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Um é pouco, dois é bom, três é ótimo

24/06/2018

Numa ensolarada manhã de sábado, dessa que a brisa acaricia o rosto e a alma, eu estava na praia de Jatiúca na fila do acarajé quando alguém tocou meu ombro. Quase não reconheci o amigo Ubiratã, não o via há anos. O homem ao envelhecer tende a engordar e cair cabelos, Bira não foi exceção, gordo e careca. Sentamos à mesa de praia protegida por sombrinha. Ubiratã puxou recordações.

Perguntei pela namorada da época, Jeane, uma bela menina, eram apaixonados. Bira pegou o embalo e contou-me sua vida. Engravidou Jeane, casou-se, foi morar com os sogros no Prado. Tiveram dois filhos, hoje rapazes. O casamento durou 13 anos, largou a mulher. Foi viver sozinho em Anadia onde moram os pais.

De repente apareceram duas mulheres bonitas com sorriso nos lábios, Ubiratã me apresentou: Ruth, morena, pele de um marrom café-com-leite, cabelos crespos, rosto redondo, olhos negros salientes, nariz achatado e lábios carnudos. A outra de nome Quitéria, pele alva, rosada, cabelos pretos como uma graúna, rosto oval, nariz afilado, um belo sorriso dava um toque de sensualidade em sua boca carmim molhada. As duas eram simpáticas e muito gostosas, vestiam minúscula tanga. Imaginei-as entre 40 e 45 anos.

Conversamos por mais de uma hora, todos bem humorados pela exuberante manhã de julho. Ruth é de Palmeira dos Índios, terra de bonitas mulheres, ainda menina, veio para capital com os pais. Quitéria é de Salvador, mora em Maceió desde que fez um curso de enfermagem, só vai à Bahia de visita. As duas têm muitas coisas em comum: são bonitas, sensuais, enfermeiras. Enquanto elas foram caminhar na praia, Bira contou-me o resto de sua vida.

Atualmente ele é chefe de vendas de cerveja, conheceu Ruth num Hospital onde realizou alguns exames. A amizade continuou, ele paquerou, assediou, insistiu, porém, decepcionou-se quando Ruth confessou morar com uma colega de hospital, Quitéria, e eram namoradas. Bira ficou chocado com a sinceridade da amiga. Conheceu Quitéria numa festa, tornaram-se amigos. Bira tinha suas paqueras, suas namoradas, mas gostava de sair com as duas amigas comprometidas, achava-as divertidas.

Certo dia a mãe de Ruth morreu, o apartamento de três quartos que herdara, ficou enorme para o casal. Ruth gostaria de alugar um quarto do apartamento, por que não Bira? Vivia sozinho, perambulando nas casas de tios e irmãos.

Ubiratã aceitou, foi morar junto com o casal. Acertaram pagamentos e algumas normas para viverem em harmonia. Bira sentiu-se mais confortável, não teve problemas de convivência entre os três, passaram-se alguns meses de convivência.

Até que numa noite de sexta-feira, Ruth foi dar plantão no Hospital, Quitéria estava a fim de divertir-se, Bira acompanhou a amiga. Escolheram uma barraca de praia, ficaram até mais tarde bebendo e conversando, de repente ela confessou que notava os olhares de Bira pra cima dela, ela gostava de homem também, e não negava, sentia atração por ele. Depois da meia-noite, foram para casa a pé cantando pela rua. Ao chegar ao apartamento, Bira tomou banho, deitou-se. Ainda não havia pegado no sono quando Quitéria entrou no quarto, de lingerie, uma provocação. Bira sentou-se na cama, ela se aproximou, em pé encostou-se, abraçando a cabeça do amigo. Deitaram-se, amaram-se. Depois do amor, cabeças no lugar, resolveram falar a verdade para Ruth, não podia haver traição entre eles, passaram a tarde de sábado se amando, bebendo e confabulando.

Ruth chegou à noite, sentiu que havia alguma coisa no ar. Os três reuniram-se à mesa, garrafa de uísque, beberam, confessaram o ocorrido. Ruth calada ouviu atentamente a história. Quando terminou o relato houve um clima de expectativa e constrangimento entre eles, ficaram calados se olhando, minutos de silêncio. Até que Ruth levantou-se, aproximou-se de Bira, baixou a cabeça e deu-lhe um beijo ardente em seus lábios, queria também.

A partir dessa noite o amor entre os três fizeram tremar a terra. Aconteceram inimagináveis “ménage a trois”, como dizem o francês. Continuaram juntos. Mês passado, os três comemoraram dois anos de casados. Agora querem um filho, adotado.

Quando Bira acabava de contar sua situação marital, as jovens retornaram da caminhada, buscamos mais acarajé e cerveja, conversamos até mais tarde. Quando a gente passa dos setenta, pensa que já viu tudo na vida, aí se surpreende com o ser humano. Tenho um amigo bígamo, outro trígamo, eu não havia imaginado existir um trio amoroso oficial. Os três, na maior felicidade, convidaram-me para padrinho do menino. Aceitei.