Política
Morre o historiador e brasilianista Frank McCann, autor de ‘Soldados da Pátria’
Um dos acadêmicos dos EUA mais ligados ao Brasil, o historiador Francis Daniel McCann, conhecido como Frank McCann, morreu na sexta-feira, de ataque cardíaco em sua casa perto de New Hampshire. Aos 82 anos, o estudioso da política latino-americana era professor emérito da Universidade de New Hampshire, na qual lecionou até 2007. Era autor entre outros de Soldados da Pátria, Uma História do Exercito Brasileiro, (1989-1937).
Professor emérito de Relações Internacionais na UFF, no Rio, Eurico Figueiredo via Frank McCann como “um grande americano e um grande amigo do Brasil” – e que teve papel importante por sua tarefa de “entender, como historiador, o papel dos militares na vida brasileira”.
McCann, diz ele, “é responsável por uma obra que vai persistir”. O brasilianista deixou a mulher Diana, companheira de seis décadas, duas filhas e netos.
Foi em janeiro de 19654 que ele, com um grupo de estudantes, todos financiados pela Fullbright Associaton desembarcaram pela primeira vez no Rio – e dúzias de viagens se sucederiam, em seguida, numa atividade que misturava aulas, viagens de carro pelo Brasil, busca de documentos históricos, que depois o ajudariam a montar seu Handbook of Latin American Studies – e abriram caminho que se tornasse um dos grandes conhecedores da vida militar brasileira.
Em 2014, foi professor e palestrante no Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.
Além de Soldados da Pátria, editado pela Cia. Das Letras, escreveu The Brazilian American Alliance (1937-1945), que recebeu o Bernarth Prize. Foi autor, também, de Modern Brazil: Elites and Masses in Historical Perspective. Mais recentemente, em 2018, lançou Brazil and USA during World War II and His Aftermath.
Para Figueiredo, um dos livros mais marcantes de McCann é A Aliança Brasil-EUA, na qual ele desenvolve uma tese central.
Segundo ele, durante a II Guerra Mundial os EUA usufruíram da base militar em Natal, ponto estratégico crucial no contato americano com a África. “No entanto, depois da guerra, prevaleceu uma posição que considerava o Brasil um país ‘perigoso’ – e assim, ‘ao invés de compensar o Brasil por aquele gesto durante a guerra, o País foi reduzido a um igual à Argentina.”
Para McCann, isso era uma injustiça porque a Argentina não teve comportamento ou posições como as do Brasil na guerra. “Na verdade, os americanos foram ingratos, e é significativo que um estudioso americano é que tenha feito essa observação”. Um motivo provável, segundo McCann, era que os EUA não queriam saber de “uma potência predominante” no continente sul-americano, que poderia representar problemas futuros. Nem Brasil, nem Argentina.
Como resultado de seu empenho acadêmico, o governo brasileiro decidiu homenageá-lo como comendador da Ordem do Rio Branco, em 1987, e mais tarde, em 1995, o Exército lhe concedeu a Medalha do Pacificador. Sua carreira acadêmica incluiu fases como professor visitante na Universidade de Brasília, na Universidade do México. Além de viajar por vários países latino-americanos McCann esteve também na Polônia, Bulgária, Inglaterra, Nigéria, França e Turquia.
A passagem pelo Brasil fez dele um admirador do samba. Fazia parte no Brasil do conselho científico da revista de Ciências Militares publicada pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme).
McCann era um crítico do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a explicação para a presença de tantos militares no primeiro escalão do governo brasileiro leva em conta a própria passagem sem brilho do presidente eleito pelos quartéis. “Bolsonaro está tentando dar ao seu governo a imagem de severo, com base na popularidade da imagem das Forças Armadas. Ele quer que o prestígio dos generais reflita numa melhora de sua imagem. Em outras palavras, o papel deles no governo é prover uma estatura que o próprio presidente não tem.”
Autor: Redação O Estado de S. Paulo
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