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Mulheres dependentes químicas buscam forças para superar as drogas

Marina Alves quase perdeu o contato com o filho pelos sucessivos episódios de alcoolismo durante mais de 20 dos seus 58 anos de vida. Fátima Pereira, de 21 anos, percebeu que se não procurasse ajuda especializada a virada para o ano de 2020, para ela, não aconteceria. Amanda Santos, 25, viu o sonho de fazer faculdade de Ciências Contábeis na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) ficar cada vez mais distante, uma vez que parte do tempo que deveria ser dedicado aos estudos foi tomada pela dependência química.
Essas mulheres – de diferentes realidades e nesta matéria representadas por nomes fictícios por questões de privacidade – chegaram ao fundo do poço e correram o risco de quase não sair dele. Vivendo à margem da sociedade, o apoio de todos os membros da família, o emprego, a perspectiva de uma boa profissão, os momentos memoráveis com os filhos pequenos e a saúde física e mental já não existiam. Conviveram com os olhares tortos da sociedade, com o medo de não haver o amanhã e com a violência. E, bem mais do que isso, deixaram de ser quem eram.
“A verdade é que eu já nem me considerava mulher. Só queria a todo custo manter o meu corpo sempre com as substâncias. A partir do momento que você conhece esse mal, a sua pessoa é totalmente anulada. Eu não era uma mulher, era uma usuária de drogas. Só agora entendo que essa parte da minha vida vai ser transformada, mas para isso eu preciso me amar primeiro”, diz Fátima Pereira – dependente química em recuperação.
Assim como Fátima, Marina Alves e Amanda Santos compartilham a mesma história de luta contra a dependência química. Além do novo recomeço, elas dividem ainda a convivência diária no Centro de Acolhimento Lar Betânia – uma das 35 comunidades acolhedoras ligadas à Rede Acolhe da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev).
Fátima é mãe de dois, Marina de três filhos adultos e Amanda de um bebê de um ano e oito meses e uma menina de quatro anos de idade. O garoto, de iniciais G.S., mora com ela no Centro e a ajuda a manter o vínculo com a família e a recuperar as forças na batalha diária contra as drogas.
“Eu, Amanda, mulher, me vejo daqui a algum tempo na companhia do meu esposo, dos meus filhos, fazendo minha faculdade. Sendo uma grande mulher, sabe? Recuperada e com a vida mudada. Ser mulher é ter essa força. Hoje eu vejo que nada adiantava eu estar lá fora, se na verdade a minha liberdade não era usada para algo positivo”, reflete a jovem.
Ao lado de outras mulheres – com idades de 18 a 60 anos – Amanda conta que nem sempre é fácil superar as diferenças entre as colegas durante o tratamento, mas a vontade de voltar a ser o exemplo para sua mãe e os filhos prevalece.
“Nós temos uma relação harmoniosa, uma apoia a outra, mas não vou dizer que é fácil, pois cada um pensa diferente e teve vivências distintas antes de chegar até aqui. Para superar o meu problema preciso sempre pensar na minha família e ter força para vencer”, diz Amanda.
No auge do seus 50 e tantos, Marina passou boa parte da vida como missionária numa igreja protestante. É que o vício não escolhe classe social, raça, orientação sexual ou religião. Sua história com o álcool só teve fim há pouco mais de um mês quando um de seus filhos deu o ultimato: ou ela se tratava ou estaria sozinha dali para frente.
“Acho que muita gente pensa que por eu ser da igreja teria que dá o exemplo, mas não é bem assim: só agora percebi que o alcoolismo é uma doença. Não é algo que dá para controlar sem ajuda. Aqui, ao lado das meninas e com o tratamento oferecido eu tenho força para superar tudo isso e voltar para a minha família”, ressalta Ana.
Aumenta número de mulheres em busca de tratamento
As histórias contadas pelas três acolhidas refletem um pouco do quanto as drogas podem devastar as relações sociais, a vida dos dependentes e também de seus familiares. Só para se ter uma ideia, o número de mulheres em busca por tratamento da dependência química cresceu 51% em Alagoas, em 2019, se comparado ao ano passado. Os dados são referentes ao número de pessoas encaminhadas para as comunidades acolhedoras credenciadas à Rede Acolhe.
Durante os últimos 12 meses, foram encaminhadas 492 mulheres para uma das 35 comunidades acolhedoras da rede de acolhimento do Governo de Alagoas. Em 2018, no mesmo intervalo de tempo, este número ficou em torno de 325 encaminhamentos.
Quem precisar de tratamento contra a dependência de álcool e outras drogas, basta ligar para o call center da Rede Acolhe 0800-289-9390. O acolhimento é voluntário e gratuito.
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