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Agosto, mês do desgosto – 1ª Parte

09/08/2017
Agosto, mês do desgosto – 1ª Parte

Há muitos anos, desde criança, ouço histórias e estórias acerca do mês de agosto, como sendo o mês do cachorro louco e de coisas afins. Quando adolescente, ouvia o conselho dos mais velhos: “meu filho, numa sexta feira 13, nunca passe debaixo de uma escada, na qual um gato preto está deitado”. E sempre respeitei tal pedido, visto que é arriscado passar por baixo de uma escada, em qualquer lugar durante o dia ou a noite.

Porém, quanto ao “gato preto” debaixo da escada ou em qualquer lugar, eu os deixo para lá, porque são animais imprevisíveis, astutos e matreiros, que se esquivam. Afinal, não tenho nenhuma paixão por gatos, quer sejam pretos, brancos, cinzas, amarelos ou de qualquer cor. Existem outros animais que me agradam mais, como, por exemplo, os cães. Afinal, tudo é uma questão de afinidade. Nada tenho contra os “gatos”, desde que eles não me ataquem…

Quanto ao mês de Agosto eu tenho algumas restrições. È um mês fatídico, emblemático, misterioso, pois sua origem é conflituosa. O mês de Julho, que possui 31 dias do ano, ingressou em nosso calendário no sétimo mês do ano como sendo julius, em substituição ao antigo mês quintilis, por ato de uma homenagem do cônsul Marcos Antônio ao seu rei Júlio César, por volta de 45 anos antes de Cristo. A homenagem imposta pelo Senado Romano em louvor ao seu rei (que não é o nosso rei) resultou na tragédia do ano seguinte, quando Sua Majestade, o rei JÚLIO CÉSAR, foi assassinado a golpes de punhais e adagas por BRUTUS, seu leal amigo, liderando seus opositores.

Ora, Augusto César, o primeiro dos imperadores romanos, depois da morte do rei Júlio César, que antes fora comandante-chefe do exército romano e conquistador de novas terras, por pura vaidade e abuso de poder, resolveu se auto promover e exigiu que o Senado Romano alterasse o calendário para substituir o mês sextilis, depois do mês de julho, para incluir o mês de augustus, exigindo, também, que este mês teria 31 dias, igual ao mês de julho, data dedicada às homenagens a Júlio César.

E, para tanto, o imperador romano mandou retirar um dia do mês de fevereiro. Tudo isso aconteceu por volta de 24 anos antes de Cristo.
Assim, desde sua origem, entende-se que Agosto é um mês que usurpa datas comemorativas, que impõe sua vontade, que inibe os outros meses, que causa danos e desgostos à natureza e aos homens.

Veja, por exemplo, é o mês que mais possui comemorações notáveis. È no mês de agosto que se comemora o folclore (a arte que “estuda tudo o que constitui o equipamento mental do povo desde que distinto da procedência técnica. Não é a forma do arado que chama a atenção do folclorista, mas os “ritos” praticados pelo lavrador quando o faz penetrar no solo; não é a manufatura da rede ou do arpão, mas os “tabus” observados pelo pescador quando está no mar”, segundo o livro Handbook, da Folklore Society, de Londres, publicado em 1913).

Portanto, é o mês das lendas, das superstições, das danças e dos cânticos populares. Também é o mês da Amamentação, do Tintureiro, do Padre, da Saúde, da Televisão, do Advogado (embora eu discorde desta homenagem nesse mês), do Estudante, do Garçom, Consciência Nacional, do Hoteleiro, da Pintura, do Magistrado, dos Pais, das Artes, do Economista, dos Encarcerados, do Pensamento, do Protesto, da Unidade Humana, dos Solteiros, do Patrimônio Histórico, da morte (Assunção) de Nossa Senhora, do Fotógrafo e da Fotografia, das Vocações Religiosas, da Habitação, dos Artistas, do Aviador Naval, da Infância, do Feirante, do Soldado, dos Catequistas, do Psicólogo, do Corretor de Imóveis, do Bancário, da Avicultura, do Combate ao Fumo, do Nutricionista, entre outras datas. Entre as datas religiosas, destaca-se o martírio de São Bartolomeu, apóstolo, cujo dia é comemorado em 24 de agosto.

No mais, foi no dia 24 de agosto de 1572 que a rainha Catarina de Medici ordenou o massacre de São Bartolomeu, que ceifou milhares de vidas humanas. Por sinal, no Brasil, o dia 24 de agosto é o dia de todos os “Exus” (espíritos do mal) nos candomblés brasileiros.
Portanto, agosto é um mês marcado por grandes tragédias.

O mês do azar e dos desgosto. Em agosto sempre aconteceram episódios marcantes e inesquecíveis. Senão vejamos: no dia 14 de agosto de 1831, os poloneses foram vencidos pelos russos na chamada revolta de Varsóvia e muita gente morreu sonhando com a liberdade; no dia 14 de agosto de 1844, a França invadiu Marrocos; no dia 11 de agosto de 1863 a França dominou o Cambodja; no dia 6 de agosto de 1890, na cidade de Nova York, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica, onde o Estado assumiu o papel de Senhor da Vida e da Morte; em 24 de agosto de 1910, o Japão invadiu a Coréia, à custa de muito sangue e de muitas lágrimas; no dia 1º de agosto de 1914, começou a 1ª Grande Guerra Mundial…

No Brasil, agosto é considerado o mês do azar em decorrência do suicídio do presidente Getúlio Vargas, ocorrido no dia 24 (ano de 1954). É o mês do desmancha-prazeres. Foi no mês de agosto, no dia 22 (ano de 1981), que partiu para a eternidade o compositor Raul Seixas, que cantava: “… a civilização se tornou tão complicada, que ficou tão frágil feito um computador, que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles… com um só palito pára o motor…”. Mas, essa é uma outra história! Pensemos nisso. Por hoje é só!