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24ª edição do ‘Mundaú Lagoa Aberta’ homenageia a luta e memória das mulheres por democracia e direitos na Orla Lagunar de Maceió

Na 24º edição do Mundaú Lagoa Aberta, do domingo (1), crianças, jovens, idosos, mulheres fortes estavam presentes. O evento começou por volta das 14h30, no Monumento ao Milênio, Orla Lagunar, bairro Vergel do Lago, em Maceió. O espaço foi de confraternização e reflexão em homenagem a luta e memória das mulheres por democracia e direitos. Dia 8 de março é dia dela, mas que não esqueçamos que o dia dela é todos os dias.
Às 10h, houve uma avaliação e planejamento do Movimento dos Povos das Lagoas, dos anos de 2019 e 2020, e a tarde Roda de Diálogos sobre a presença da mulher nos Movimentos Sociais. O dia foi dedicado em especial às mulheres. Estavam presentes moradoras da região lagunar, líderes de movimentos sociais, das comunidades da região e pessoas LGBTQIA+.
No local, gente tocando batuques, grupos de capoeira, brinquedos para crianças, pula-pula, vozes antigas foram ecoadas dentro de uma região que há muita riqueza histórica, simbólica e cultural. Há o esquecimento do poder público em relação a orla lagunar, mas há também uma forte resistência entre aqueles que ainda fazem cultura e resgatam memórias.
“Na ocasião fui a única pessoa transgênera a participar do espaço de diálogo sobre feminismo. O que fez presente a memória trans em alusão a comemoração do dia 08 de março, pois o país que mais mata pessoas trans no mundo é o Brasil. Nitidamente observei que a maioria das mulheres habitantes da região são negras. E que o racismo estrutural ainda as empurram para a margem da sociedade”, declarou Lírio Negro, ‘artivista’, coordenador da área não-binária da Aliança Nacional LGBTI+ e fundador do coletivo Pró LGBT O “Que” do Movimento – Visibilidade TQIAPNB+. Lírio também participou da roda de conversa e explicou da importância da visibilidade no meio social.
A arquiteta e urbanista e moradora da região lagunar, Sandra Januário, também estava no evento. “O evento é uma boa iniciativa para criar espaços ativos e dar voz às mulheres pertencentes a um lugar onde geralmente não existe diálogo e são diariamente oprimidas e silenciadas”, disse.
A fundadora do Movimento Povos das Lagoas, Sandra Amália, também estava presente no evento com o intuito de também representar a mulher alagoana na liderança.
Com cerca de 350 pessoas envolvidas, que vai da produção, às atrações artísticas e ao público geral, o evento entregou à comunidade diversidade, diversão e generosidade. A programação contou com a participação da capoeira Engenho Velho, apresentação cultural do Boi Pacato Rei, ensaio aberto com a Banda Erê, brinquedos pela Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e o Instituto para o Desenvolvimento das Alagoas (IDEAL), que trouxe atividades de realização audiovisual em homenagem às mulheres na região lagunar.
Dia histórico e de luta
O dia 8 de março é o resultado de uma série de lutas e reivindicações das mulheres por melhores condições de trabalho e direitos sociais e políticos, que tiveram início na segunda metade do século XIX e se estenderam até as primeiras décadas do XX. Porém, somente no ano de 1910 ficou decidido que o dia 8 de março passaria a ser o “Dia Internacional da Mulher”, em homenagem ao movimento pelos direitos das mulheres e como forma de obter apoio internacional para luta em favor do direito de voto para as mulheres.
Na roda de conversa entre mulheres e diversidades, houve um debate onde foram discutidas as formas de como atuar, e de como trazer as mulheres da comunidade para mais perto dos movimentos sociais. Questões como o feminismo pós moderno ou “transfeminismo” que trata questões relacionadas a pauta interseccional desde o feminismo negro, como a inclusão de pessoas nāo-binárias, mulheres transgêneras e travestis no movimento feminista, questões do privilégio da mulher branca de classe média, o processo de afirmação da mulher na política, foram discutidas na roda.
“Isto possibilita o conhecimento das pautas transgêneras e a partilha dos relatos de experiências a mulheres cisgêneras possibilitando a compreensão das demandas, bem como o acolhimento de outras identidades de gênero feminino nesse espaços de diálogos” disse Lírio Negro.
Dentro da roda se ouviram histórias de pessoas, confissões de almas, de mães que perderam seus filhos, pessoas que já sofreram preconceito de todas as formas, todas vozes de pessoas que também já sofreram com preconceito de identidade.
A moradora da Vila Emater II, antigo Lixão, Ivanilda Gomes (Vânia), participou da discussão e expôs sua gratidão ao evento. Ela conta que precisamos ter mais mulheres participando, principalmente da própria comunidade, e que as mulheres presentes deram uma motivação a mais a ela para lutar por seus direitos. “Todas as mulheres devem se empoderar dos seus direitos, devem aprender a se defender. Temos que ter mais mulheres da própria comunidade para acabar com o machismo. Tem muita gente da comunidade que vem sofrendo com isso”, afirmou.
Muitas mulheres abriram suas vidas na discussão e também ouviram umas as outras, como uma forma de afeto e gentileza. “Todas as colocações foram bastantes intensas e bem pertinentes, elas traduzem que a luta das mulheres que vivem e atuam em territórios vulneráveis é uma luta por dignidade humana, pela necessidade do Estado Democrático de Direito”, declarou Sandra Januário.
Mundaú Lagoa Aberta
Entre a discussão no evento e a alegria dos que estavam presente, houve também uma imersão dos movimentos para uma posterior avaliação, com o objetivo também de analisar como é que os organizadores agem na estruturação do Mundaú Lagoa Aberta.
A Realização do Mundaú Lagoa Aberta é do Movimento dos Povos das Lagoas, que surgiu com líderes e ativistas culturais do entorno da lagoa Mundaú e hoje é uma frente composta por mais de 100 entidades integrantes e parceiras com atuação na região lagunar do estado de Alagoas.
O evento conta com a parceria da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) e da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), articulação regional do Instituto Quintal Cultural, articulação institucional do Instituto para o Desenvolvimento das Alagoas (IDEAL), Produção e Comunicação Keka Rabelo.
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