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O agricultor e o engenheiro

23/08/2017
O agricultor e o engenheiro

O agricultor SEBASTIÃO CORREIA NUNES (Sebastião Cuscuz) e o engenheiro CARLOS ROBERTO ALBUQUERQUE DA SILVA (Carlos da Ultradata), ambos com a idade de 66 anos, são “palmeirenses” nascidos na Terra dos Xucurus. Tanto o Agricultor quanto o Engenheiro tinham algo em comum. Num primeiro plano, foram meus amigos íntimos. Num segundo plano, faleceram em dias diferentes num intervalo de 15 dias, após tratamento médico e internação hospitalar em Maceió. A mesma causa de morte de um também atingiu o outro, com enfermidade generalizada no pulmão, em razão da condição de fumante de tabaco (cigarros industrializados). Seres humanos políticos e sociais por sua natureza, como disse o filósofo Aristóteles. Eles nunca exerceram cargos públicos, mas tinham opiniões formadas sobre a política e os homens públicos.

O Agricultor ainda tentou, por várias vezes, ser eleito vereador no município, sendo vencido em sua pretensão. O Engenheiro nunca tentou exercer cargo eletivo, muito embora cogitasse ser útil à sociedade.

Tanto o Agricultor quanto o Engenheiro possuíam qualidades comuns. Os dois eram apaixonados por sua terra natal. O Agricultor se dedicava ao cultivo das plantas, lavrando, plantando e colhendo; cuidando de vacas, ovelhas, galinhas e outros animais. Acordando muito cedinho, quando o galo cantava e o sol começava a nascer, ele ia colher o leite das vacas, recolher os ovos das galinhas e dar de comer a todos os filhos e a esposa.

Era assim que o Agricultor iniciava seu trabalho do dia a dia. E não ficava só aqui, também ia ao campo pastorear, semear e plantar novas espécies no solo. Cuidar e tratar bem os animais eram outras atividades diárias, fazendo uso da força física e do saber empírico (conhecimento adquirido pela observação e pelo senso comum, baseado na experiência pessoal e dos outros, sem qualquer comprovação científica). Por vezes, passava da hora do almoço entretido pelos afazeres do campo. Nesse momento ele acendia um ou mais cigarros para passar a fome. Em casa comia um pequeno almoço quando lá chegava.

Depois do almoço continuava com os mesmos trabalhos ou com outros que fossem necessários naquele dia, como cavar, podar, ceifar, debulhar e muito mais. Ao fim da tarde voltava a cuidar das vacas, verificava o que ainda havia de fazer e voltava ao lar para descansar. Tudo isso era feito com dedicação e muita paixão, porque era um homem amante da natureza e gostava de andar ao ar livre, sem obrigação, seguindo seus próprios impulsos aonde quer que o leve.

O Engenheiro (que foi formado em Mecânica para projetar, construir e fazer manutenção de máquinas e equipamentos) não era diferente. Logo após deixar seus estudos superiores em Recife, muda de opinião e volta à sua Terra Natal. Em Palmeira dos Índios desenvolve, projeta e instala uma fábrica de lentes para a Loja de Óculos dos seus pais na Praça da Independência. Mas não se limitou a essa ideia. Em pouco tempo, por possuir conhecimento científico sobre Dinâmica e Estática,

Eletricidade e Eletrônica, Metrologia e Instrumentação, Desenho Técnico e Robótica, entre outras ciências afins, o Engenheiro alterou seus planos e criou a Empresa ULTRADADA, visando expandir o uso e o aproveitamento das máquinas computadorizadas no interior do Estado. Palmeira dos Índios foi primeira cidade interiorana de Alagoas a dispor de uma Loja para a venda de Microcomputadores.

O saudoso tabelião Luiz Fernando Barros foi o primeiro a adquirir um Micro na cidade e eu fui o seguinte usuário, graça a insistência do Engenheiro que, além de vender equipamentos também prestava ampla manutenção. Inclusive foi “escola” para outros que se especializaram na área da informática. Em razão da sua vida agitada e das preocupações diárias nunca se afastou do uso do cigarro, tal como o Agricultor.

No entanto, Sebastião e Carlos eram gentes especiais. Extremamente sensíveis e de características marcantes, capaz de tomar decisões rápidas e de agir com base nelas. Adeptos da improvisação e não da minúcia, viviam a vida, segundo suas opiniões. Homens de qualidades profundamente humanas, atraídos pelo amor da família e dos amigos. Apesar de mostrarem grosseiros e rispidamente francos em suas opiniões, eram acolhidos por todos. Embora levando vida privada e simples, compartilhavam seus sonhos e suas esperanças com poucos amigos íntimos. Eu fui um desses companheiros que gozaram das suas companhias e amplas discussões… Pensemos nisso! Por hoje é só.