Economia

Juros fecham em alta com preocupações sobre quadro fiscal

25/08/2020

Os juros diminuíram a alta à tarde, depois que o dólar passou a cair, mas não a ponto de reduzirem a inclinação da curva, que continuou mais elevada em função dos riscos fiscais. O adiamento do anúncio do Plano Renda Brasil em função de divergências na definição dos valores do benefício do programa manteve o desconforto no mercado, que passou a pedir mais prêmio para ficar exposto em ativos prefixados. O alívio no segmento de câmbio foi acentuado na sessão vespertina, mas chegou apenas em parte nas taxas futuras. Um dos destaques da agenda, o IPCA-15 de agosto, veio alinhado à mediana das estimativas, com impacto neutro nas taxas, tampouco alterando o consenso de apostas em manutenção da Selic em 2%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 terminou praticamente estável, em 2,75%, de 2,742% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 3,93%, de 3,883% na segunda-feira. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 5,75%, de 5,714% na segunda, e o DI para janeiro de 2027 fechou com taxa em 6,76%, de 6,733%.

Após encerrar a manhã em alta, o dólar passou a cair à tarde, com mínimas até R$ 5,51, trazendo alívio limitado para a curva, até porque a melhora do câmbio decorreu de um fator técnico (fluxo de vendas atraído pelas cotações elevadas) e não de fundamentos.

O “fico” de Paulo Guedes e a vitória do governo na manutenção do veto ao reajuste do funcionalismo pelo Congresso haviam dado um alento aos mercados na semana passada, elevando a expectativa para o amplo pacote econômico que seria lançado nesta data – houve anúncio apenas do programa Casa Verde e Amarela, que vai substituir o Minha Casa Minha Vida, nesta terça-feira.

Na segunda, porém, o adiamento da divulgação já prenunciava que algo não ia bem, o que se confirmou com as informações de que o presidente Jair Bolsonaro defendeu um valor maior (R$ 300), do que os R$ 247 proposto pela equipe econômica para o Renda Brasil, que vai entrar no lugar do Bolsa Família. Guedes disse que para isso só com redução nas deduções do Imposto de Renda.

Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, a abertura das taxas reflete a percepção de clara falta de coordenação dentro do governo sobre as medidas a serem adotadas e a quais custos e, ainda, as chances de aprovação pelo Congresso. “A equipe econômica tenta mostrar que o cobertor é curto, mas o presidente avalia a questão com outros olhos, os dos votos, e a curva acaba abrindo mais em função dessa desconfiança”, disse.

Nesse contexto, dado ainda o destaque que o próprio BC vem dando para o papel que a política fiscal passou a ter na condução da política monetária, a curva projeta chance zero de novos cortes da Selic.

O IPCA-15 de agosto subiu 0,23%, menos do que em julho (0,30%), e coincidiu com a mediana das estimativas. Os núcleos avançaram, mas ainda são considerados bem comportados, permitindo imaginar que a taxa de juros siga em níveis estimulativos nos próximos meses.

Autor: Denise Abarca
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