Variedades
“Marte Um”, de Gabriel Martins, estreia amanhã (20) no Festival de Sundance

Quando tinha 9 anos de idade, o pequeno Gabriel Martins fez um desenho. Nele, havia um set de filmagens, na cadeira de diretor, seu nome, e ele, com um megafone na mão comandava a cena. Um balão sobre sua cabeça diz “Realizei meu sonho!”.
“Marte Um” é seu segundo longa (o primeiro solo, sem a parceria de Maurilio Martins, com quem fez “No coração do mundo”), e tem, como um de seus temas centrais, a realização de um sonho infantil. O filme terá sua primeira sessão mundial no Festival de Sundance, nessa quinta (20/01). A produção do filme é assinada pela Filmes de Plástico, e coproduzido pelo Canal Brasil. O longa deve chegar ao circuito brasileiro em agosto deste ano.

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“Marte Um” é um filme sobre seguir os sonhos no Brasil contemporâneo. O garoto Deivid (Cícero Lucas), o caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico, e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar o planeta vermelho. Morando na periferia de um grande centro urbano, não há muitas chances para isso, mas mesmo assim, ele não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.
O filme começa na noite 28 de outubro de 2018, quando Jair Bolsonaro acaba de ser eleito. Sentado no quintal de casa, enquanto pensa no seu grande sonho, Deivid ouve da rua gritos de “Mito” e uma grande comemoração. Será o começo de um período obscuro tanto para sua família quando para o país.
“O filme foi desenvolvido entre 2015 e 2018, um período de muitas mudanças abruptas nos campos social e político do país. Vários movimentos nos fizeram confrontar com o que pensávamos sobe raça, gênero, economia e muitos aspectos da sociedade. Produzimos o filme graças a um fundo para diretores negros, e isso sempre me trouxe um senso de responsabilidade muito grande, com honestidade e compreensão de que esse filme pode ser uma forte representação de uma cultura da qual faço parte.”
O longa acompanha algumas semanas na vida da família de Deivid. O pai, Wellington (Carlos Francisco, de “Bacurau”, e da Companhia do Latão de teatro) é porteiro em um prédio de elite, e há um bom tempo está sem beber, uma informação que compartilha com orgulho em sessões do AA. Tércia (Rejane Faria, da série “Segunda Chamada”) é a matriarca que, depois um incidente envolvendo uma pegadinha de televisão, acredita que está sofrendo de uma maldição. Por fim, a filha mais velha é Eunice (Camilla Damião), que pretende se mudar para um apartamento com sua namorada (Ana Hilário), mas não tem coragem de contar aos pais.
“Rodamos “Marte Um” pouco depois da eleição de 2018, que mudou tudo no Brasil. Embora se passe num contexto político turbulento – sendo a eleição de Bolsonaro um ponto baixo para nós –, esse não é um filme que tenta chega a um veredito sobre o estado político do país. Por outro lado, é inevitável que o público o interprete como um chamado para não nos deixarmos abater pelas agitações sociais que estamos enfrentando.”
Produtor do filme, Thiago Macêdo Correia, da Filmes de Plástico, lembra que Gabriel o procurou com a ideia para “Marte Um” quando o país ainda sob o comando de Dilma Rousseff, um período de prosperidade, e incentivo e investimentos na cultura. “O filme foi produzido graças a um fundo público de 2016 voltado para diretores negros e narrativas de temática negra com o intuito de levar às telas cineastas de grupos minoritários. Obviamente, esse fundo não existe mais. Rodamos o longa em outubro de 2018, durante as eleições, o que acabou influenciando também a narrativa. Não tínhamos ideia do que viria depois.“

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“Marte Um” é assinado pela produtora mineira Filmes de Plástico, fundada por Gabriel, Thiago, André Novais Oliveira e Maurilio Martins, em 2009, e que tem em sua filmografia longas premiados como “Temporada”, “Ela volta na quinta”, “No coração do mundo” e “Contagem”. Suas produções também foram destaque em festivais com Cannes, Roterdã, Brasília e Tiradentes.
No filme, o Deivid constrói um telescópio, que alimenta ainda mais o seu sonho. O diretor vê o objeto como “um símbolo para a vida atualmente.” “Eu me vejo ali, vejo minha família, minha gente, minha empresa produtora, e, em muitas maneiras, o cinema brasileiro do qual faço parte, e no qual acredito: mesmo com poucos recursos e todas as dificuldades que enfrentamos, somos capazes de ver além disso. Para mim. “Marte Um” é uma história inesperada e necessária sobre esperança e estrelas.”
“Marte Um” será lançado no Brasil pela Embaúba Filmes, com previsão de estreia ainda esse ano.
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