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Temporada de incêndios florestais no Canadá é a pior já registrada na história

Faltando mais de um mês para o fim do verão no Hemisfério Norte, área destruída pelas chamas superou em 3 milhões de hectares o recorde anterior de 1989

Agência O Globo - 18/07/2023
Temporada de incêndios florestais no Canadá é a pior já registrada na história
Incêndio - Foto: imagem ilustrativa

Os incêndios florestais no Canadá destruíram 10 milhões de hectares até o momento este ano, tornando esta a pior temporada da história a mais de um mês para o fim do pico do verão. O ano de 2023 ultrapassou o recorde anterior, de 1989, quando mais de 7 milhões de hectares foram queimados.

As condições quentes e secas do clima intensificaram os incêndios florestais a partir da primavera (outono no Hemisfério Sul), principalmente nas florestas boreais no noroeste do Canadá e em Quebec. Os incêndios forçaram o deslocamento de mais de 120 mil habitantes, sobrecarregaram os recursos dos bombeiros, além de escurecerem os céus e poluírem o ar para milhões de pessoas em toda a América do Norte.

— O que é extraordinário este ano é que a temporada de incêndios começou cedo e em várias áreas ao mesmo tempo — disse Jennifer Kamau, porta-voz da Canadian Interagency Forest Fire Center.

Em uma temporada mais típica, disse Kamau, "os incêndios se alastrariam em uma parte do país, depois diminuiriam e começariam em outra área", o que permite que as equipes de bombeiros ataquem uma região de cada vez. Mas este ano, disse ela, "a demanda em todas as províncias e territórios está alta", quase de costa a costa.

Equipes internacionais de bombeiros, incluindo mais de 1.800 equipes de apoio dos Estados Unidos, foram mobilizadas para ajudar a combater as chamas que atingem o país desde maio. No entanto, o tamanho e a ferocidade das chamas dificultam os esforços, mesmo com os incêndios nos locais mais remotos terem sido abandonados. Na semana passada, dois bombeiros canadenses foram mortos em serviço com apenas alguns dias de diferença.

As altas temperaturas colaboraram para um início de temporada intenso. Uma onda de calor assolou a Colúmbia Britânica e Alberta em meados de maio. No início de junho, vários incêndios eclodiram em Quebec, em meio a recordes nos termômetros, e se intensificaram rapidamente. Junho foi registrado como o mês mais quente do planeta, e algumas das temperaturas mais chocantes do mundo foram encontradas no norte do Canadá.

— A receita para um incêndio florestal é simples — disse Mike Flannigan, professor da Thompson Rivers University em Kamloops, Colúmbia Britânica. — Você precisa de três ingredientes: Primeiro, a vegetação. Chamamos isso de combustível. Segundo: ignição, que no Canadá são as pessoas e os raios. E, terceiro: clima quente, seco e ventoso.

Esses ingredientes se juntaram repetidamente este ano em grande parte do país, disse ele, resultando em uma temporada de incêndios que está "muito acima de qualquer outro ano".

No início de junho, os incêndios florestais canadenses já haviam queimado o mesmo número de hectares registrado em uma temporada inteira.

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As condições que aumentam a probabilidade de incêndios estão se tornando cada vez mais comuns em diversas partes do mundo à medida que a temperatura do planeta sobe devido à queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas. O Canadá aqueceu, em média, duas vezes mais rápido do que o resto do mundo nos últimos anos, em grande parte devido à perda de neve e gelo marinho.

Ainda não foram realizados estudos que relacionem diretamente a mudança climática aos incêndios florestais deste ano, mas a temporada de incêndios de 2023 está de acordo com o entendimento dos cientistas sobre como o aquecimento global está afetando as temporadas de fogo.

— A temporada de incêndios está ficando mais longa, estamos vendo um clima propício ao fogo mais frequentemente, as condições estão ficando mais severas, a vegetação está ficando mais seca e mais preparada para queimar se houver ignições — disse Yan Boulanger, cientista pesquisador em ecologia florestal do Laurentian Forestry Center em Quebec. – Essas são tendências muito significativas que estamos observando em grandes áreas do Canadá.

Isso não significa que anos mais calmos de incêndios florestais, como no ano passado, não sejam mais possíveis, disse Flanningan, mas um mundo mais quente aumenta as chances deles serem maiores e mais explosivos do que no passado.

As condições climáticas deste ano também contribuíram para um comportamento mais extremo do fogo, segundo os especialistas. Em mais de cem ocasiões nos últimos meses, os incêndios florestais canadenses foram fortes o suficiente para alterarem o clima, provocando nuvens gigantes e injetando fumaça na atmosfera, que pode viajar por longas distâncias.

As previsões para o restante do verão sugerem que a atividade de incêndios acima do normal provavelmente continuará em grande parte do Canadá, o que pode significar mais calor, mais fogo e mais fumaça no futuro.