Variedades
Em ‘primeiro’ livro de contos, Luiz Ruffato observa impasses da classe média
Luiz Ruffato diz que A Cidade Dorme, sua nova obra, com lançamento nesta quinta-feira, 1.º, em São Paulo, é o seu primeiro livro de contos. Mas os gêneros literários nunca foram uma questão para o autor do inclassificável Inferno Provisório – a pentalogia dos anos 2000, um panorama literário sem igual da classe trabalhadora brasileira, reeditado em 2016 pela Companhia das Letras.
Nos contos de A Cidade Dorme, o escritor mineiro radicado em São Paulo retoma seus temas preferidos (as relações familiares e sociais do brasileiro de classe média e baixa) e a escrita inventiva que lhe consagrou como um dos principais prosadores brasileiros do século 21. O livro será lançado nesta quinta-feira, 1, às 18 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em SP.
Escritos e publicados em revistas, sites e fora do Brasil nos últimos 15 anos, os contos fecham um ciclo para o escritor, que agora se dedica a um novo romance, numa pegada próxima à do Inferno Provisório.
Romance
Esse próximo projeto será o segundo romance inédito após o marcante discurso na abertura da Feira de Frankfurt de 2013, com o Brasil como país convidado. No maior evento editorial do mundo, Ruffato criticou duramente a desigualdade na sociedade brasileira.
Em A Cidade Dorme, Ruffato traz trabalhadores urbanos e do interior, indo e vindo num movimento migratório interno que muitas vezes acaba sem sentido, segundo o autor e os próprios personagens. No livro, é possível perceber o deslocamento de personagens voltando de São Paulo, onde seus sonhos de uma vida melhor acabaram não se concretizando.
“Mudou a dinâmica nesse sentido, a cidade de São Paulo parou de crescer desde o último censo”, diz o autor, durante uma visita da reportagem ao seu apartamento, na zona oeste da capital. “Qual é o atrativo de São Paulo hoje? O grande atrativo era a indústria. Isso não existe mais. Agora, muita gente iludida sonha em se aposentar e ir morar no interior.”
Esse movimento experimentado por alguns de seus personagens, porém, também é instituído de pessimismo. “É um desastre completo. Esse interior ideal não existe.” Espécie de especialista no êxodo do trabalhador brasileiro para as grandes cidades, o autor conclui: “A busca vira um impasse”.
‘Efeito Ruffato’ pós-Frankfurt
Em 2013, na Feira de Frankfurt, Ruffato teceu duras críticas à desigualdade no Brasil. O discurso dividiu impressões e gerou o que agora é conhecido como “Efeito Ruffato”: o número de convites oficiais diminuiu na vida do escritor, e ele diz ter sido alvo de boicote de embaixadas brasileiras no exterior. “Não sou uma pessoa importante para que ainda exista esse tipo de bobagem”, diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Guilherme Sobota
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