Variedades
Na feira de Maastricht, artistas do País estão na mira de europeus
A abertura da Tefaf Maastricht 2018 para convidados, quinta, 8, confirmou a expectativa dos galeristas latinos participantes da feira holandesa sobre o crescente interesse do público colecionador europeu pelos artistas modernos e contemporâneos brasileiros. Concorrendo com pesos-pesados de todas as épocas, de Dürer a Picasso, passando por Rembrandt, Cézanne e Morandi, pintores como Volpi e Maria Leontina e escultores como Sergio Camargo passam a ocupar o imaginário europeu. Duas galerias ocupam a linha de frente nesta batalha pela arte latina e, mais particularmente, pelos artistas brasileiros: a uruguaia Galeria Sur e a Leon Tovar Gallery de Nova York. A primeira exibe três telas de Volpi, meta esquemas do artista neoconcreto Hélio Oiticica, uma tela de Maria Leontina e um desenho de Mira Schendel. O marchand Leon Tovar, que participa pela primeira vez da feira de Maastricht, ocupa seu estande com dois relevos do escultor Sergio Camargo, instalados ao lado de duas telas de Albers.
A proximidade de Sergio Camargo com as obras do pintor alemão foi pensada pelo marchand Leon Tovar como uma estratégia para atrair o colecionador europeu, que ainda pensa na arte latina como uma manifestação de caráter surrealista, distante do racionalismo geométrico europeu. “Sobretudo nos EUA, os colecionadores já se acostumaram a ver obras brasileiras mais arrojadas como as de Camargo, mas Maastricht é uma feira muito sofisticada, com colecionadores que sabem o que querem e de alto poder aquisitivo”, observa Tovar, atribuindo a redescoberta dos artistas construtivistas brasileiros ao interesse de museus como o MoMa de Nova York e a Tate Modern de Londres, que promoveram mostras de neoconcretos e artistas do abstracionismo geométrico latinos.
De fato, o dinheiro circula com facilidade numa feira como Maastricht, que reúne nesta edição nada menos que 275 marchandes, principalmente europeus, que vendem desde esculturas greco-romanas até pinturas pop de Andy Warhol e Basquiat, passando por móveis antigos, telas barrocas e joias históricas. Os dois relevos de Sergio Camargo oferecidos pela galeria de Leon Tovar, ambos dos anos 1970, custam de US$ 700 mil a US$ 3 milhões, cotação comparável a dos grande mestres europeus que foram seus contemporâneos. Um pequeno busto (pouco maior que um dedo) da escritora francesa Simone de Beauvoir, feito pelo escultor Giacometti, está sendo vendido pela galeria Maison dArt de Monte Carlo por 250 mil euros (aproximadamente R$ 1 milhão).
Pioneiro
Outro pioneiro que apresenta pela primeira vez Volpi ao público de Maastricht é o marchand uruguaio Martín Castillo, da Galeria Sur. “Fico feliz pelo fato de Volpi ser um dos highlights da feira deste ano, especialmente porque o público europeu poderá comparar o pintor brasileiro e os artistas locais”, diz. “Essa é uma das pinturas mais originais que conheço de um construtivista por vocação, que não teve formação erudita, mas que dialogou com a obra dos renascentistas italianos e dos modernos franceses sem perder sua matriz popular brasileira”, analisa Castillo, também entusiasta do modernista Di Cavalcanti. A Galeria Sur vai colocar à venda na próxima SP-Arte um imenso painel pintado por Di Cavalcanti en 1957.
Castillo revela que as vendas, em sua maioria, são feitas para colecionadores particulares na feira de Maastricht, o que explica a ausência de pintores como Volpi no acervo dos grandes museus europeus. “Os comitês que julgam as obras para ingresso nas coleções dos museus são muito conservadores”, analisa o proprietário da Galeria Sur. De fato, o que mais se vê em Maastricht, além das pinturas dos antigos mestres, são obras que já integraram acervos de grandes museus, como um estudo de O Grito, de Munch de 1895, ou um pequeno retrato de um dos filhos de Renoir, à venda por 1 milhão de euros na Macconnal Mason de Londres, menos da metade do valor de uma tela de Morandi na Galeria Kartsen Greve, oferecida por 2,5 milhões de euros.
*O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA FEIRA HOLANDESA
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Antonio Gonçalves Filho*
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