compromisso, o que botou panos quentes na crise entre jogadoras e a Federação Francesa de Futebol (FFF). Capitã e principal jogadora, a zagueira Wendie Renard, chegou a anunciar em fevereiro a aposentadoria da seleção, por não concordar com as filosofias de trabalho da ex-treinadora Corinne Diacre, no comando desde 2017.

A decisão foi seguida também por outras duas estrelas, Kadidiatou Diani e Marie-Antoinette Katoto — que se lesionou em maio e está fora da Copa —, alegando terem atingido um “ponto sem retorno”. Os pedidos de dispensa preocuparam a FFF e forçaram a demissão de Diacre.

Sob o comando de Renard, a França disputou quatro amistosos, com três vitórias e uma derrota para a Austrália, há uma semana. O objetivo é superar a participação no último Mundial, quando o fator casa ajudou a França a chegar até as quartas de final, eliminando o Brasil no percurso.

Para isso, Hervé conta com os retornos da capitã Renard e da artilheira Diani. Além delas, jovens jogadoras como a meia Fazer e a atacante Bècho, que vêm de boas temporadas nos clubes, representam promessas para o futuro.

'As 15' da Espanha

Na Espanha, a crise estourou em setembro de 2022, quando 15 jogadoras mandaram um e-mail à federação de futebol do país (RFEF) pedindo para não serem mais convocadas. Elas relatavam, em cartas individuais, que “os últimos acontecimentos” da seleção estavam “afetando significativamente o meu estado emocional e, portanto, a minha saúde”.

A situação foi atribuída a desavenças com o treinador da equipe, Jorge Vilda, que a partir da data passou a não convocar “as 15”, como ficaram conhecidas.

As queixas passavam por toda a estrutura e o apoio dado à seleção feminina, e não se limitavam ao comando de Vilda. Após o treinador afirmar que iria continuar no cargo até o final do contrato, em 2024, “as 15” resolveram se afastar das atividades da seleção.

A crise também escancarou uma divisão no vestiário entre jogadoras dos dois principais clubes do país. Seis atletas do Barcelona (Patri Guijarro, Mapi León, Sandra Paños, Aitana Bonmatí, Mariona Caldentey e Claudia Pina) formaram a maior parte “das 15”, ainda com o apoio de Alexia Putellas, lesionada, e Irene Paredes, que apoiou publicamente o ato, apesar de não assinar a carta. Enquanto isso, nenhuma jogadora do Real Madrid se juntou ao protesto. Artilheira da Espanha, Jennifer Hermoso, hoje no Pachuca-MEX, também demonstrou apoio.

Meses de negociações internas trouxeram alternativas, mas não soluções, para o conflito. Em fevereiro, as convocações para os jogos preparatórios visando o Mundial trouxeram de volta Paredes e Hermoso à seleção. Em junho, oito das 15 jogadoras pediram à RFEF para serem consideradas para a Copa, mas apenas três fizeram parte da lista final das 23 convocadas: Aitana, Ona Battle e Mariona Caldentey. De acordo com Vilda, a decisão foi “meramente esportiva”.

Sem grandes nomes como León, Sandra Guijarro e Pina, atuais campeãs da Champions League pelo Barcelona, a Espanha estreou ontem contra a Costa Rica. A vitória por 3 a 0 e boas atuações de Aitana, González, Carmona e Battle, além da volta de Putellas, que entrou no final do segundo tempo, funcionaram para trazer de volta as esperanças.

Canadá decepciona

Aos 40 anos, Christine Sinclair teve a chance de se tornar a primeira atleta — entre homens e mulheres — a marcar em seis Copas do Mundo. Mas a veterana do Canadá desperdiçou um pênalti na estreia contra a Nigéria, e o jogo terminou sem gols. Com um desempenho fraco, as atuais campeãs olímpicas também enfrentam problemas com a federação.

As atletas ameaçaram entrar em greve em fevereiro deste ano, mas foram alertadas pela Federação Canadense de Futebol que, se não entrassem em campo para disputar a She Believes Cup, sofreriam consequências legais. Representadas pela Associação Nacional de Jogadoras do Canadá (CSPA, em inglês), elas jogaram, mas entraram no aquecimento com uma camisa roxa que dizia “Enough is enough” (“Já chega” na tradução livre).

A insatisfação ocorreu pelos cortes realizados no orçamento do futebol feminino e a disparidade no tratamento dado à seleção masculina, que dispõe de mais recursos, apesar de ter resultados esportivos menos expressivos. Em carta, as jogadoras exigiam “mudanças imediatas”, e afirmaram que “a federação deve corresponder ao compromisso público da igualdade de gênero e também à obrigação de fazer o esporte avançar”. Em março, um acordo foi realizado entre as partes para liberar verbas para a seleção feminina, começando com os valores retroativos em relação ao ano de 2022. A expectativa é de que mais negociações sejam realizadas após o Mundial.