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Em ‘Os Incríveis 2’, Helena combate o crime e Beto cuida da casa

28/06/2018

Quando a Pixar lançou Os Incríveis, em 2004, não havia Universo Cinematográfico Marvel – Homem de Ferro só sairia em 2008. Não havia a trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan – Batman Begins foi lançado em 2005 -, muito menos Mulher-Maravilha. Só os dois primeiros X-Men tinham estreado. Então foi com certa apreensão que Brad Bird voltou a seus super-heróis em Os Incríveis 2, que chega ao Brasil nesta quinta-feira, 28, num momento do cinema inundado de personagens com superpoderes, capas, armaduras e afins. “Fiquei um pouco deprimido ao começar a considerar seriamente o filme porque havia muitos filmes de super-heróis e achei que em dois anos todo o mundo ia estar cansado deles”, disse Bird em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em Los Angeles. “Tive de parar e realmente pensar por que estava fazendo a sequência. E em dez segundos me lembrei que a razão pela qual me empolguei com o primeiro não foi porque eles têm superpoderes, mas por serem uma família.”

A história começa minutos depois do fim do longa original – sem atores de carne e osso que envelhecem com a passagem de 14 anos, Os Incríveis 2 podia se dar esse luxo. “Achei que era ousado e estranho”, explicou o diretor. “As pessoas levam a passagem do tempo literalmente. Nos ‘Simpsons’, ninguém envelhece. Se funcionou para eles, por que não funcionaria para a gente?” A família Pêra encara, de maneira atabalhoada, o vilão Escavador. O resultado é um bocado de destruição, o que faz com que eles sejam proibidos novamente de atuar. Beto, Helena, Violeta, Flecha e Zezé, morando num simples hotel de beira de estrada após terem sua casa destruída, recebem uma proposta irrecusável de um magnata das comunicações que quer reviver os áureos tempos dos super-heróis, lançando uma campanha de relações públicas para recuperar sua imagem.

Só que o plano promove uma inversão de papéis: Helena, conhecida como Mulher-Elástica, é quem vai para a rua combater o crime, o que deixa Beto em casa cuidando da adolescente Violeta, às voltas com seu primeiro encontro, do hiperativo Flecha e do bebê Zezé, que, o público sabe, tem superpoderes também. E bota superpoderes nisso – eles são a maior fonte de diversão da produção.

“Tive a ideia de inverter os papéis de Helena e Beto quando estávamos promovendo o primeiro filme”, explicou Brad Bird. “A essência nunca mudou. A Mulher-Elástica era uma personagem forte, não fizemos essa história para tirar vantagem de algo no zeitgeist”, completou, referindo-se aos movimentos como Time’s Up, que pedem igualdade entre os gêneros. A Pixar mesmo foi afetada pela nova onda, com o afastamento do seu fundador e diretor, John Lasseter, que vai deixar a empresa e a Disney no fim do ano, acusado de comportamento inadequado com as funcionárias da empresa.

Bird afirmou que acha que é importante ter mais personagens femininas e mais diretoras mulheres. “Mas, se as pessoas começarem a me dizer que tenho de fazer isso, o artista em mim vai resistir e vou acabar fazendo um filme sobre homens comendo bife o tempo todo e queimando carvão.”

A produtora Nicole Paradis Grindle reconheceu, porém, que as mulheres se sentem mais encorajadas a falar hoje em dia. “Acho que frequentemente as mulheres observam. E desta vez percebemos que muitas mulheres talentosas realmente se sentiram mais à vontade de fazer sugestões e participar.” O diretor rebateu: “Mas elas sempre tiveram permissão para falar”. Grindle completou: “Eu acho que elas mesmas se sentiram mais empoderadas”. Brad Bird, que foi criado com três irmãs mais velhas, contou que a participação feminina foi fundamental. “Sempre ouço, seria tolo não escutá-las. Porque muitas vezes o que eu escrevo parece algo para mim e é interpretado de forma diferente por elas.”

Por mais que os filmes da Pixar sejam amados, só quatro dos 20 longas da companhia são encabeçados por personagens femininas, isso incluindo Os Incríveis 2. O estúdio pode fazer mais e parece saber disso – tanto que o curta que acompanha o filme, Bao, é o primeiro dirigido por uma mulher, Domee Shi.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Mariane Morisawa, especial para o Estado
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