Variedades

José Padilha se arrisca no filme ‘7 Dias em Entebbe’

21/04/2018

José Padilha falou da polícia brasileira em Tropa de Elite e do narcotráfico na Colômbia em Narcos, passando por uma investigação de corrupção ainda em curso em O Mecanismo. Agora, ele se aventura num dos conflitos mais complexos do mundo, entre israelenses e palestinos, em 7 Dias em Entebbe, que estreou no Brasil na quinta, 19, sobre o sequestro de um avião da Air France na rota de Tel-Aviv a Paris em 1976, com 248 passageiros a bordo, muitos deles judeus, por integrantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina – Operações Externas (dissidência do grupo principal) e dois membros do grupo marxista alemão Células Revolucionárias. O avião foi desviado para Entebbe, Uganda, então governada pelo ditador Idi Amin. O governo israelense, que tinha como posição não negociar em casos como este, acabou optando por uma solução militar.

O filme, exibido fora de competição no último Festival de Berlim, deixa os palestinos de lado e foca nos dois sequestradores alemães, Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), que estão na ação por idealismo e enfrentam o risco de serem chamados de nazistas. “Queria contar a história que ainda não tinha sido contada. Qual o propósito de fazer um filme já feito?”, disse Padilha em entrevista com participação do Estado e jornalistas de outros países, em Berlim. “Também é importante mostrar que nesse caso havia terroristas com motivações diferentes. Böse e Brigitte estavam lá representando a esquerda, operando no contexto da guerra fria e achando que Israel era o império capitalista. Estavam fazendo pelo marxismo, mas os palestinos não, tinham familiares que foram mortos por soldados israelenses. Estavam numa guerra, então era uma questão visceral para eles.”

Do lado dos reféns, o roteiro de Gregory Burke destaca o engenheiro de voo Jacques Le Moine (Denis Ménochet). “Os sequestrados foram espertos porque perceberam que Böse estava incomodado de se comportar como um nazista, separando os judeus dos não judeus. Então os reféns começaram a tentar influenciá-lo.”

7 Dias em Entebbe também mostra o conflito dentro do gabinete de Israel entre o então primeiro-ministro Itzhak Rabin (Lior Ashkenazi) e o ministro da Defesa Shimon Peres (Eddie Marsan). “Rabin se tornou primeiro-ministro prometendo reduzir o orçamento militar, e Peres, que preferia o contrário, tinha sido apontado à força como ministro da Defesa. Os dois se odiavam. Rabin achava a operação militar um potencial desastre.” O cineasta quis deixar claro que sempre houve restrições para a negociação no conflito porque os políticos não querem arriscar perder apoio.

Padilha quase nunca escapa da polêmica, e aqui não é muito diferente. “Queríamos questionar um pouco a perspectiva militar, por isso focamos nos sequestradores. Porque a perspectiva militar alimenta o mito de que Israel pode resolver todos os problemas pela força militar, alimentando a posição da direita israelense, representada hoje pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que inclusive construiu sua carreira em cima do heroísmo de seu irmão na operação em Entebbe”, disse Padilha, referindo-se a Yoni Netanyahu (interpretado por Angel Bonanni). O filme minimiza o papel de Yoni na operação de resgate dos reféns. 7 Dias em Entebbe trata os palestinos como um grupo, sem discernir muito entre os personagens, a não ser por um diálogo com Böse em que fica claro que as motivações eram diferentes. Para Padilha, a ação foi contraproducente. “Ao promover um ato terrorista, você alimenta a visão mais à direita do outro lado. É inaceitável, mas também burro.”

O diretor garantiu não estar de nenhum lado. “Sabe quanto tempo os brasileiros perdem discutindo o conflito entre Israel e Palestina? Zero. Realmente não tenho lado. Talvez por isso tenham mandado o roteiro para mim. Minha abordagem foi ver a pesquisa, ir a Israel e conversar com as pessoas que participaram do evento e então tentar representar a complexidade de maneira dramática. Obviamente quem defende um lado ou o outro vai ter questões porque o filme é aberto. Não estou tentando doutrinar ninguém, apenas contando uma história que acho importante.”

Autor: Mariane Morisawa, especial para AE
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