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Homossexual não é crime

17/05/2017
Homossexual não é crime

Conheci muito bem o Padre Antônio, vigário da minha Paróquia. Ele era e ainda é mais ortodoxo do que eu. Quando lhe emprestei o Livro “Evangelhos Apócrifos” para ele ler e aplicar seu conteúdo como suplemento nas suas homilias, ele não se mostrou interessado. Disse-me: “os livros canônicos são verdadeiros e devidamente reconhecidos pela Santa Igreja”. Mas, “por curiosidade, vou ler este livro”. Por sinal, o Reverendo ainda está de posse dessa obra.

Qual não foi a minha surpresa quando vi, li e ouvi comentários acerca da sua relação íntima com dois jovens (maiores de idade) em quarto de um Motel. Minha indignação não foi contra a opção sexual do Sacerdote. Aliás, eu conheço várias autoridades civis, militares e eclesiásticas que são homossexuais em nosso estado e em todo território nacional. No entanto, essas pessoas vivem de forma discreta, sem exibicionismo e sem alarde. Muitas dessas personalidades possuem vida em comum com seus amados ou amantes (pouco importa o emprego correto da palavra). A minha indignação foi contra a imprensa falada, escrita e televisionada que não poupou críticas ao Padre Antônio, expondo a “fragilidade” dos pastores da Igreja Católica.

Ora, se a imprensa comentasse a respeito da “infantilidade” e da “ingenuidade” do sacerdote em deitar numa cama de Motel com alguns jovens (por sinal, adultos), eu até que admitiria tal censura, visto que um vigário é uma autoridade pública, que deve manter uma atitude moral irrepreensível, regrada pelo bom comportamento social. E como “bom comportamento social” entendo ser alguém recatado, ordeiro, humilde e discreto.

O exibicionismo exacerbado e provocador não asseguram um bom comportamento social. Afinal, um pároco, vigário, bispo ou simples sacerdote ou pastor é uma “vitrine”, que está sempre vigiada, observada, analisada e censurada. Portanto, uma autoridade religiosa, civil ou militar em geral diante da sua comunidade ou da sociedade local deve ser alguém que dê bons exemplos e mantenha conduta exemplar, para servir de modelo a ser seguido pelas crianças, pelos adolescentes, pelos jovens e até mesmo pelos adultos, na sua vida social e dentro ou fora da sua atividade profissional.

A decisão da Diocese em divulgar Nota Oficial informando a abertura de processo canônico em desfavor do Reverendo para fins de justificar a perda do seu cargo como Vigário da Catedral é necessária e oportuna, pois, a comunidade local exige tal atitude do Chefe da Igreja. Mas, por outro lado, não se justifica a “caça às bruxas” por parte da imprensa nacional e por alguns membros da Igreja Cristã, visto que o homossexualismo não é Crime no Brasil. O que verdadeiramente é crime, a ser combatido e eliminado no país é o Crime de Pedofilia, em que envolve abusos sexuais contra crianças e adolescentes.

No novo ordenamento jurídico da nação “homossexualismo” não é mais escândalo na vida diária do brasileiro. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a homossexualidade como algo natural, desde que respeitado o pudor público. Poucos são os países que ainda criminalizam as relações sexuais entre seres do mesmo gênero. No Brasil, inclusive, a norma constitucional e infraconstitucional assegura a União Estável e, até mesmo, o Casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O Código Penal brasileiro já retirou do seu contexto a Prostituição e o Homossexualismo como delitos criminosos. O Brasil, por decisão do Supremo Tribunal Federal, já admite o ingresso de homossexuais nas Forças Armadas, assim como reconhece o direito do homossexual em casar e adotar crianças, pela via judicial, entre outras conquistas.

Mas, por vivermos em país com regime democrático, livre de preconceitos e de injustiças, tanto não se deve alimentar a “homofobia” (repúdio ao homossexual) como também não se deve “discriminar” as pessoas que possuem opiniões contrárias ao homossexualismo. O que se pune e deve se reprimir é a discriminação à pessoa que não se comporta de maneira ordeira e educada. A vida privada da pessoa, tal como a honra, a dignidade, a liberdade e o direito de opção sexual só interessa a cada cidadão.

Entendo, pois, sob a luz da lógica e do bom senso que a “punição” do padre Antônio deve se restringir apenas a perda do cargo público de Vigário da Paróquia e não se exceder a “expulsão” do mesmo da vida sacerdotal, isto porque: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec” (Hebreus, 5:6)… Pensemos nisso! Por hoje é só.