Variedades

O tom brasileiro de ‘A Pequena Sereia’ surge principalmente na percussão

25/03/2018

Quando assistiu ao filme ganhador do Oscar, A Forma da Água, Fabi Bang buscou inspiração para sua própria interpretação. “Como a personagem principal é muda, a comunicação acontece pelos gestos – e não apenas pela linguagem de libras, mas também pela movimentação do corpo”, conta a atriz, cujo personagem, Ariel, perde a voz quando deixa de ser sereia para se transformar em humana. “É algo muito físico e precisei usar minha formação como bailarina”, completa ela, que faz alguns gestos em libras.

“Ariel simboliza as pessoas insatisfeitas com sua realidade e querem mudar, evoluir”, conta Fabi, empolgada com o papel, símbolo de sua carreira em ascensão. “Ariel é o fruto que colhi dos trabalhos anteriores, em Wicked e Kiss Me, Kate.”

O esplendor, no entanto, vem acompanhado de sacrifícios. Para efetuar os voos que simbolizam seu navegar pelo oceano, por exemplo, Fabi é obrigada a manter, por dentro do figurino, um cinto pelo qual ela é içada para os ares. “Por segurança, ele é bem apertado e chega a incomodar”, comenta a atriz que, por estar no palco em pelo menos 85% do espetáculo, é obrigada a colocar o cinto na cena 3, mas seu primeiro voo acontece apenas na cena 8.

Essa profusão de detalhes envolve, de fato, a produção de A Pequena Sereia. O primeiro desafio, lembra a produtora Stephanie Mayorkis, foi recriar os mundos aquático e terrestre com suas particularidades. “Para isso, foram necessários cenários de grandes dimensões, como o barco comandado pelo príncipe Eric (Rodrigo Negrini) ou a concha onde vive o rei Tritão (Conrado Helt), que exigem muita automação”, explica. “E, como não estamos copiando o musical original da Broadway, as soluções têm de ser encontradas aqui mesmo.”

E algumas são originais – Tiago Abravanel, por exemplo, escolheu um sotaque nordestino para viver o caranguejo Sebastião – que é jamaicano no original. “Pesquisei expressões típicas de várias regiões, para não parecer que falo como baiano ou pernambucano. Assim, ele é ora mais molengo, ora mais arretado”, observa o ator que, no início da temporada, vai dividir o palco com a participação no quadro A Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão.

O ator também buscou detalhes sobre o universo marítimo, especialmente a forma como os caranguejos se movimentam dentro e fora dágua. “Meu personagem é um dos poucos que atuam naturalmente nos dois mundos”, diverte-se ele, que descobriu nuances da personalidade de Sebastião. “Como um bom caranguejo, ele tem uma casca rígida, o que explica sua forma paternal ao se relacionar com Ariel. Mas, no fundo, ele tem um coração mole e acaba cedendo aos desejos da menina.”

Abravanel é responsável por momentos impagáveis do espetáculo, ao lado de Andrezza Massei, que vive a bruxa do mar Úrsula. Dona de inúmeros recursos do humor, ela tem agora um desafio no canto, ao ter de adequar sua voz a um tom mais grave. “Na verdade, são muitas as canções que puxam as notas”, completa Rodrigo Negrini, feliz por interpretar o príncipe Eric, seu primeiro papel como protagonista.

As canções são outro grande trunfo do musical, graças à delicadeza da melodia original, criada por Alan Menken. Uma das mais conhecidas é Under The Sea, comandada por Abravanel. “A batida quase faz lembrar o carnaval da Bahia”, conta ele, que ainda busca uma inspiração em Elvis Presley para a romântica Beijo Seu. Para isso, foi determinante a precisa tradução de Mariana Elisabetsky e Victor Mühlethaler. E, além dos protagonistas, o público vai confirmar o talento de Lucas Cândido (Linguado) e Elton Towersey (Sabidão), surpreendentes no humor e no canto.

A PEQUENA SEREIA
Teatro Santander. Shopping JK. Av. Juscelino Kubitschek, 2.041. 5ª e 6ª, 21h. Sáb., 16h e 20h. Dom., 15h e 19h. R$ 75/R$ 280. Até 29/7

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Ubiratan Brasil
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