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O pai da rádio educativo
Por ter escrito o livro “Rondônia – Antropologia etnográfica”, em torno de 1917, Edgard Roquette-Pinto, que estudou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tornou-se um dos maiores antropólogos brasileiros, um clássico. Seus estudos demonstraram que nossa miscigenação não produziu tipos raciais degenerados ou inferiores.
Ao contrário, suas pesquisas provaram que a população mestiça brasileira era saudável, contrariando certos estigmas aqui deixados por viajantes estrangeiros e até mesmo alguns estudiosos locais. De acordo com Roquette-Pinto, o nosso grande problema não era a raça, mas sim as questões sociais e políticas, com destaque para a falta de educação e saúde pública. O grande cientista fez parte da Missão Rondon, em1912, tendo passado várias semanas em contato com os índios nambiquaras, que até então praticamente nada conheciam da nossa civilização.
Roquette-Pinto foi diretor do Museu Nacional da UFRJ em 926, organizando a maior coleção de filmes científicos do país. A propósito, criou, em 1932, no governo Vargas, o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), trabalhando com o diretor Humberto Mauro, que filmou mais de 300 documentários entre 1936 e 1964. A sede do INCE, de saudosa memória, era na Praça da República.
Talvez a obra de maior destaque de Roquette-Pinto tenha sido a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do país, que é hoje a Rádio MEC, que ele doou ao governo brasileiro, em 1936, especificamente ao MEC. Os seus equipamentos foram comprados pela Academia Brasileira de Ciências, em 1922. Uma pena que hoje esteja transmitindo apenas em FM, portanto com limitações de audiência. Ele foi também um grande e apaixonado radioamador. Ao se despedir do comando da emissora que criara, sussurrou, chorando, no ouvido da filha Beatriz: “Entrego essa rádio com a mesma emoção com que se casa uma filha.”
Na Academia Brasileira de Letras foi o terceiro ocupante da cadeira nº 17. Foi eleito em 20 de outubro de 1927, na sucessão de Osório Duque-Estrada (um dos autores do Hino Nacional). Foi saudado pelo acadêmico Aloísio de Castro em 3 de março de 1928. Recebeu os acadêmicos Afonso Taunay em 6 de maio de 1930, e Miguel Osório de Almeida em 23 de novembro de 1935.
Voltando ainda ao rádio educativo, deve-se enfatizar que o Rio de Janeiro recebeu, no ano do primeiro centenário de Independência, uma grande feira internacional.
Alguns americanos trouxeram para a Cidade Maravilhosa uma antena que instalaram no pico do morro do Corcovado, onde hoje se situa o Cristo Redentor. Fez-se então a transmissão radiofônica de um discurso do presidente Epitácio Pessoa, captado em Niterói, Petrópolis e até em algumas cidades de São Paulo. Ficou célebre a reação de Roquette-Pinto: “Eis uma máquina importante para educar nosso povo.”
Alguns historiadores, no entanto, registram a precedência de outra forma: a primeira emissão radiofônica do Brasil teria ocorrido no Recife, com a Rádio Clube de Pernambuco, em 6 de abril de 1919, noticiada no dia seguinte pelo “Jornal do Recife”, órgão já extinto.
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