Economia

‘Velha economia’ se aproxima de startups

24/08/2020

De olho na agilidade e rapidez para encontrar soluções inovadoras e disruptivas para seus negócios, grandes empresas estão se aproximando cada vez mais de startups para fazer parcerias. Em cinco anos, o volume de acordos fechados entre a “velha economia” e os novos empreendedores cresceu 20 vezes, segundo levantamento feito pela 100 Open Startups, plataforma que conecta esses dois mundos. Só nos últimos 12 meses, 1.635 companhias fizeram contratos com startups.

Para medir esse engajamento entre as empresas, a plataforma criou o ranking das 100 corporações que mais tiveram relacionamento com os empreendedores em 2020. No topo da lista, estão Natura, ArcelorMittal e BMG. “Em 2016, eram 82 empresas com algum tipo de parceria com startups. Neste ano, temos 1.635 companhias com contratos firmados”, afirma o presidente da 100 Open Startups, Bruno Rondani.

Na avaliação dele, as startups são hoje a principal fonte de inovação do mercado – espaço antes dominado pelas universidades, que ainda têm papel importante no setor. De 2016 para cá, os negócios entre empresas maduras e aquelas em estágio inicial somaram mais de R$ 1 bilhão, segundo o executivo. “As grandes companhias querem aumentar a capacidade de inovação em todos os níveis.”

Com estruturas mais pesadas e complexas, que dificultariam a contratação de uma companhia pequena, essas empresas têm apostado na criação de hubs de inovação ou programas específicos para se aproximarem desse ecossistema e desenvolver soluções para problemas específicos.

“Trazemos essas empresas para que elas nos ofereçam algum tipo de serviço”, diz Agenor Leão, vice-presidente da Plataforma de Negócios da Natura, que este ano ficou em primeiro lugar no ranking da 100 Open Startups. Em 2019, o vencedor foi o BMG e, em 2018, a Accenture.

Leão conta que a aproximação com as startups tem o objetivo de acelerar processos que poderiam demorar muito tempo para serem concluídos. Desde 2016, a empresa vem investindo na transformação digital, sobretudo, com a criação do Natura Startup, um ambiente onde empreendedores podem se conectar com a companhia.

Nesse período, a gigante do setor de beleza analisou 5 mil startups, interagiu de alguma forma com 100 e firmou contrato com 40. Só durante a pandemia, foram 9 parcerias. Uma das soluções resultantes de contratos com startups foi o espelho virtual, um simulador de maquiagem que dá às clientes a possibilidade de “experimentar” os produtos da empresa por meio de realidade virtual.

Outro exemplo, diz Leão, é o investimento recém-anunciado na Singu – um marketplace de serviços de beleza delivery. “Esse é um exemplo de como as startups nos acelera. Poderíamos levar até um ano para desenvolver uma plataforma como a Singu, que já está em operação.”

Formatos

Os modelos de parcerias entre as grandes e as pequenas empresas têm ocorrido por meio de contrato de prestação de serviço, aquisição do produto (caso da Singu) ou apenas o acesso à rede da empresa para o desenvolvimento de ferramentas.

Segundo Rondani, da 100 Open Startups, 54% dos contratos firmados com os empreendedores são de prestação de serviços e envolvem pagamento em dinheiro. O restante compreende parceria de colaboração e projetos-piloto que podem ou não ser pagos. Na produtora de aço ArcelorMittal, segunda no ranking das mais engajadas deste ano, projetos envolvendo startups já somam R$ 30 milhões desde 2018, quando a empresa decidiu apostar nesse ecossistema.

“Percebemos que tínhamos de ser humildes e trazer esse novo universo para dentro da empresa. Queremos ser uma empresa de solução de aço, e não só uma empresa de commodities”, diz Paula Harraca, diretora de Pessoas e Inovação Aços Longos e Mineração da ArcelorMittal.

Foi aí que a empresa criou o Açolab, um espaço para interação com startups, que permitiu mais de 1.500 conexões com empreendedores em dois anos. O principal objetivo, diz Paula, é desaprender e aprender de forma diferente. Segundo ela, 54% das iniciativas visam ao aumento da produção e redução de custos.

A lista da 100 Open Startups de 2020 inclui ainda Unilever e Raízen entre as Top 10. Em sétimo lugar, a fabricante de açúcar e etanol e distribuidora de combustíveis Raízen criou a Pulse, um hub de inovação que nasceu como uma forma de incentivar a tecnologia no setor de agronegócios.

Hoje, no entanto, a empresa busca soluções também para a área de logística, distribuição comercial, operação e recursos humanos. Pedro Noce, gerente de inovação digital da empresa, afirma que desde sua criação, há três anos, o Pulse já soma 38 startups associadas, 54 projetos-piloto executados e 15 contratos firmados.

A Unilever, que saltou do 23.º para o 8.º lugar neste ano, também tem elevado as conexões com as startups por meio de sua Garagem de Inovação. “Nós trazemos a escala e a startup traz a profundidade num determinado assunto”, diz a gerente de transformação digital da empresa, Cecilia Varanda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Renée Pereira
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