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A praça do meio mundo

24/10/2022
A praça do meio mundo

Viajar trata-se de uma das melhores maneiras de expandir horizontes aprofundar conhecimentos, e assim conhecer inúmeros locais ao redor do planeta que foram palco de grandes eventos modificando para sempre a história, seja de forma ampla ou mesmo pontual.

O Ground Zero, hoje construído no local onde estavam as antigas Torres Gêmeas em Nova York, cenário de um dos ataques terroristas mais violentos e chocantes do mundo. O Muro de Berlim, barreira de controle fronteiriço que durante a guerra fria dividiu a cidade alemã em duas partes, a socialista e outra capitalista, são exemplos.

Já em nossa pátria, referências para o Cristo Redentor e Maracanã, no Rio de Janeiro; Palácio Itamaraty e Catedral de Brasília na Capital Federal; Elevador Lacerda e Farol da Barra em Salvador; Viaduto do Chá e o Monumento às Bandeiras em São Paulo.

Apesar de hoje conhecer exatos setenta países globo afora, e nestes haver percorrido ambientes repletos de informações muitas delas milenares, para mim um dos locais responsáveis por ativar emoções que inundam meu peito, é a Praça do Meio do Mundo, construída no interior paraibano.

Em minha infância, durante as férias escolares costumava visitar a casa de meus avós materno no Seridó potiguar. Tomava o ônibus até Recife, outro rumo a Campina Grande e finalmente o derradeiro para Caicó, meu destino final. Esse périplo durava quase dois dias de viagem, que na ida passavam rápidos por antever a chegada, enquanto no retorno, vagarosamente pois então trazia o coração cheio de saudades.

Em uma das primeiras vezes que passei pela Praça do Meio do Mundo, já a poucas horas do destino, escutei um passageiro do coletivo afirmar: “a partir daqui tudo muda, pois chuva é como pé de cobra, ovo frita na calçada, urubu dá coice, penico dá descarga e candeeiro dá choque”.

Apesar de nunca esquecer tais dizeres, considerava justamente o contrário, por estar me aproximando do ambiente que sempre considerei o paraíso, pois Caicó apesar da temperatura beirar os quarenta graus, nada era maior e intenso que o calor do carinho proveniente de parentes e amigos, brincadeiras inesquecíveis, alimentos incomparáveis, uma cidade onde em minha imaginação, até das árvores brotavam os melhores picolés.

A terra de Sant’Ana com sua catedral imponente, Arco do Triunfo e o Açude Itans, do melhor carnaval do nordeste, onde o bloco “Os Fugitivos” sempre era destaque, da Praça do Coreto por cujas calçadas, aos finais de semana todos compareciam proporcionando verdadeiro desfile de modas, corroborando o slogan: “Paris lançou, Caicó copiou”, em uma época em que a comunicação acontecia através de cartas e telegramas.

A tradição culinária da região, sempre a deixar água na boca, ao provar da carne de sol, arroz de leite, costela de carneiro assada, paçoca no pilão, guiné e galinha caipira, queijos coalho e de manteiga, tudo isso sem falar nos biscoitos palito, alfenim caicoense, casadinho de goiaba e chocolate. Um escândalo de glorioso sabor.

Por tais motivos, a “Praça do Meio do Mundo” sempre será para mim, um marco de boas lembranças.