Internacional

Canadá prende policial acusado de espionar para a China

William Majcher, oficial reformado da Real Polícia Montada, teria utilizado rede de contatos para obter informações de inteligência para Pequim

Agência O Globo - 22/07/2023
Canadá prende policial acusado de espionar para a China

Autoridades do Canadá denunciaram, nesta sexta-feira, o policial aposentado William Majcher, da Real Polícia Montada canadense, por supostamente espionar para a China. De acordo com autoridades de Ottawa, Majcher "supostamente usou seu conhecimento e sua extensa rede de contatos no Canadá para obter inteligência ou serviços para beneficiar [Pequim]", disseram em comunicado.

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Majcher, de 60 anos, trabalhou na polícia canadense entre 1985 e 2007, especializando-se, mais para o fim da carreira, em investigações federais na seção de drogas e crimes financeiros. Atualmente, ele morava em Hong Kong, mas retornou ao Canadá voluntariamente, sendo preso em Vancouver.

A investigação que culminou na prisão do policial aposentado durou dois anos e identificou o que foi classificado como "atividades suspeitas" de Majcher. Além de obter informações de inteligência para Pequim, ele teria se juntado a “esforços do governo chinês para identificar e intimidar um indivíduo" no Canadá, agindo sem o respaldo da lei, segundo comunicado da Real Polícia Montada.

De acordo com sua página no LinkedIn, Majcher era presidente da EMIDR, uma empresa de risco corporativo com sede em Hong Kong, que teria como um de seus grandes clientes o governo chinês, segundo a sargento, Camille Habel. Ainda de acordo com a porta-voz da polícia, a empresa seria especializada em "investigações transfronteiriças de crimes financeiros e recuperação de ativos".

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O inspetor David Beaudoin, chefe da unidade de Montreal que investigou o policial, disse que sua equipe identificou um único indivíduo que Majcher ajudou a atingir, mas acrescentou que a investigação ainda está em andamento. As autoridades não excluem a possibilidade de prender e acusar mais indivíduos nas próximas semanas, relacionados ao caso.

Dennis Molinaro, um ex-analista de segurança nacional do governo canadense que agora leciona estudos jurídicos na Ontario Tech University, disse que alguém com o histórico de Majcher teria informações potencialmente úteis para o governo chinês.

— Ele teria informações úteis sobre como as investigações são conduzidas e as metodologias usadas — disse Molinaro. — Alguém envolvido nesse setor também teria contatos úteis que poderia alcançar, e esses contatos podem ou não saber que a pessoa está trabalhando para a República Popular da China.

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A prisão vem em um momento em que a questão da interferência da China nas eleições canadenses tem agitado os círculos políticos por meses. Acredita-se que diplomatas e agentes chineses no Canadá tenham tentado minar as autoridades eleitas que criticam o histórico da China em direitos humanos, especialmente em distritos com muitos eleitores de etnia chinesa em Vancouver e Toronto.

O governo canadense recentemente expulsou um diplomata chinês acusado de conspirar para intimidar um legislador da oposição da área de Toronto, que liderou os esforços no Parlamento para rotular o tratamento da China à comunidade muçulmana uigure de genocídio. O primeiro-ministro Justin Trudeau, que foi criticado por partidos de oposição por ser brando com a China, resistiu aos pedidos de uma investigação pública sobre as atividades da China no Canadá. As autoridades chinesas negaram qualquer interferência.

No entanto, segundo Beaudoin, nenhuma das atividades do suspeito parecia “ligada de alguma forma à interferência na política canadense”.

Majcher, que compareceu ao tribunal em Quebec por videoconferência na sexta-feira, foi acusado de atos preparatórios em benefício de uma entidade estrangeira e conspiração sob a Lei de Segurança da Informação do Canadá. Raramente foram feitas acusações sob a lei, que o Canadá introduziu após os ataques terroristas aos Estados Unidos em 2001.